Por: Jonas | 14 Setembro 2012
Na última quarta-feira, o presidente do Peru, Ollanta Humala (foto), criticou o Governo do ex-mandatário Alberto Fujimori e as administrações anteriores por “terem dormido sobre o triunfo de capturas importantes” e reconheceu que uma organização herdeira do Sendero Luminoso, o Movimento para a Anistia e os Direitos Fundamentais (Movadef), continua se “infiltrando nas organizações sociais e sindicatos”.
A reportagem é de Jacqueline Fowks, publicada no jornal El País, 12-09-2012. A tradução é do Cepat.
Treze meses após ter assumido o poder, o mandatário concedeu sua primeira coletiva de imprensa com os meios de comunicação estrangeiros, momento em que se completam 20 anos da captura de Abimael Guzmán, líder-fundador do grupo subversivo marxista-leninista, cuja ideologia se denominava “Pensamento Gonzalo”.
A data coincide com revelações sobre a operação que permitiu a prisão de Guzmán, em 12 de setembro de 1992. Durante duas décadas, o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) e seu grupo político se atribuíram o crédito, mas, no último final de semana, ex-membros do Grupo Especial de Inteligência (GEIN) – que descobriram os esconderijos da cúpula senderista – revelaram que o então chefe de Estado e seu ex-assessor Vladimiro Montesinos não estiveram a par da operação, tampouco apoiaram seu trabalho, e depois da captura ordenaram o desmantelamento desse corpo de elite.
Montesinos e Fujimori não gostaram que um grupo policial prendesse seu maior inimigo, em demérito do Grupo Colina, um esquadrão paramilitar formado por seu governo para operações contrassubversivas e que utilizava a tortura, os desaparecimentos e os homicídios como parte de seu trabalho.
Durante a coletiva de imprensa, Humala criticou – pela primeira vez em sua condição de presidente – a politização das Forças Armadas durante os anos 1990, quando Fujimori, hoje preso, era capitão do Exército e governava o país. Humala só havia atacado o fujimorismo durante a campanha eleitoral, em inícios do ano passado.
“Quiseram fazer das Forças Armadas um partido político, com a assinatura de cartas de sujeição. Utilizaram essa captura (de Guzmán) com fins eleitorais, criaram o Grupo Colina para fazer terrorismo de Estado”, afirmou o presidente no Palácio de Governo.
Marco Miyashiro e o coronel Benedito Jiménez, policiais aposentados e ex-membros do GEIN - responsáveis da Operação Vitória, de 12 de setembro de 1992 -, apontaram num documento, divulgado domingo passado, que sua equipe enfrentou a cúpula senderista sem derramamento de sangue, com trabalhos de acompanhamento e inteligência. Outro ex-membro do GEIN, o comandante Guillermo Bonilla, indicou que não se deve cometer o mesmo erro, em “deixar a luta contra o terrorismo apenas nas mãos das forças de ordem”.
Nesta última quarta-feira, o Chefe de Estado defendeu o projeto de lei do “negacionismo” – que pune aqueles que almejam minimizar os crimes de grupos terroristas – para tentar conter a atividade política do Movadef, que capta seguidores em universidades e grupos com demandas sociais nas cidades. O Movadef, que tem entre seus líderes dois advogados de Guzmán, tentou se inscrever como agrupamento político legal, no início do ano, mas não conseguiu. Sua força foi mais notória entre julho e agosto, durante as mobilizações regionais de professores estatais, porque dividiu o Sindicato Único de Trabalhadores da Educação do Peru (Sutep) com um organismo paralelo, cuja sigla é Conare.
Enquanto isso, um remanescente do Sendero Luminoso, que opera numa área entre a serra central e a mata do país, o vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro, continua atacando as patrulhas das Forças Armadas e a polícia, onde persistem os enfrentamentos.
Apesar de o Governo apresentar como uma conquista o fato de, nos últimos três meses, ter resgatado 15 crianças de acampamentos senderistas, nesta última quarta-feira, um cidadão denunciou a morte de uma criança de 9 anos. Ela foi baleada em sua casa durante uma operação contrassubversiva, no departamento de Junín. Após esse episódio, a primeira-dama Nadine Heredia foi fotografada com três menores resgatados.
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“A luta contra o terrorismo não pertence ao passado”, afirma Humala - Instituto Humanitas Unisinos - IHU