Por: Jonas | 04 Novembro 2014
Por que tal explosão épica da violência? É estranho fazer estas perguntas da doutora Bouthaina Shaaban, uma das assessoras próximas do presidente Bashar al-Assad e ex-tradutora, ao seu pai Hafez. Seu escritório está impecável, as flores na mesa, sua secretária preparando um resumo matinal à imprensa mundial sobre o Oriente Médio, o café quente e doce. Em um dado momento, quando falou da destruição na Síria e os ataques massivos sobre os exércitos árabes da região, era difícil acreditar que se tratava de Damasco e que, a poucas centenas de quilômetros para o leste, o Estado Islâmico (EI) esteja cortando as gargantas de seus reféns. De fato, para Shaaban é difícil definir o que realmente é o EI.
A reportagem é de Robert Fisk, publicada por Página/12, 01-11-2014. A tradução é do Cepat.
Não é o que se passa com os Estados Unidos e a guerra na Síria. “Desde o começo desta crise, eu realmente nunca senti que o tema era sobre o presidente Assad”, disse. “Foi pelo enfraquecimento e a destruição da Síria. Houve tanta destruição – de hospitais, escolas, fábricas, instituições de governo. Acredito que os estadunidenses tomam suas batalhas contra os líderes e presidentes, mas somente como um pretexto para destruir países. Saddam não era o objetivo real: era o Iraque. E o mesmo para a Líbia agora. Os Estados Unidos disseram para todos que era sobre Khadafi. A questão real é enfraquecer os exércitos árabes, seja qual for. Quando os estadunidenses invadiram o Iraque, qual foi a primeira coisa que fizeram? Dissolveram o exército iraquiano”.
Shaaban, é claro, reflete o regime da Síria. É por isso que trata a guerra como uma “crise”, e não quer refletir sobre a responsabilidade do regime nisto – ou o número de mortos pelas forças do regime, assim como pelos rebeldes -. O que, sim, possui é um cérebro analítico, muito claro, que pode dar forma coerente a um argumento, por mais que não se esteja de acordo com ela. Demonstrou isto em sua investigação, através dos arquivos presidenciais e da chancelaria, quando estava escrevendo um livro notável sobre as negociações de paz de Hafez al-Assad com o governo de Clinton, em que o velho Leão de Damasco resulta ser muito mais astuto do que o mundo pensava que fosse – e a traição dos Estados Unidos muito mais profunda do que suspeitávamos no momento -. Fala sobre a destruição do exército iraquiano, as perdas no exército sírio, o ataque suicida massivo contra as tropas egípcias no Sinai e a matança de soldados libaneses na cidade de Trípoli. E é preciso ouvir.
“Agora todos os exércitos árabes são alvos e o propósito é mudar a natureza do conflito árabe-israelense. O conflito árabe-israelense é o xis de tudo o que está acontecendo no Oriente Médio. Não estou dizendo que estas táticas funcionarão. Estou dizendo que “elas” estão apontando para os exércitos árabes. O exército egípcio é muito forte. É um exército lógico que está defendendo seu país. E então recebeu este enorme ataque no Sinai. Minha opinião é que o objetivo é eliminar a ameaça representada pelos exércitos árabes que apoiam a libertação de Gaza e Cisjordânia e Golã e fazer com que a ocupação de Israel seja mais fácil e menos custosa. Esta é uma dimensão importante da causa da Primavera Árabe. De fato, eu a chamo de Primavera Israelense”.
É claro, não é difícil debater isto. Por que o Ocidente – presumivelmente o autor destas calamidades militares árabes – gostaria de enfraquecer o exército egípcio, que está, por delegação (ou diretamente), protegendo Israel? Por que o Ocidente gostaria que os novos exércitos iraquianos fossem esmagados pelo EI, para quem Shaaban, apesar de falar em inglês, naturalmente, utiliza a sigla árabe Daesh? Por que o Ocidente bombardearia o EI se quer enfraquecer o exército sírio?
“Os estadunidenses são o principal poder no mundo e estão contrapesando este poder. Contudo, o que é o Daesh? Sinto que poderia ser o que agora é sem a ajuda financeira e política dos líderes. Como vender seu petróleo e obter seu dinheiro? Na Síria estamos sob sanções e não podemos transferir um centavo por meio de Nova York”.
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A voz do regime sírio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU