Por: Cesar Sanson | 02 Agosto 2012
Há cinco anos, em julho de 2007, o Conselho de Segurança da ONU decidiu enviar tropas de paz a Darfur. Fora dos olhos do mundo, o conflito continua nesta região do Sudão.
A reportagem é de Adrian Kriesch e publicada pelo sítio Deutsche Welle, 01-08-2012.
Há nove anos que a região de Darfur, no Sudão, vive em guerra. Mas o conflito só ganhou lentamente o interesse da opinião pública mundial quando fotos dos janjawid rodaram o mundo. Essas milícias montadas em camelos fazem caça a oposicionistas e civis com apoio do governo sudanês. Mas só no final de 2007, quando as Nações Unidas estimou o número de mortos no conflito em 300 mil pessoas, a ONU enviou a Darfur tropas de paz com 20 mil homens.
"Hoje a situação não é melhor", diz Anne Bartlett. A professora de Sociologia da Universidade de Chicago acompanha o conflito em Darfur há anos, tem participado de negociações da ONU e dirige uma ONG que promove o desenvolvimento sustentável na região. "A missão de paz fracassou em seu objetivo de proteger as pessoas", critica Bartlett. Ela é a favor de que o contingente de soldados de paz da ONU seja aumentado. "A maioria das organizações de assistência foi retirada de Darfur por razões de segurança. Quase não existem suprimentos humanitários e proteção. A situação piorou consideravelmente, em minha opinião."
Lutas em muitas frentes
A situação em Darfur é complexa. Inicialmente, sobretudo grupos rebeldes lutavam contra o governo sudanês e as milícias financiadas por ele, querendo uma maior participação no Estado. Hoje, existem várias frentes de batalha. Os grupos rebeldes continuam travando combates contra o governo.
Contudo, mesmo entre os diferentes grupos étnicos rebeldes há lutas por território e influência política. E entre agricultores e nômades acumulam-se as disputas por recursos naturais. Além disso, quadrilhas criminosas operam em Darfur.
Especialistas criticam o governo sudanês, acusando-o de sabotar o processo de paz por não querer abdicar de parte do poder. O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra o presidente sudanês, Omar al-Bashir, acusado de genocídio em Darfur. O secretário de Estado do Ministério do Exterior sudanês, Rahmat Allah Mohammad Othman, sustenta que o mandado é politicamente motivado. Além disso, afirma que a situação humanitária não se deteriorou. "Eu mesmo estive há duas semanas em Darfur. Ninguém protestou sobre a situação humanitária lá ", disse Othman em entrevista à Deutsche Welle. "Alguns parecem confundir Darfur com outros países ou outras partes do Sudão."
Duras negociações de paz
Ele também rebate os rumores de que o Sudão continuaria despachando armamentos para Darfur, apesar de um embargo das Nações Unidas sobre o fornecimento de armas. O emissário especial da ONU e chefe da missão em Darfur, Ibrahim Gambari, escolhe palavras diplomáticas, em entrevista exclusiva à Deutsche Welle.
"É óbvio que há as armas em jogo, enquanto o governo continuar combatendo grupos armados", disse o diplomata. Gambari sabe como lidar com líderes autocráticos. Ele foi funcionário do governo do presidente nigeriano, Sani Abacha, foi convidado de casamento do presidente Idriss Déby, do Chade, e negociou em nome da ONU com o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, e com o ex-chefe de Estado de Mianmar, Than Shwe. Ele afirma que um pré-requisito para o sucesso nas negociações de paz é, antes de tudo, que todos os envolvidos suspendam os combates. "E o único caminho é um acordo de paz abrangente, que envolva todos os partidos e seja respeitado tanto pelo governo quanto pelos grupos armados", afirma.
Variedade de grupos dificulta negociações
As negociações de paz estão sendo extremamente difíceis. No lado rebelde, há vários grupos com diferentes interesses e ideologias. Em 2011, foi assinado um acordo de paz, mas apenas por um grupo de rebeldes e pelo governo. Ibrahim Gambari, no entanto, está convencido de que as Nações Unidas continuarão a mediar as negociações, e que o mandato será prorrogado pelo Conselho de Segurança por mais um ano.
Entretanto, ele não apoia as reivindicações por mais tropas da ONU em Darfur. "A situação de segurança melhorou em muitas áreas de Darfur", diz o nigeriano. "Podemos, portanto, reduzir o número de soldados, sem com isso reduzir nossa participação nos esforços de segurança em Darfur."
Cerca de 26 mil homens da ONU estão agora estacionados em Darfur, na maior missão de paz atualmente em ação no mundo. Só nos próximos meses será possível avaliar se a ideia "menos soldados por mais segurança" corresponde à realidade.
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Conflito de Darfur prossegue, longe da atenção mundial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU