18 Março 2012
"Os profetas da natureza são os portavozes da mãe terra", atesta Antonio Cechin, irmão marista e miltante dos movimentos sociais, autor do livro Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação. Porto Alegre: Estef, 2010.
Segundo ele, "quando respeitamos a natureza colocando o lixo no lixo, indo ao encontro de catadores e carrinheiros que trabalham na despoluição do planeta, preservando os mananciais hídricos que são os rios como caminhos de água rumo a lagos e mares, sem as imundícies de fábricas e esgotos que neles jogamos, a natureza agradece".
Eis o artigo.
No jornal Zero Hora do dia 14/03/2012, três manchetes, uma embaixo da outra, a fim de forçar a curiosidade do leitor: Profecia no Pampa / Os adeptos do fim do mundo / Em cidade da Serra, prefeito e seguidores acreditam que tsunami com ondas de 120 metros vai devastar parte do Estado.
Nem é necessário perder tempo com a leitura do corpo da notícia. Trata-se de mero sensacionalismo, tirando proveito de um falso profeta – o prefeito de São Francisco de Paula, Luiz Henrique Valim dos Santos – e de uma falsa profecia que a população da cidade trata assunto como brincadeira.
De cara, em se querendo falar de Profetas, temos que imediatamente distinguir duas categorias: os autênticos e os falsos. Os falsários não passam de charlatães e enganadores. Os autênticos, segundo a Sagrada Escritura, são os Profetas que conseguem ler os Sinais dos Tempos. O Papa João XXIII, em suas cartas-encíclicas, sempre apelava para os sinais dos tempos que destacava na conjuntura do mundo.
Ninguém, por exemplo, profetizou a peste do gado que se abateu há duas ou mais dezenas de anos atrás, sobre o continente europeu designada como da vaca louca. Na ocasião, recortamos a notícia do jornal e a enviamos ao coordenador da Comissão Pastoral da Terra aqui no estado: o padre João Schio, pároco da cidade de Antônio Prado porque sabíamos de seu pioneirismo em agricultura ecológica com a assessoria de uma mulher de nome Guazelli.
Schio nos agradeceu o recorte. De imediato, na Comissão Pastoral da Terra foi aprovada a primeira Romaria do estado, com tema ecológico, tendo sido escolhida para sua realização a cidade de Antônio Prado. O grupo teatral da paróquia, reuniu seus artistas. Arregaçaram as mangas, se debruçaram sobre a praga da vaca louca, complementada com notícias numa seqüência de dias, sobre a evolução do mal. Compuseram linda peça teatral que foi apresentada à massa dos romeiros.
Mais de 30 mil pessoas se fizeram presentes na véspera da quarta feira de cinzas na grande peregrinação a Antônio Prado para saber tudo sobre agricultura ecológica e sobre as precauções a ter em relação à criação de gado vacum a fim dos pequenos agricultores evitarem a iminente ameaça da terrível doença e que dizimaria os rebanhos.
Levaram os romeiros para casa a mensagem dessa primeira romaria de caráter ecológico do nesses termos autenticamente proféticos:
“Tu vieste a esta Romaria da Terra a fim de somar com milhares de outros romeiros, em favor de uma agricultura ecológica. Afirmar o repúdio aos agrotóxicos, poluidores não só dos alimentos, mas de toda e qualquer água potável, desde as nascentes de rios e riachos da superfície, até os profundos lençóis freáticos.
Além de humanitária, esta luta é profundamente cristã. É através de água derramada na cabeça, no batismo, que se passa a pertencer à Igreja. Os cristãos de todas as Igrejas sabem que Jesus, o Mestre dos mestres, entrando nas águas do rio Jordão para ser batizado, santificou todos os rios do mundo.
Além disso, os católicos têm, na devoção a Nossa Senhora Aparecida, mais um grande apelo em relação aos rios. Uma imagem quebrada de Maria, fora jogada fora, como lixo, dentro do rio, na época da escravidão. A Mãe de Jesus deu então um SINAL: não quis que uma imagem sua fosse lixo, a poluir as águas de um rio brasileiro. Moveu três pescadores a que a catassem de rede e a reciclassem, voltando a ser estátua homenageada como SENHORA APARECIDA DAS ÁGUAS. Com esse sinal quis não só todos os rios limpos, mas principalmente, gritou contra a escravidão dos negros, tratados pior que lixo, assumindo ela mesma a negritude e invocada como MÃE OXUM, Rainha de todas as águas doces: fontes, cascatas e rios. Desde as nascentes, a água dos mananciais gaúchos, através de riachos e rios desencadeiam uma grande e solene Procissão rumo ao Estuário do Guaíba.
Oxalá na entrada do 3° milênio da era cristã, possamos celebrar juntos, os que moram perto das nascentes, no alto da serra, junto com os ribeirinhos das planícies em que deslizam córregos e rios, a grande PROCISSÃO FLUVIAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA - cuja festa é a 12 de outubro - por sobre um GUAÍBA DE ÁGUAS CLARAS e LIMPAS.
