22 Junho 2012
Duzentos clérigos da diocese alemã de Friburgo assinaram o abaixo-assinado online defendendo a legitimidade da Comunhão àqueles que, depois de terem rompido o vínculo matrimonial, se casaram novamente. Na Áustria, a Iniciativa dos Párocos pede o sacerdócio também para quem não é mais célibe ou solteiro.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 21-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os padres alemães se rebelam contra o Vaticano. Duzentos padres e diáconos da Diocese de Friburgo assinaram um abaixo-assinado na internet, defendendo a legitimidade da Comunhão aos divorciados em segunda união. O lugar é simbólico. A diocese de Friburgo é dirigida pelo arcebispo Robert Zollitsch, presidente da Conferência Episcopal Alemã. É como se, em Gênova, sede do cardeal Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, duzentos sacerdotes comunicassem oficialmente que irão dar a hóstia aos fiéis que vivem em um segundo casamento.
Em Friburgo, os duzentos contestadores declaram que, para com os divorciados em segunda união, é preciso usar de "misericórdia" e não escondem a sua escolha: "Nas nossas comunidades, os divorciados em segunda união participam da Comunhão com o nosso consentimento. Eles estão presentes no conselho paroquial e participam de outros serviços pastorais".
É uma contestação frontal às instruções vaticanas, mas acima de tudo uma revolta contra a inércia do pontífice que há anos – ainda como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – se ocupava da questão e nunca tomou uma decisão para superar uma proibição que afeta dolorosamente justamente os fiéis mais assíduos.
Em Friburgo, o vigário-geral da diocese tentou persuadir o clero a não assinar ou a retirar o consenso. Apenas dois dos signatários o ouviram. Na realidade, por trás do abaixo-assinado, há uma galáxia de padres em toda a Alemanha, mas também em muitas partes do mundo. Incluindo a Itália, onde muitos párocos não se insurgem contra os divorciados em segunda união negando-lhes a Eucaristia.
Stephan Wahl, um dos padres mais conhecidos na Alemanha por ter pregado o evangelho na televisão durante 12 anos no popular programa "A palavra do domingo" (Wort am Sonntag), comentou de forma significativa: "Como católico e como sacerdote, é insuportável para mim que, segundo a atual normativa (eclesiástica), é mais fácil que um sacerdote culpado de abusos possa distribuir o sacramento (da Eucaristia) do que um divorciado o receba".
Os padres manifestantes alemães reafirmam que estão bem conscientes de que estão "agindo contra as normas canônicas atualmente em vigor na Igreja Católica Romana", mas defendem que, com base no atual Código de Direito Canônico, o princípio supremo pelo qual é preciso se orientar é a “salvação das almas”. Por isso, reiteram: "Consideramos como urgentemente necessário uma nova normativa canônica para os divorciados em segunda união".
O próprio Ratzinger, como teólogo, era da opinião de que, perante um primeiro casamento, "que se rompeu há muito tempo e de maneira irreparável", e à luz de uma segunda união que se revelou, ao longo dos anos, como uma "realidade ética", era certo – com o testemunho do pároco e da comunidade – "conceder a Comunhão àqueles que vivem um segundo casamento desse gênero". Era o ano de 1972 quando Ratzinger defendia teses desse tipo.
Desde então, o pontificado de João Paulo II e o de Bento XVI bateram obsessivamente sobre a tecla da indissolubilidade do matrimônio, rejeitando qualquer solução. Embora – como assinalou o escritor católico Vittorio Messori durante a Jornada da Família de Milão, abençoada pelo papa – o catolicismo seja a única dentre as confissões cristãs e as religiões mundiais a negar a possibilidade do divórcio. É inútil falar, a propósito, de uma suposta "lei natural".
O presidente do episcopado alemão, Zollitsch, apesar de ser atacado por sua vez pelos padres tradicionalistas reunidos na Rede de Sacerdotes Católicos, decidiu, depois de alguma hesitação, receber uma delegação dos contestadores. Ela deveria ocorrer nessa quinta-feira.
Uma atitude muito diferente da do cardeal Scola, que – conforme relatado pela agência Adista – impediu, em janeiro passado, que o conselho presbiteral de Milão inserisse na agenda de discussões a mera análise e discussão do tema "divorciados em segunda união e acesso aos sacramentos".
Depois de uma clara intervenção contrária do cardeal, a proposta apresentada pelos sacerdotes Aristide Fumagalli e Giovanni Giavini obteve sete “sim”, 13 “não” e 27 abstenções (um sinal evidente de como muitos padres esperam uma indicação do alto para finalmente falar livremente).
O caso de Friburgo é apenas a ponta do iceberg da insatisfação pelo impasse total de qualquer reforma. Os padres austríacos já se mobilizaram com a Iniciativa dos Párocos. Eles pedem a reforma da Igreja, o fim do acúmulo de paróquias confiadas a um único pároco, o acesso ao sacerdócio de mulheres e pessoas casadas.
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Friburgo: padres pedem reforma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU