04 Novembro 2014
O arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, disse hoje que todos têm direito de apresentar suas opiniões ao Papa, em alusão a uma carta que um grupo de pessoas enviou ao Sumo Pontífice, defendendo três sacerdotes chilenos que expressaram abertamente suas opiniões relacionadas com o aborto e os direitos de homossexuais.
A reportagem foi publicada pelo portal Terra, 01-11-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Através de um comunicado de imprensa, Ezzati indicou que os leigos “têm todo o direito de apresentar suas opiniões ao Papa”, frente ao respaldo aos religiosos Mariano Puga, José Aldunate e Felipe Berríos.
“Essa liberdade naturalmente se confronta com a sabedoria do Santo Padre, o qual saberá dar a resposta que ele estime, porém eles são pessoas livres, maduras, algumas cristãs. O que é importante para mim é cumprir com meu dever e creio que nisso estou”, comentou.
No passado dia 21 de outubro, autores ligados ás artes e à política nacional defenderam o labor destes três sacerdotes questionados, cujos antecedentes foram entregues pelo cardeal à autoridade eclesiástica devido a alguns ditos em torno a temas importantes.
Atores, advogados, ex-ministros, cineastas e periodistas, entre outros, figuram entre as personalidades que firmaram dita carta enviada ao Vaticano.
Na missiva se destaca que “o ocorrido é um fato isolado senão o sintoma de uma grave crise que vive nossa Igreja chilena em geral, e a Igreja de Santiago em particular”.
“Consideramos necessário compartilhar um olhar objetivo da situação, oferecendo um testemunho da vida sacerdotal dos irmãos questionados”, acrescenta a missiva.
Sobre a acusação, Ezzati reiterou que “não tem havido nenhuma denúncia, nem de minha parte, nem de outras pessoas”.
A carta surgiu em rechaço ao comportamento da Igreja durante as últimas semanas, depois que, através de uma solicitude da Nunciatura Apostólica, Ezzati entregara antecedentes sobre as críticas dos três sacerdotes à postura com que a Igreja aborda estes e outros temas relacionados com a desigualdade, os quais serão analisados pela Congregação para a Doutrina da Fé.
Os prelados denunciados tem questionado posturas da Igreja católica frente a reforma educacional que promove o governo da socialista Michelle Bachelet, bem como sua negativa de discutir sobre o aborto terapêutico e seu rechaço ao matrimônio homossexual.
Puga, um nonagenário cura que trabalhou toda sua vida entre os pobres, e Aldunate, um jesuíta de 97 anos, foram também destacados defensores dos direitos humanos durante a ditadura de Augusto Pinochet.
Em junho, Puga, apodado o “cura operário”, afirmou que “a Igreja, em vez de ser a que destruía o conceito de classes, o fortaleceu: colégios para os pobres, outros para os indígenas, outros para a classe alta”.
Aldunate, entretanto, se declarou a favor do matrimônio homossexual. “O homossexual tem direito de amar e compartilhar sua vida com outra pessoa”. “A Igreja é antiquada”, disse o jesuíta.
Berrios, também jesuíta, criou a iniciativa “um teto para o Chile”, de construção de moradias por parte de jovens voluntários para os habitantes de acampamentos precários, iniciativa que se estendeu a vários países da região e ele regressou recentemente ao país, após vários anos de missionário na África.
No passado dia 17 de outubro, sob o lema “Igreja somos todos”, centenas de chilenos se manifestaram frente à Catedral de Santiago, em apoio a estes três sacerdotes católicos.
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Todos têm direito de escrever ao Papa, afirma o arcebispo de Santiago do Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU