24 Março 2013
Se, como diretor, ele havia previsto a renúncia do pontífice com Habemus Papam, como distribuidor, Nanni Moretti havia intuído o novo curso tomado pelo Papa Francisco: uma Igreja pobre que olha para os pobres.
A reportagem é de Arianna Finos, publicada no jornal La Repubblica, 20-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Su Re, de Giovanni Columbu, que a distribuidora Sacher leva às salas de cinema (a partir do dia 28 de março na Itália), é o poderoso relato "pobre" da Paixão de um Cristo em preto e branco, entre as rochas, os pastores e o vento áspero da Sardenha. É falado em sardo por não profissionais, incluindo hóspedes do Centro de Saúde Mental local.
Um filme franciscano: "Eu adoro o estilo essencial e até mesmo pobre. Acredito que isso não significa renúncia à beleza", diz Columbu. Ele conta que "este papa me emocionou, fez pensar em um novo início, que não será do centro e da cúpula. A sobriedade é necessária em um momento em que a Igreja se comprometeu com o poder e o dinheiro. É difícil aceitar sacerdotes vestidos de ouro, quando, para muitos, é difícil encontrar o pão".
O sentimento, mais do que a razão, levou Columbu a gravar Su Re, "a necessidade de reencontrar uma espiritualidade que não necessita de aparência e pode ser representada sem molduras douradas. Que pode ser dura e áspera e, por isso, chama novamente à interioridade".
A inspiração visual declarada do filme são "as obras de pintores renascentistas que representaram os episódios do Evangelho ambientando-os no seu tempo". A ideia surgiu durante uma visita à igreja romana de Santa Maria, na Via Lata, olhando para uma tela que retratava os trechos do evangelho em quatro colunas. "As passagens paralelas dos evangelistas, cada um com uma versão diferente, me sugeriram a ideia de um sonho em que os eventos se repropõem em sequência não linear, como no ritual coletivo da missa cristã".
Se o pasoliniano Evangelho Segundo Mateus continua sendo "uma referência de grande poder centrado ao mesmo tempo em palavras e imagens, enquanto eu dei destaque ao silêncio e aos sons da natureza", a violência "comprazida" exibida em A Paixão de Cristo de Mel Gibson está distante do trabalho de Columbu, que, ao invés, sempre a deixa fora do quadro.
O seu Jesus de traços fortes, Fiorenzo Mattu, remete à profecia de Isaías: "Não tem aparência nem beleza para atrair os nossos olhares, nenhum esplendor para poder nos comprazer". E Judas, o jovem Antonio Forma, "está perto do herói que se sacrifica com infâmia" na pobre última refeição consumada ao redor do fogo.
Não falta a esperança "abertamente declarada nas palavras de Isaías, narradas em off pelo meu pai, que anunciam a Ressurreição: 'Depois de tanta dor, Ele voltará a resplandecer e, como ele, o mundo", enquanto as crianças sobem o lado rochoso da colina".
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O filme ''franciscano'' que enfeitiçou o diretor de Habemus Papam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU