14 Janeiro 2013
Será que um dia saberemos a verdade sobre os atos de pedofilia cometidos durante décadas por representantes da Igreja católica alemã? Desde quarta-feira (9) uma grande dúvida se instalou. A Igreja anunciou ter rompido o contrato que a associava a uma equipe de pesquisadores encarregados de investigar o assunto.
A matéria é de Frédéric Lemaître, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 11-01-2013.
O escândalo veio à tona em janeiro de 2010, quando a direção do prestigioso colégio jesuíta Casinius de Berlim revelou que nos anos 1970-1980 mais de uma centena de jovens haviam sido abusados por dois professores. Desde então, rompeu-se o silêncio e a Igreja católica alemã passou a enfrentar sua pior crise moral desde 1945. Mais de 180 mil fiéis a deixaram, somente no ano de 2010.
Para tentar esclarecer a situação, a Igreja havia decidido no verão de 2010 abrir seus arquivos para uma equipe de investigadores do Instituto de Criminologia da Baixa-Saxônia. Segundo o contrato de pesquisa, ela deveria abrir os arquivos de suas 27 dioceses. Todos os documentos desde 2000 deveriam permanecer acessíveis em 18 dioceses e até mesmo desde 1945 em outras nove. Para garantir o anonimato, somente ex-magistrados aposentados tinham acesso aos arquivos.
Eles tinham por missão torná-los anônimos antes de confiá-los aos pesquisadores. Quanto à restituição dos resultados, foi combinado que a Igreja teria o direito de torná-los públicos e interpretá-los antes que, oito meses mais tarde, os investigadores pudessem por sua vez publicá-los e comentá-los.
Na quarta-feira, a Conferência Episcopal avaliou que "a relação de confiança entre o diretor do Instituto e os bispos alemães havia sido rompida" e que ela estava procurando outra instituição.
O diretor em questão, o professor Christian Pfeiffer, tem outra versão: os bispos, influenciados pela diocese de Munique e de Freising lhe pediram para submeter suas pesquisas "para aprovação" antes de publicá-las. Essa diocese é conhecida por ter acolhido um padre pedófilo nos anos 1980 que ali perpetrou seus crimes.
Nessa época, o arcebispo era o cardeal Josef Ratzinger, que se tornou Bento 16. O vigário-geral da diocese, no entanto, afirmou que o futuro papa não sabia nada sobre esse caso.
"Quando ouvi rumores a respeito da destruição de certos documentos nas dioceses, escrevi a eles perguntando se era verdade, mas não recebi nenhuma resposta", diz Pfeiffer, "a não ser que o simples fato de eu levantar a questão destruía a confiança necessária".
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Igreja católica alemã volta a fechar arquivos relacionados à pedofilia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU