03 Dezembro 2014
Atualizar a iconografa da igreja, com Papa Francisco, é um esporte fácil. Mas depois da viagem à Turquia será impossível não atualizar aquela do diálogo ecumênico com os ortodoxos, bloqueada sobre a imagem do abraço entre Paulo VI e Atenagoras na Terra Santa, há 50 anos.
A reportagem é de Murizio Crippa, publicada pelo jornal Il Foglio, 02-12-2014. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
A fotografia agora é aquela do bispo de Roma pedindo a benção para o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, que o beijou na testa. O símbolo é forte, a substância não é menor. “A única coisa que a igreja católica deseja e que eu busco como Bispo de Roma é a comunhão com as igrejas ortodoxas”, disse Bergoglio depois de ter celebrado com o patriarca na catedral de São Jorge a divina Liturgia para a festa de Santo André. Bartolomeu lhe respondeu rebatendo a esperança dos irmãos ortodoxos que este seja um tempo para “a aproximação das nossas duas grandes e antigas igrejas, que continuaram a se edificar sobre sólidos fundamentos da nossa tradição comum”, e entre os dois, referências à igreja do Primerio Milênio como modelo não faltam.
Na sua intervenção, Bergoglio disse coisas empenhativas para um bispo de Roma: o patrimônio das igrejas do oriente é assegurado não somente pela riqueza litúrgica e espiritual, mas também pela “disciplina canônica, consagrada pelos santos padres e pelos concílios, que regulamentam a vida de tais igrejas”. E que “para acrescentar a metade ansiada” a igreja católica não quer “impor exigências, se não aquela da profissão da fé comum”. Quase um empurrão para um limite tendente a zero as exigências do lado católico, tendo-se consciência de que não agrada a todos.
Por trás das palavras de Bergoglio existe sem sombra de dúvida uma sensibilidade específica. Conversando durante o vôo com a imprensa (falava na realidade de um diálogo interreligioso) disse por exemplo de considerar “bonito” que o diálogo interreligioso possa ser substituído com “um salto de qualidade, um diálogo entre pessoas religiosas”.
Tanto o Papa como Bartolomeu têm no prórpio estilo este lançar o coração além do obstáculo, apelando mais para a “experiência religiosa” de cada um que aos detalhes. Além do mais existe “o ecumenismo do sangue” (Bergoglio) dos novos mártires evocados mais vezes como uma nova ligação fraterna. Mas por maior que seja o salto, para levar o coração até o objetivo, é preciso medir tudo.
Cabe relembrar que somente ao final do mês de setembro de 2014, em Amã, o enésimo round de negociação da comissão mista criada em 2006 para verificar se existe uma defininição e um exercício do primado do bispo de Roma aceitáveis também para os ortodoxos (23 delegados católicos e 2 delegados para cada uma das 14 igrejas ortodoxas autocéfalas), que deveria levar a um acordo sobre um documento de trabalho com o título “Sinodalidade e Primado”, chegou ao fim sem concluir nada.
O que reduziu a velocidade, o que não é uma novidade, foi o Patriarcado de Moscou, pronto para balançar “uma quantidade de objeções de fundo”. As discussões “desencadearam sérios desacordos sobre a questão do primado na igreja”.
E referente ao cardeal Kurt Koch, presidente do pontifício conselho para a promoção da unidade entre cristãos, foi manifestado um prudente otimismo, as coisas foram aeradas, e o ponto de discórdia sempre será o primado de Pedro exatamente como no início do pontificado de Bento XVI, que disse querer “assumir como tarefa fundamental trabalhar com todas as energias à reconstituição da plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo”.
Por ora se falará novamente em 2015. Francisco lançou a enésima mensagem para o patriarca Kirill “nos encontraremos onde você quiser, você chama e eu vou”. Mas a disputa com a Terceira Roma fica mais complicada, tanto para um político aprofundado, como para com o irmão de Constantinopla.
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