Estava assim lançada a Romaria das Águas para acontecer, durante um setenário, isto é de 1994 até o ano 2000, em preparação da entrada no novo milênio de uma nova era: a da Ecologia ou seja, de uma comunhão harmônica entre todos os seres viventes e não viventes com a Mãe Terra, a Pachamama das populações indígenas, historicamente as mais respeitadoras da natureza que já existiram. Concluídos os sete anos constatou-se que o Planeta estava ainda mais doente do que se encontrava quando as romarias das Águas haviam sido inauguradas. Resolveu-se então continuar sempre a fazer apelos anuais com vistas à saúde de Gaya, nossa Mãe Terra”.
Nosso ecologista maior, José Lutzemberger, antes de morrer depois de ter vivenciado a peste da “vaca louca” na Europa, numa de suas últimas palestras, profetizou para o mundo: “preparem-se!... Depois da “vaca louca,” vem aí a galinha louca. Não deu outra. Esta nos veio da Ásia. Se nosso LUTZ tivesse vivido mais um pouco teria também anunciado com os sinais provindos da natureza: vem aí, agora, o porco louco. Fato que desta vez aconteceu nos Estados Unidos, fronteira com o México, através da peste suína.
É sempre a natureza dando gritos e ais, devido à inobservância de alguma de suas leis saídas da palavra do Criador. Onde é que se viu, no caso da vaca louca, alimentar bois e vacas com matérias de origem animal, como rações fabricadas á base de ossos, nervos, chifres, cascos moídos?
Quando respeitamos a natureza colocando o lixo no lixo, indo ao encontro de catadores e carrinheiros que trabalham na despoluição do planeta, preservando os mananciais hídricos que são os rios como caminhos de água rumo a lagos e mares, sem as imundícies de fábricas e esgotos que neles jogamos, a natureza agradece.
Os que estiveram em Pantano Grande, na Fundação Gaya, para a cerimônia de enterro do fundador da instituição ecológica, nos contaram que quando o corpo do Lutz desceu à sepultura somente envolvido num lençol, por desejo expresso em testamento pelo grande amigo da natureza, desabou uma terrível tempestade que provocou até a queda de um enorme eucalipto bem aos pés da sepultura. Foi o jeito que a natureza adotou para homenagear quem tanto fez pela sua preservação. Tal cena foi muito parecida com a que vem descrita na Bíblia por ocasião da morte do Homem Jesus de Nazaré, quando todo o universo entrou em convulsão com terremotos e vendavais. Até o imenso véu do templo rasgou de alto abaixo.
O tempo quaresmal que vivemos nestes dias que precedem a páscoa, é o primeiro depois do ano inteiro de 2011 nos termos debruçado sobre o meio-ambiente. Nosso lema foi a frase de Paulo: “A natureza geme em dores de parto enquanto espera a manifestação dos filhos de Deus”
Quando o ser humano agride o planeta Terra não respeitando o equilíbrio das leis que Deus lhe impôs, ela profetiza através de grandes convulsões como os terremotos, os maremotos ou tsunamis, os desmoronamentos, as tempestades , os vulcões, as mudanças climáticas, etc.
Há dois dias tivemos em Porto Alegre uma chuva torrencial que a maioria da população jamais viveu igual em toda sua vida. A cidade praticamente parou e aconteceram cenas de desespero por toda a parte.
Os profetas da natureza são os portavozes da mãe terra. Magda Renner, por exemplo, foi a ecologista que, anos passados, vaticinava que as mudanças climáticas que estamos vivendo hoje, como a maior catástrofe acontecendo ao planeta, a ponto de transformar completamente as estações do ano, a épocas e os climas para novas plantações, etc.
Por que ficarmos somente na relação nossa direta Deus-nós? Porque não andar sempre abraçados também com a mãe natureza?... O refrão que tantas vezes cantamos: “Eis o tempo de conversão. Eis o dia da salvação. Ao Pai voltemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão”, envolvamo-lo com mais sentido também ligado à mãe Terra, à irmã água, ao irmão sol, etc. como faria São Francisco se hoje vivesse em meio a nós. Depois de cantado o refrão anterior, uma primeira estrofe assim: “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação. Pra terra olhemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão!” Uma segunda estrofe em relação ao verdadeiro berro da água que desabou numa hora a que cairia normalmente num dia inteiro: “Eis o tempo de conversão! Eis o dia da salvação! Da água cuidemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão”. E assim em relação à ao fogo, ao vento, etc.
O Deus dos cristãos é um Deus que caminha conosco à nossa frente, fazendo história conosco.
Sempre que o Povo de Deus no antigo testamente parava de caminhar rumo ao futuro, rumo a um mundo melhor e insistia em parar, consagrando velhos costumes, velhas tradições, sem nenhuma renovação, Deus suscitava sempre profetas que denunciavam tais situações e ajudavam a desencadear novamente a marcha para dias melhores. É isso a Profecia, ontem e hoje.
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José Lutzemberger e outros Profetas da Natureza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU