17 Mai 2013
Publicamos um trecho do novo livro de Enzo Bianchi, Fede e fiducia (Ed. Einaudi). "As palavras deste livro" – explica o prior de Bose – "são palavras cruzadas em um diálogo com pensadores dos quais eu me encontrei ao lado, em debate, na França e na Itália".
São eles: Massimo Cacciari, Claude Geffré, Christoph Theobald, Adolphe Gesché, Remo Bodei, Luc Ferry, André Comte-Sponville, Régis Debray, Julia Kristeva e Joseph Moingt.
O artigo foi publicado no jornal La Stampa, 12-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Vivemos em uma época marcada por muitos obstáculos, por diversas contradições causadas à fé, de modo que a fé parece incapaz de interessar aos homens e às mulheres de hoje, que vivem na indiferença com relação ao cristianismo e, mais em geral, a toda busca de Deus.
Não só naqueles que se dizem crentes e cristãos de fato, justamente, a fé parece tênue, de pouco fôlego, incapaz de manifestar aquela força que muda a vida, o modo de pensar, sentir e agir: talvez a religiosidade pareça forte, mas a fé, fraca! Também por isso os cristãos são lidos como uma minoria em uma sociedade cada vez mais plural em crenças religiosas e éticas, e expressões espirituais que não fazem nenhuma referência a Deus ou a vias tradicionais.
O mundo de hoje, secularizado, é um mundo "desencantado"; para muitos, Deus não parece evidente e nem mesmo necessário. Pode-se viver sem crer em Deus e construir uma humanidade capaz de escolher uma vida sensata, caracterizada pela paz, justiça, liberdade? Pode-se negar a Deus ou abrir mão dele sem pensar em si mesmos como Deus? Tempos atrás, perguntas desse tipo não eram nem formuláveis, porque Deus era evidente e necessário; hoje, ao invés, conseguimos fazê-las, e fazê-las a nós.
Alguns, incapazes de aceitar a situação atual e de assumi-la, alimentam nostalgia pelo passado da christianitas a gostariam a todo o custo de rejeitar a contemporaneidade, mas outros cristãos consideram que a "não evidência" e a "não necessidade" de Deus hoje podem revelar algo de Deus mesmo, do Deus dos cristãos, e, portanto, que é possível continuar crendo sem angústias e sem medos naquele que constantemente faz da nossa história uma história da salvação, onde ele age com amor e só por amor.
André Comte-Sponville afirmou que "podemos abrir mão da religião, mas não da comunhão, nem da fidelidade, nem do amor". Palavras com as quais consinto, mas com a especificação de que não se pode abrir mão nem da confiança-fé, do ato de crer, do qual podem nascer comunhão, fidelidade e amor.
Eis a verdadeira patologia que hoje aflige toda a sociedade ocidental: enfraquecimento, depressão do ato de crer, carência de confiança em si mesmo e nos outros, no futuro e na terra. Crer, ter confiança, tornou-se cansativo e é uma atitude rara. O discurso sobre a fé, então, não se refere apenas aos cristãos ou aos chamados crentes: devedores de uma certa visão maniqueísta que separa crentes e não crentes, somos incapazes de identificar os temas candentes que dizem respeito a todas as pessoas e que determinam as relações de umas com as outras. Porém, por toda a vida, cada um de nós se pergunta se o viver tem um sentido, se é possível crer, ter confiança em uma palavra, em Alguém!
Eis, portanto, a grande responsabilidade dos cristãos que, tendo como primeira vocação a vocação à fé e conhecendo o exercício da fé, podem ser homens e mulheres que infundem confiança nos outros, aquela confiança-fé que experimentam sem se orgulhar de alguma superioridade sobre aqueles que, por sua vez, exercitados na confiança-fé, não conseguem acolher o dom de crer no Deus de Jesus Cristo.
O que realmente deveria estar diante de nós como a urgência das urgências é que o ser humano seja consciente de que "se passa da morte à vida amando os irmãos", mas essa verdade deve ser conhecida, acolhida, acreditada.
Hoje, porém, a transmissão da fé também se tornou difícil, e as novas gerações – definidas pela socióloga Danièle Hervieu-Léger como "en rupture de mémoire" – parecem ser incapazes de receber aquelas heranças até mesmo culturais que, durante séculos, marcaram as nossas terras.
Se é verdade que "não se nasce cristão, torna-se cristão" (Tertuliano, Apologetico 18, 4), é igualmente verdade que, até algumas décadas atrás, "nascia-se", por assim dizer, cristãos, crescia-se mais ou menos como cristãos, e o tecido familiar, eclesial e cultural assegurava um caminho que levava a maior parte das pessoas a se definirem como tais.
Agora, ao invés, o quadro mudou profundamente: por isso, a Igreja, também na Itália, se interroga sobre a transmissão da fé e sobre a educação à fé como primeira tarefa a se assumir e muitas vezes chama a atenção sobre a emergência educativa. Comunicar o Evangelho em um mundo que muda – para usar o título dado pelos bispos italianos às Orientações Pastorais para a primeira década de 2000 –, transmitir a fé em novas compreensões antropológicas é, portanto, um desafio, uma tarefa que não se pode escapar.
Nessa situação difícil e crítica, devemos ter em mente que maus conselheiros são o medo e a ansiedade pelo futuro da fé: esses sentimentos, de fato, não levam a ter fé, mas no máximo a assumir posições defensivas, a se fechar em uma cidadela que se sente assediada e ameaçada, a se munir de identidades fortes e intransigentes, ou a confiar em um bom método ou em uma estratégia astuta, ambos buscados com afã.
Nessa reflexão, gostaria de percorrer outro caminho; ou melhor, gostaria de adotar simplesmente aquele percurso do próprio Jesus, do qual as Sagradas Escrituras do Novo Testamento dão amplo testemunho. Porque, como a Igreja primitiva já havia compreendido na hora em que, como "pequeno rebanho" (Lucas 12, 32), ela se empenhava na missão entre as gentes do Mediterrâneo, Jesus foi e continua sendo um pedagogo, um iniciador à fé.
Foi Clemente de Alexandria, que viveu entre a metade do século II e o início do século III, que definiu Jesus Cristo como "pedagogo", convidando os cristãos a olhá-lo não só como modelo de vida, mas também, justamente, como educador para a fé: em Jesus há uma arte no encontrar o outro, no comunicar e no tecer uma relação com ele, a arte de educar à fé.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''No nosso mundo desencantado, ensinar a fé é uma arte''. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU