Por: Jonas | 22 Julho 2013
Se o papa Francisco e Pedro Casaldáliga se encontrassem no Brasil, isto “encheria de significado (ainda mais) a visita de Francisco. Seria uma espécie de reabilitação romana para Casaldáliga, outrora mal visto pela Cúria e pelo próprio Vaticano”, escreve José Manuel Vidal, em artigo publicado no sítio Religión Digital, 16-07-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/nZZrk |
Eis o artigo.
Como em tudo mais, a viagem de Francisco ao Brasil irá consagrar um novo estilo de peregrinação papal. Visitas simples, sóbrias, proféticas, sem ostentação e nem pompa, com total austeridade. Como em Lampedusa, mas com milhões de pessoas. Uma nova forma papal de viajar, na qual talvez caibam também as surpresas de última hora. E colocando-se a sonhar, eu sonho com uma muito especial: o encontro entre o Papa e Pedro Casaldáliga. O abraço de Francisco em Pedro, um simples sonho?
Sei como seria complicado realizar esse abraço. Se o Papa se aproxima de São Félix (mesmo discretamente) para visitar o bispo dos pobres e dos indígenas, prostrado numa cadeira de rodas, colocam-se problemas de segurança. Não é fácil cruzar a Amazônia em um helicóptero sem correr risco. Contudo, talvez possa fazer isto num pequeno teco-teco, sem avisar. Casaldáliga sempre está preparado, com o seu Parkinson intenso, mas com sua mente sadia e em forma. Disposto a rezar ao Pai, com o Papa, pelo Reino. E, inclusive, a oferecer um poema à “caminhada” de Francisco.
Casaldáliga também poderia se deslocar ao Rio de Janeiro para ver o Papa. Está mal, mas não tão mal que não possa viajar. Há poucos meses, o Governo teve que retirá-lo de São Félix em razão das ameaças de morte que recebeu. Para que o prelado pudesse visitar o Papa no Rio de Janeiro, o Governo ou a Igreja brasileira teriam que oferecer os meios logísticos necessários. Casaldáliga, bispo pobre e dos pobres (quando não carregavam os bispos pobres), nunca contou com isso.
No Rio de Janeiro ou em São Félix, o encontro encheria de significado (ainda mais) a visita de Francisco. Seria uma espécie de reabilitação romana para Casaldáliga, outrora mal visto pela Cúria e pelo próprio Vaticano. Mal visto, marcado e perseguido. E considerado herege ou comunista... Tentaram derrubá-lo, desprestigiá-lo, desmerecê-lo, mas ele resistiu, como rocha firma. E se tornou um ícone mundial da entrega generosa, da santidade, do compromisso.
E da sua estadia na mata continuou irradiando evangelho puro e duro ao mundo inteiro. Continuou pregando uma Igreja pobre e samaritana. Entregue aos últimos, aberta à esperança, facilitadora do Reino, amiga das causas mais nobres do homem. Tudo isso que, agora, Francisco está recuperando, mas que, não há muito, era motivo de lesa eclesialidade.
Um reconhecimento a uma forma de ser e de viver o Evangelho dos pobres, os preferidos de Cristo. Uma forma de ser e de fazer Igreja. Uma homenagem ao símbolo dessa corrente libertadora e, com ele e nele, de toda a Teologia da Libertação. Aquela que nos ensinou a colocar os pobres no centro, a que nos lançou para a “opção preferencial”, a que nos desvendou a história, a economia, a cultura e a política a partir das vítimas.
Pedro e Francisco, dois profetas que oxalá se reencontrem. O abraço do Papa de Roma em Casaldáliga representaria essa nova síntese de uma Igreja da misericórdia e da ternura procurada por Francisco, que, como a colunata de Bernini, abre seus braços para acolher a todos em seu sonho.
Pode ser que seja difícil, mas seria tão bonito, tão belo e tão cheio de esperança. Pode ser que seja difícil, mas não para um papa como Francisco, que já nos acostumou a ter detalhes desses que trabalham a alma e rompem protocolos e agendas.
Faça isso, Santidade! Peça para que o levem a São Félix ou que tragam ao Rio de Janeiro Pedro Casaldáliga. E ofereça-lhe um desses abraços que só você sabe dar. O abraço de Pedro em Pedro.
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O abraço de Francisco e Pedro Casaldáliga, um sonho? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU