Por: André | 04 Julho 2013
O presidente equatoriano, durante seu habitual informe dos sábados, revelou que conversou, na sexta-feira, com Biden, por solicitação do governo dos Estados Unidos, sobre a situação do ex-agente da CIA.
A reportagem está publicada no jornal Página/12, 30-06-2013. A tradução é do Cepat.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a Rafael Correa que recuse o pedido de asilo de Edward Snowden. A revelação foi feita pelo presidente equatoriano, que admitiu que teve uma conversa na sexta-feira com o número dois da Casa Branca. O governo estadunidense pede a extradição de Snowden por revelar informações sobre seus programas de espionagem. Correa, por sua vez, transmitiu a Biden que a decisão de seu país será soberana, embora ouça a opinião dos Estados Unidos. Por este caso, o Equador renunciou esta semana às preferências alfandegárias concedidas por Washington ao denunciar pressões.
O presidente equatoriano, durante seu habitual informe dos sábados, revelou que conversou, na sexta-feira, com Biden, por solicitação do governo dos Estados Unidos, sobre a situação do ex-agente da CIA Snowden, que completa hoje (30 de junho) seu sétimo dia no terminal do aeroporto moscovita de Sheremétievo. Correa, cuja relação com Washington não costuma ser fluida, destacou o ânimo cortês e cordial da conversa direta com Biden, a primeira de que se tem conhecimento entre altas autoridades dos dois países sobre o caso Snowden.
Diante do pedido de Biden, Correa respondeu que seu governo não pode tramitar ainda o pedido de asilo de Snowden porque este não se encontra em território equatoriano. “Quando estiver em território equatoriano, caso isso venha a acontecer, e se tenha que tramitar esta solicitação, evidentemente, o primeiro a ser consultado serão os Estados Unidos”, destacou Correa. “Vamos ouvir a todos, mas a decisão será tomada por nós soberanamente, embora, evidentemente, levemos em conta o que tenha a dizer” Washington, insistiu.
“Eu disse (a Biden) qual é a postura do Equador (sobre o caso Snowden): que nós não procuramos esta situação e que não a tome como se fossemos antiestadunidenses, como trata de fazer certa imprensa de má fé”, assinalou Correa ao enfatizar que as portas do diálogo sempre estariam abertas com Washington. O presidente insistiu na cordialidade da conversa com Biden que, segundo disse, se distancia muito das ameaças e ataques que seu país recebeu por parte de porta-vozes do Congresso e de alguns meios de comunicação estadunidenses.
Assim mesmo, referiu-se às declarações feitas por congressistas sobre a retirada das preferências alfandegárias outorgadas pelos Estados Unidos há décadas ao Equador caso este conceda asilo a Snowden, e afirmou que diante dessa chantagem ao seu governo, de forma irrevogável e unilateral, decidiu recusar esses benefícios aduaneiros. Não obstante, o presidente equatoriano pediu aos seus compatriotas para estarem preparados para eventuais represálias de Washington por este caso, sobretudo se, finalmente, vier a conceder asilo a Snowden. “Somos extremamente vulneráveis, não tenhamos ilusões em relação a isso. Por isso, eu não quero prejudicar o meu povo, nem tampouco vou claudicar nos princípios nem na soberania do país”, disse.
Contudo, em um gesto que pode ser tomado como um piscar de olho para Washington, Correa anunciou no sábado que irá punir o seu cônsul em Londres por ter entregado um salvo-conduto de refugiado a Snowden, sem autorização do governo. “A verdade é que esse cônsul se extrapolou em suas funções e terá a sanção do caso”, disse o presidente, e reiterou que o documento foi expedido sem nenhuma autorização e que carece de validade.
O presidente acrescentou que, pelo que parece, o cônsul Fidel Narváez expediu o documento em seu desespero diante de uma possível prisão do ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. “Em seu desespero – provavelmente em comunicação com (o fundador do Wikileaks) Julian Assange – de que talvez o senhor Snowden pudesse ser capturado, fez isso sem autorização e, obviamente, sem o conhecimento do governo equatoriano”, indicou.
Por outro lado, Correa garantiu que seu país está atualmente submetido a pressões do poder midiático pelo simples fato de ter recebido a solicitude de asilo de Snowden, procurado pelos Estados Unidos por filtrar informação classificada, como o australiano Julian Assange, o fundador do Wikileaks, protegido por Quito em sua embaixada em Londres. Há mais de um ano, Assange encontra-se à espera de um salvo-conduto para deixar o Reino Unido.
“A arma mais letal criada pela humanidade é o poder midiático corrompido, que reage, sobretudo, contra qualquer pessoa que ouse desafiar o sistema”, enfatizou Correa. “Que arte (esses meios) têm para desviar a atenção. O problema já não é a espionagem em massa dos Estados Unidos de seus cidadãos, a espionagem em massa dos outros países atentando contra a soberania e, no caso dos cidadãos, contra os direitos humanos; agora o problema é Snowden e os países que receberam pedido de asilo”, acrescentou.
“O que realmente é grave nesse caso é aquilo que Snowden denunciou, que terá que assumir sua responsabilidade, mas que colocou em evidência a pior espionagem em massa da história da humanidade, dentro e fora dos Estados Unidos”, considerou Correa. “Os países soberanos e aqueles que estão identificados com a defesa dos direitos humanos temos que levantar a nossa voz e pedir explicações sobre estas denúncias”, concluiu.
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Caso Snowden. Correa não se deixa pressionar por Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU