15 Março 2012
Um congresso certamente incomum ocorre em Roma, promovido pelo Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Salesiana.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no blog San Pietro e Dintorni, 12-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os sacerdotes, assim como os cidadãos comuns que lidam com as muitas dificuldades do trabalho e da vida diária, estão hoje sobrecarregados pelo estresse psicofísico, tanto que muitos correm o risco do chamado burnout [esgotamento emocional], incapazes de responder aos encargos excessivos de demandas e responsabilidades.
E eles, também, acostumados a se consumir pelos outros, agora tem que recorrer a formas de ajuda psicológica. Padres no divã. Conforto e desconforto no trabalho pastoral foi o tema de um congresso promovido pelo Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Salesiana, em que psicólogos, terapeutas e religiosos discutiram quanto os compromissos paroquiais, as demandas dos fiéis, as inúmeras emergências se refletem também sobre formas de desconforto psicológico, em que o sacerdote muitas vezes não pode contar com nenhuma ajuda.
"Como dizia um idoso pai espiritual aos seus noviços: 'Se você é um pastor de almas, pare de se ignorar e exercite-se para reagir, retomando o apoio interior centrado nas motivações de fundo'", disse o padre Giuseppe Crea, missionário comboniano e psicoterapeuta, que, em um estudo sobre o assunto, cunhou o termo "burnout pastoral".
"Quando a pessoa sente o peso das próprias incoerências – continuou –, ela deve aprender a identificar os muitos sinais de um mal-estar que está se acumulando dentro de si, sem negar as problemáticas, mas, ao contrário, reconhecendo-as como parte da sua história". Decidir a levar a sério o sofrimento psíquico de quem trabalha na pastoral, então, "não pode mais ser um 'opcional', mas deve fazer parte de uma responsabilidade comum, que também envolve os leigos".
Dos estudos do professor Leslie Francis, anglicano, professor da Universidade de Warwick (Reino Unido), apresentados no congresso, veio à tona que os sacerdotes pertencem à categoria psicológica dos "introvertidos" em um percentual significativamente mais alto do que a média da população masculina. E a característica de introversão significa preferir trabalhar por conta própria sobre os objetivos, em vez de em grupo, privilegiar o contato interpessoal (confissão e direção espiritual), a própria vida de oração, atenção aos detalhes e capacidade organizativa para a vida paroquial, escassa flexibilidade em mudar os projetos ou adaptá-los para responder a novas emergências. Isso significa que os sacerdotes têm mais risco de estresse.
A introversão, no resto da população, é uma característica de personalidade mais feminina do que masculina. Nas freiras, observam-se escores mais altos na escala da extroversão do que na população geral, o que, ao invés, é uma característica masculina.
O professor Alberto Oliverio, psicobiólogo, professor da Universidade Salesiana, observou que, "na Itália, em particular, houve uma longa desconfiança e uma conflitualidade mascarada entre as figuras do psicoterapeuta e do padre, mas, a partir dos anos 1970, o desenvolvimento dos cursos de graduação em psicologia inovou a situação: o mundo do inconsciente encontrou uma maior aceitação, um crescente número de padres graduou-se em cursos de psicologia".
"Exploração diversos setores do conhecimento humano – explicou –, aprender a ajudar os outros, explorar a dimensão do espírito e da religião, ter experiência no campo das relações interpessoais, aprender a se expressar, a viver: esses aspectos facetados da experiência referem-se a todos nós, particularmente àqueles que se voltam à ajuda e à compreensão dos outros, incluindo o sacerdócio".
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Padres no divã: a culpa é do estresse - Instituto Humanitas Unisinos - IHU