06 Novembro 2014
Francisco arremeteu durante a audiência desta quarta-feira contra os bispos “que fazem todo o possível por chegar” a seu posto e que, “quando o fazem, se pavoneiam, vivem unicamente para sua vaidade”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 05-11-2014.
Numa manhã em que o vento – do Espírito? – soprou com força, recordou aos prelados – “estais escutando”, disse aos que o acompanhavam – que “ser bispo significa ter sempre diante de si o exemplo de Jesus, que como Bom Pastor, veio não para ser servido, senão para servir, e para dar sua vida pelos demais”.
“Vem cá, não chores, não chores! Vês, não sucede nada.” O Papa Francisco tomou entre seus braços um pequeno que não parava de chorar. O beijo do Papa o tranqüilizou. Não assim a um grupo de adolescentes que animavam Bergoglio, desde a Praça de São Pedro, como se se tratasse de uma estrela de rock: “Francisco, I love you!”disseram várias delas. O jipe descoberto parou na manhã fria de São Pedro, e o Papa lhes contestou: “E eu a vocês”.
É inegável a conexão entre este Papa e os jovens, entre o Papa e um grande número de fiéis que, cada quarta-feira e domingo, chova, sopre o vento ou brilhe o sol, se acercam para escutar o Pontífice vindo dos confins do mundo. Uma mostra de que a mensagem de Jesus segue na moda num mundo aparentemente descristianizado.
A leitura de hoje girou em torno da necessidade de que o bispo seja honesto, hospitaleiro e amigo do bem, sensato e justo. Não amante dos luxos ou do vinho, segundo dizia a carta de São Paulo a Tito. Bispos irrepreensíveis como administradores postos por Deus. Uma chamada de atenção que Francisco se encarregou de converter em alerta à consciência dos responsáveis eclesiásticos.
O Papa se dirigiu aos bispos que estavam ao seu lado. Encarou-os e sorrindo lhes disse: “Vós o escutastes?” “Somos pecadores, mas vos pedimos que rezeis por nós para que pelo menos nos pareçamos com aquilo que pede São Paulo, de acordo?“
“Cristo não deixa de suscitar os ministérios para edificar a comunidade cristã como seu Corpo. Entre estes ministérios se distingue o episcopal: o bispo, ajudado pelos presbíteros e os diáconos, é Cristo mesmo que se faz presente e continua construindo sua Igreja, assegurando sua proteção”, apontou o Papa, que reclamou a importância da “Santa Madre Igreja hierárquica”, através da qual “a Igreja exerce sua maternidade”.
“Jesus enviou os apóstolos a anunciar o Evangelho”, assinalou o Papa, apontando que “os bispos e seus sucessores estão colocados à frente da comunidade cristã, como garantes da fé e signo vivo da presença do Senhor no meio deles”.
“Não se trata de uma posição de prestígio, de um cargo honorífico. O bispo não é uma autoridade, é um serviço, porque assim o quis Jesus”, recordou o Papa, que pediu para descartar “a mentalidade humana que fala da carreira eclesiástica. Não, não deve ser assim. O episcopado é um serviço, não um cargo para mandar”.
“Ser bispo significa ter sempre diante de si o exemplo de Jesus que, como bom pastor, veio não para ser servido, senão para servir e para dar sua vida pelos demais”, acrescentou Francisco, que recordou aos bispos que hão de acolher seu ministério “em obediência, não para elevar-se sobre os demais, senão para rebaixar-se, como Jesus, que se humilhou até o final, fazendo-se obediente até a morte na cruz”.
“É muito triste quando se vê um homem que quer este ofício, que faz todo o possível por chegar a ser bispo, e quando chega não vale, se pavoneia, vive unicamente por sua vaidade”, denunciou o Papa, arrancando a ovação dos fiéis.
“Jesus não quis separar uns apóstolos dos outros, senão para que estejam unidos como uma só família”, pois “os bispos constituem um único colégio, em torno ao Papa, que é custode e garante da comunhão”. Uma comunhão que se vive “em colegialidade”, para “fazer-se muito mais servidores dos fiéis e da Igreja. Assim o temos experimentado na Assembléia do Sínodo sobre a Família”, apontou Bergoglio, que recordou como “embora vivendo em culturas e sensibilidades diferentes, todos os bispos hão de pôr-se em escuta do Senhor e do Espírito, dando atenção ao homem e aos sinais dos tempos”.
“Não haverá uma Igreja sã, se fiéis, presbíteros e diáconos não estão unidos ao bispo. Uma Igreja que não está unida ao bispo, é uma Igreja enferma”, concluiu o Papa.
Em sua saudação aos fiéis em árabe, Francisco denunciou as “guerras fratricidas e a violência”, e recordou a vigília de oração pela paz. Em italiano, anunciou que no dia 21 de junho próximo viajará a Turim para venerar o Santo Sudário e honrar São João Bosco.
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“Há bispos que fazem todo o possível por chegar [ao cargo], e quando o fazem se pavoneiam, e vivem unicamente para sua vaidade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU