09 Janeiro 2012
Eles fazem parte de um reduzido grupo de especialistas em cujas opiniões se centraliza a busca de soluções para a crise.
A reportagem é de Fernando Vicente Sevilla, publicada no jornal Público, 08-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Todo mundo parece concordar. Só o caminho da austeridade não será suficiente para sair da profunda crise que afeta a Europa e muito menos para resolver o seu aspecto mais preocupante nestes momentos, a crise da dívida pública, também chamada de crise do euro, que ameaça mergulhá-la na depressão econômica. Mas só alguns poucos economistas de reconhecido prestígio internacional vinham advertido isso há anos, como o Nobel de Economia de 2001 e ex-economista chefe do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, ou o também Nobel de Economia de 2008, Paul Robin Krugman.
Agora, citando o próprio Krugman, a sua advertência da "falsidade da ideia de que as contrações fiscais são expansionistas" e a sua categórica afirmação de que "uma política fiscal contracionista implica o que propõe, uma contração" da economia parecem ter calado fundo entre especialistas e analistas, mas não tanto entre os seus colegas do mundo acadêmico.
Nesse mundo, tanto Krugman quanto Stiglitz, habituais das páginas de opinião do The New York Times, são acusados de vir de campos de pesquisa alheios aos temas sobre os quais agora "pontificam a partir de uma posição ideológica", sem contar, portanto, com sérias publicações acadêmicas próprias que respaldem as suas opiniões.
"Krugman carece de influência entre os economistas", assegura José García Montalvo, da Universidade Pompeu Fabra, que lembra que outros economistas de grande prestígio como o francês Olivier Jean Blanchard (economista-chefe do FMI e professor de Economia do prestigiado Massachusetts Institute of Technology, MIT) "disseram isso muito antes e muito melhor do que ele".
Blanchard afirmou não só que com o corte do déficit não era suficiente, mas também foi o primeiro a enfatizar a busca do complicado equilíbrio que deve ser mantido entre a austeridade e o impulso que o gasto público gera sobre o PIB.
Exatamente o que outro economista espanhol de prestígio da Universidade de Granada e assessor do Federal Reserve de Chicago ou da Fundación de Cajas de Ahorro (Funcas), Santiago Carbó, assegura sentir falta nas atuais análises e estudos econômicos: "E como se faz isso?", pergunta-se. "Agora, nos demos conta de que, com políticas de austeridade, não vamos a lugar algum. Mas crescer irá exigir uma coordenação internacional, e os economistas não contribuímos nada para obtê-lo", acrescenta.
Saber quais são os economistas que mais estão influenciando na geração de um novo pensamento econômico que pressione a tecla da saída da crise irá depender, em grande parte, de quem responda a pergunta. No entanto, embora não haja um acordo unânime, há nomes, sim, como todos os citados até agora, que são ouvidos com respeito dentro e fora da sua profissão por grandes grupos de especialistas, analistas e, mais importante ainda, governos. Os que são nomeados abaixo não são todos os que existem, mas todos os que estão, são.
1 - Raghuram Rajan: crítico com Greenspan
Nascido em Bhopal (Índia) em 1963, é professor de Finanças na Booth School of Business, da Universidade de Chicago. Um dos poucos a alertar sobre os riscos que o seu banco corria, seu nome se tornou famoso na profissão quando, em 2005, sendo economista-chefe do FMI, veio a público e, sonoramente, criticou as políticas de Alan Greenspan no ato de sua despedida como presidente do Federal Reserve nos EUA. Ele alertou para o desastre que se aproximava e que, efetivamente, ocorreu apenas dois anos depois, com a queda do Lehman Brothers. Seu último livro, Las grietas del sistema. Por qué la economía mundial sigue amenazada (Ed. Deusto), foi o Livro do Ano da revista Financial Times em 2010.
2 - Jordi Galí: novo keynesiamismo
Barcelonense (1961), é considerado como uma das principais figuras mundiais do "novo keynesianismo". Aluno proeminente do francês Olivier Blanchard, do MIT, foi professor das universidades de Columbia e de Nova York antes de voltar para a barcelonense Pompeu Fabra, onde dirige seu Centro de Pesquisa em Economia Internacional (Crei). Seus estudos de teoria monetária sobre as políticas de fixação das políticas de juros e macroeconômicas sobre os efeitos negativos dos aumentos de produtividade sobre o emprego são algumas de suas contribuições mais conhecidas. É o único espanhol que figura nas listas dos economistas mais citados por seus colegas e acaba de receber o Prêmio Nacional de Pesquisa 2011 da Generalitat da Catalunnha.
3 - Christopher A. Sims e Thomas J. Sargent: Nobel de Economia
São os vencedores do Nobel de Economia deste ano por suas pesquisas para criar ferramentas que aproximem as políticas macroeconômicas da realidade dos dados. Sargent (1943), professor de economia da Universidade de Nova York, é um dos criadores da "Teoria das Expectativas Racionais", que estuda como os atores econômicos antecipam as mudanças nas políticas econômicas. Sims (1942) é professor da Universidade de Princeton e especialista em econometria. É o criador de novos modelos matemáticos que hoje são usados por todos os bancos centrais e governos em suas tomadas de decisões.
