16 Janeiro 2013
A evangelização dos indígenas é tema tão polêmico quanto antiga. Na região do rio Solimões, as igrejas estariam perseguindo pajés, segundo o coordenador do Núcleo de Cultura Política do Amazonas (NCPAM), Ademir Ramos. Em entrevista ao portalamazonia.com, o antropólogo afirmou também que, na calha do rio Negro, existe uma disputa entre as igrejas pelas aldeias.
A reportagem é Juçara Menezes, publicada pelo Portal Amazônia e reproduzida por Amazônia.org.br, 15-01-2013.
Ademir Ramos assinalou a interferência do missionário como a do médico. De acordo com ele, a evangelização acontece com dois tipos de estratégia: a de fora para dentro é ‘matar’ a cultura indígena, porque assim há descaracterização do próprio índio, enfraquecendo-o com a criação de outros chefes espirituais.
“Outra transformação é de fora para dentro e considero o modo mais perigoso. A segunda estratégia utilizada é abstrair a liderança dos povos indígenas para assumir esta liderança local. Com a perseguição e a evangelização, a consequência é organizar outra linhagem cultural”, explicou o antropólogo.
O Conselho Nacional do Índio (CNI) tem uma regra geral para os missionários: eles só podem entrar se os indígenas permitirem. Segundo Ramos, na área Manaus-Caracaraí, os povos decidiram não recebê-los. “Já na calha do rio Negro, há uma disputa pelas aldeias indígenas”, afirmou o coordenador. “Há a demarcação, tendo de um lado os católicos e de outro os evangélicos. A religião é o constitutivo da cultura indígena e a questão mais grave está no Solimões. Na região, há messiânicos, evangélicos de diversos credos e católicos, entre outros, todos em áreas demarcadas. E ainda tem a presença de israelitas”, concluiu.
Destruir afronta o Evangelho, afirma Cimi
Um dos coordenadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte 1, Francisco Loebens, afirmou que não há perseguição aos pajés e ressaltou o movimento da própria Igreja Católica em valorizar os líderes. Segundo ele, o trabalho de evangelização é para fortalecer a cultura indígena, respeitando a diversidade “Nossa postura é de valorização destes líderes. O lema é trabalhar com a perspectiva da vida e da vida em abundância. Com isso, a cultura própria é conservada. Sabemos da importância da reprodução das crenças indígenas e do papel primordial do pajé. Jamais seria possível persegui-los. Destruir ou agredir afronta o próprio Evangelho”, salientou Loebens.
A Ordem dos Missionários Evangélicos do Amazonas (Omeam) concorda com o Cimi. Conforme o secretário da instituição, pastor José Soares, a perseguição aos pajés ‘não tem fundamento’. Para ele, o que ocorre é a conversa sobre algumas práticas espiritualistas dos índios e o Evangelho cristão.
O pastor fala da necessidade de respeitar a crendice e relembra o direito de manifestação religiosa. “Quando mostramos a Palavra de Deus, alguns acabam por entender o Evangelho”, contou.
‘Não há coitadinhos’
Em determinado ponto, o antropólogo, a Igreja Católica e a Omeam são unânimes. Ademir Ramos afirma que alguns fingem se converter, aprendendo a ser ‘brancos’. “As religiões monoteístas amentam sua conta: quanto mais convertidos, melhor. Mas os indígenas também usam as igrejas como auxílio na luta por direitos dos índios. Não há coitadinhos”.
O pastor José Soares vai além. Para ele, os amazonenses do interior, assim como os povos indígenas, ‘não são mais tolos’: alguns são mais educados que universitários, têm celulares de última geração e antenas parabólicas em casa.
Sobre o índio ‘usar’ a igreja, Loebens lembrou que ‘há situações e situações’. “Temos experiências positivas de alianças com os povos, pois temos uma mesma perspectiva de mundo em comum, unindo forças para a construção do bem. Só seria assim se a presença fosse agressiva, mas o que existe é uma parceria”, afirmou o coordenador do Cimi.
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Antropólogo denuncia perseguição a pajés de etnias do interior do Amazonas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU