15 Março 2013
Na missa "Pro Ecclesia", celebrada na Capela Sistina, na presença dos 114 cardeais eleitores, no momento do abraço da paz, o Papa Francisco abraçou afetuosamente o cardeal Giovanni Battista Re, que no conclave fez as vezes de decano, e o secretário de Estado, Tarcisio Bertone. É o retrato de como as coisas andaram durante as votações 24 horas antes, sempre sob a abóbada do Juízo Universal, pintada por Michelangelo.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no jornal Corriere della Sera, 15-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na quinta votação, rapidamente, chegou-se a mais de 90 consensos em um colégio de 115 cardeais. O cardeal eleitor irlandês Séan Brady disse claramente: "Fiquei surpreso que o consenso entre os cardeais tenha sido alcançado tão cedo". Tão cedo e tão maciçamente. No entanto, bem além do limiar de 77 votos fixados pela reforma do Papa Bento XVI para dar maior coesão e unidade à escolha do pontífice (que corresponde a dois terços dos eleitores). Limiar que, ao ser superado, fez estourar o aplauso para o novo papa.
E assim foi. E a Igreja e o mundo tiveram o seu Papa Francisco, que das Américas irá percorrer ao contrário as rotas da primeira evangelização do Novo Mundo. É isso, ao menos, que contam as vozes de dentro e não só, no dia depois do conclave mais social e compartilhado que a história registra.
Mas, com quais acordos, alianças e pacotes de votos de Grandes Eleitores se chegou à escolha do cardeal Bergoglio? Sintética e necessariamente, um pouco brutalmente, o novo papa é fruto de um acordo entre o decano do Sacro Colégio, embora não eleitor, o cardeal Angelo Sodano, o cardeal Giovanni Battista Re, a Cúria do atual secretário de Estado, Tarcisio Bertone (que havia apontado para Odilo Scherer, mas que depois das críticas de Scherer ao cardeal Re nas Congregações Gerais teve que "retirar" o seu candidato) e os cardeais norte-americanos.
O carimbo dos norte-americanos na eleição, que obtêm um papa das Américas, foi posto logo, duas horas depois da aparição do novo papa no Andar das Bênçãos, pelo cardeal de Nova York, Timothy Dolan. "Ficamos muito felizes com o resultado. São emoções muito grandes", disse ele, e em um comunicado oficial ele falou de "marco para a nossa Igreja".
Os italianos estiveram unidos apenas para excluir o cardeal de Milão, Angelo Scola (até os cardeais da Lombardia votaram contra). Uma parte de tecelão nos últimos dias foi desempenhado nas Congregações Gerais pelo cardeal não eleitor Raffaele Martino, que, durante 15 anos, foi o representante vaticano na ONU, que conhece muito bem o episcopado americano e, como ex-presidente do Pontifício Conselho Justitia et Pax, sempre foi muito presente em todas as questões sociais mais quentes. Opositor de Ratzinger e a favor de Bergoglio ainda no conclave de 2005.
Mas, para a teologia católica, não é o Espírito Santo que escolhe o papa? Uma vez, há muitos anos atrás, perguntaram isso ao então cardeal Ratzinger, cuja função era de prefeito para a Doutrina da Fé e era o Guardião da ortodoxia. Não renunciando, no fim, a uma certa ironia, ele respondeu assim: "Eu não diria isso, no sentido de que o Espírito Santo é quem escolhe (...), o seu papel deveria ser entendido em um sentido muito mais elástico (…), provavelmente a única segurança que ele oferece é que a coisa não possa ser completamente arruinada".
É a mesma ironia do Papa Francisco. Aos cardeais, depois da aceitação, ele disse: "Caros irmãos, que Deus lhes perdoe".
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O acordo que somou mais de 90 votos no conclave - Instituto Humanitas Unisinos - IHU