4 - Costas Lapavitsas: o mais seguido pelo 15-M
Grego e professor de Economia da Universidade de Londres, especialista em Ásia e em marxismo, é um assíduo colaborador do jornal The Guardian. Protagonista principal do documentário Debtocracy, sobre a crise grega, que provocou muita polêmica na Internet, a partir dos seus postulados keynesianos, é um dos principais defensores da saída da Grécia do euro. É também um dos economistas radicais alternativos mais seguidos pelo Movimento 15-M, porque defende, entre outros postulados, que os países não podem se deixar acorrentar por órgãos como o FMI, por imporem uma austeridade insuportável.
5 - Kenneth Rogoff: especialista na crise de 1929
Enxadrista consumado e professor de Economia da Universidade de Harvard (1953), é outro que ocupou o posto de economista-chefe do FMI e, depois, foi conselheiro do Federal Reserve dos EUA. Em 2002, protagonizou uma enorme polêmica com seu antecessor no cargo do FMI, Joseph Stiglitz, quando este criticou a "surdez" da instituição perante os problemas mundiais. Especialista na crise de 1929, seu último livro, Oito séculos de delírios financeiros: Desta vez é diferente (Ed. Campus), escrito em conjunto com a economista cubana exilada Carmen Reinhart, se converteu em um best-seller internacional.
6 - Jacques Sapir: defende a saída da França do euro
Economista (1954), professor da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris (EHESS). Como especialista em URSS e Rússia, além de temas de defesa, é também professor da Universidade Estatal de Moscou. É o teórico heterodoxo mais influente da França. Muito crítico da globalização, defende a saída da França da zona euro e está convencido de que a única solução possível para os problemas da Europa é que países como Grécia, Irlanda e Portugal suspendam os pagamentos. Assim, poderiam se beneficiar com uma forte desvalorização de suas moedas.
7 - Richard Koo: a austeridade é um "disparate"
Nascido em Taiwan (1954), é economista-chefe do Nomura Research Institute de Tóquio, o ramo de estudos do banco financeiro japonês e uma das instituições financeiras de análise econômica mais prestigiadas do mundo. Autor de El santo grial de la macroeconomía, lecciones de la gran recesión japonesa, ataca duramente as medidas de austeridade econômica, às quais define como "um disparate", e defende a heterodoxia como a única solução para a crise que aflige a economia mundial .
8 - Martin Wolf e Wolfgang Munchau: o açoite dos governos
Wolf (1946), diretor-adjunto e chefe de Opinião de Economia do Financial Times, é considerado um dos jornalistas econômicos mais influentes do mundo, já que seu jornal é, junto com o The Wall Street Journal, o mais seguido nos mercados. Com ele, trabalha o alemão Munchau (1961), cuja coluna diária sobre economia europeia é buscada com temor a cada manhã pelo responsáveis econômicos de todos os governos da zona do euro.
9 - Stephen Roach: contra a mão de obra barata de outros países
Norte-americano (1955) e economista-chefe do Morgan Stanley, ocupa agora a presidência não executiva do banco de investimento norte-americano na Ásia. Trabalhou para a prestigiada Brookings Institution, o think tank do Partido Democrata, do qual se declara partidário. É o criador da teoria da "arbitragem trabalhista global", pela qual um país explora a mão de obra barata de outro, uma das características da globalização que ele define como "muito negativa". Especialista em globalização, em China e no impacto das tecnologias da comunicação na economia, é considerado um dos economistas mais influentes em Wall Street.
10 - Jeffrey Sachs: aposta nas terapias de choque
Norte-americano (1954), diretor do Earth Institute da nova-iorquina Universidade de Columbia e autor do famoso livro O fim da pobreza (Ed. Companhia das Letras), sua aposta nas chamadas "terapias de choque" na resolução de crises econômicas na América Latina e no Leste Europeu causaram grande polêmica. Reconhecido especialista em políticas de desenvolvimento, é assessor da ONU, organização que realizou o Projeto do Milênio para reduzir a pobreza. Membro também da Fundación Ideas do PSOE [Partido Socialista Operário Espanhol], acaba de publicar El precio de la civilización.
11 - Olivier Jean Blanchard: desacelerar as políticas de austeridade
Francês (1948), atual economista-chefe do FMI e autor de livros sobre macroeconomia, se especializou em política monetária, nas bolhas especulativas e nas causas do desemprego. Na crise atual, defende que as políticas de austeridade devem ser desaceleradas e compensadas com estímulos ao consumo para incentivar o crescimento da economia. De fato, no texto em que resume a evolução econômica mundial durante 2011, ele garante que a redução da dívida dos países deve ser proposta mais como uma maratona do que um sprint, embora, para isso, parafraseie Angela Merkel, a chanceler alemã que está dirigindo os duros planos de ajuste dos membros do euro. Blanchard defende ainda que os novos países emergentes como a China devem participar da solução, estimulando também a demanda interna de produtos importados.
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