Por: André | 29 Setembro 2012
Na manhã da revolução do Nilo, em 2011, 100.000 coptas teriam escolhido o exílio, segundo Naguib Gébraïl, presidente da União Egípcia dos Direitos Humanos. Em questão, a crescente islamização da sociedade. Os cristãos têm o sentimento de ser considerados como cidadãos de segunda categoria, discriminados no acesso ao emprego ou à propriedade. A chegada ao poder, no dia 24 de junho, da Irmandade Muçulmana, organização islâmica, exacerbou os medos dos cristãos. Henri Boulad, jesuíta de Alexandria, vice-presidente da Cáritas do Egito, explica porque escolheu permanecer no país, apesar das tensões.
A entrevista é de Marion Touboul e está publicada na revista francesa La Vie, n. 3497, de 06 a 12-09-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O presidente Mohamed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, multiplica as mensagens para tranquilizar os cristãos. O que pensa disso?
A Irmandade Muçulmana é mestra na arte de mentir. Eles se servem para isso da taqiya, uma noção presente no Corão que autoriza um muçulmano a mentir para o bem do Islã. Esta duplicidade é muito perigosa. Não podemos de maneira alguma dar-lhes confiança.
Há mais agressões depois da chegada ao poder da Irmandade Muçulmana?
Sim, elas são diárias. Há alguns dias, em Alexandria, um táxi recusou pegar uma religiosa porque ela era cristã. Temos motivos para nos inquietar em relação ao futuro quando vemos o atual governo discutindo a possibilidade de incluir a vida de Hassan El-Banna (fundador da Irmandade Muçulmana) como conteúdo nos programas escolares. Mais ainda que ao lado da Irmandade Muçulmana, há também no Egito um aumento do número dos salafistas, muito mais extremistas. Eles dizem bem alto o que outros pensam na surdina, porque eles são menos educados. Podemos dizer que a islamização da sociedade egípcia aumenta diariamente.
Que margem de manobra resta aos cristãos?
Eles devem se aliar aos muçulmanos moderados, aos liberais. Com o tempo, penso que assistiremos a uma clivagem entre cristãos e liberais, de um lado, e waabitas (fundamentalistas próximos ao regime saudita) e Irmandade Muçulmana, do outro. Porque as primeiras vítimas da islamização são os muçulmanos moderados. Eu participei, por exemplo, de uma reunião em que um xeique da Ashar (instituição de referência para o islã sunita) estava furioso com os propósitos da Irmandade Muçulmana. O problema é que cristãos e muçulmanos liberais não chegam a formar um bloco. Diante disso, a Irmandade Muçulmana é muito poderosa. Eles detêm o exército, o Parlamento, eles têm o país na mão. Os jornais independentes são ameaçados de fechamento. Estou, portanto, pessimista no curto prazo, mas otimista no longo prazo, porque creio na vitória dos liberais.
Você tem, no seu entorno, em Alexandria, famílias cristãs que querem se exilar?
Sim, cada domingo ouço dizer que esta ou aquela pessoa deixou o país. Eu os aconselho a se engajarem a fundo do lado dos muçulmanos liberais. Muitos o fazem, o que me permite hoje ter esperança.
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“Porque permaneço no Egito”. Testemunho de Henri Boulad, padre jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU