23 Mai 2013
“A solução para os problemas da saúde não demandam de um corpo, nem de uma equipe, mas de um grupo bem maior de pessoas. O que precisamos é de uma inteligência coletiva e uma horizontalização das relações constituída como campo de conhecimento”, destacou o professor doutor Ricardo Rodrigues Teixeira, durante a palestra intitulada Agenciamentos tecnosemiológicos na produção da subjetividade em saúde e realizada na noite da terça-feira, 15-05-2013, na sala Ignácio Ellacuría e Companheiros do IHU. O evento integra a programação do I Seminário do XIV Simpósio Internacional IHU, que ocorrerá em 2014.
Foto: Ricardo Machado |
O foco do encontro que reuniu mais de 50 pessoas na Sala Ignacio Ellacuría e companheiros do Instituto Humanitas Unisinos - IHU foi a forma de relacionamento entre os profissionais da saúde e seus pacientes. A perspectiva abordada converge com a obra Ética, de Baruch Spinoza. Durante mais de duas horas, o professor desenvolveu a ideia de que estamos em permanente relação com as pessoas e com o mundo. “Ratio quer dizer relação. Para Spinoza, conhecer, é conhecer pela razão, não pela cabeça, mas conhecer a relação. Para o filósofo, a outra forma de conhecimento seria a imaginação. Ele dizia que a afecção era uma imago (imagem). Estamos acostumados a reconhecer nos outros somente o efeito que o outro corpo causou em nós e se toma isso como o corpo do outro”, explica Ricardo.
Saúde e filosofia
Uma das questões mais importantes tratadas durante o evento, foi, por exemplo, a forma epistemológica como o conceito do que é o "corpo" é constituída. "O problema de fundo é das 'formas individuadas'. O que há em comum em signos ou em objetos técnicos é o mundo objetal. O problema da ontologia é dizer onde está 'um corpo'?", provoca o palestrante.
Nesse sentido, o conferencista considera que um " corpo é uma multiplicidade de agenciamentos heterogêneos interligados entre si. Poderíamos descer ao plano do celular, do molecular, e o angenciamento continuaria ainda a ser o mesmo. O corpo é um conjunto de relações extensivas dentro de um expectro imenso de relações". A questão que emerge em tal contexto é o quanto podemos modificar corpos tecnicamente e eles ainda continuarem a constituir um corpo próprio. "O problema da relação de um corpo com outro corpo é de ordem ética e política", avalia o professor.
Metáfora
Para tentar aproximar o pensamento filosófico da prática dos profissionais da área de saúde, o conferencista recorreu a metáforas. "Considerando que o corpo de um surfista é, como disse, um conjunto de externalidades em relação, que entra em relação com a onda do mar, que também é um conjunto de externalidades em relação dinâmica. Temos, nesse caso, uma composição que não é somente o corpo do surfista, nem somente a onda, mas um terceiro corpo", explica.
O exemplo trazido pelo médico serviu para tentar ilustrar que cada composição de corpo e suas respectivas relações são únicas. "Dado a variedade, não sabemos tudo o que pode um corpo, não conhecemos todas as relações possíveis", salienta. Ricardo lembrou que a humanização no atendimento à saúde passa pela compreensão destas diferenças para gerar uma aproximação maior entre profissionais e pacientes.
O palestrante
Ricardo é professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Desde 1989, atua como médico sanitarista da Universidade de São Paulo, desenvolvendo atividades de assistência, docência e pesquisa junto ao Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (Butantã). Desde 2007, é consultor da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, coordenando, desde 2008, a Rede HumanizaSUS.
Por Ricardo Machado
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As relações entre profissionais da saúde e os pacientes em debate - Instituto Humanitas Unisinos - IHU