21 Outubro 2014
A melhor imagem do caminho em curso é o abraço desse domingo entre Francisco e Bento XVI, no adro de São Pedro, com todo o respeito àqueles que continuam contrapondo-os.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 20-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia seguinte, o mais bizarro do Sínodo continua sendo o parágrafo sobre os homossexuais, que obteve 118 votos a favor e 62 contra, ou seja, a maioria absoluta, mas não a de dois terços exigida por norma. Soa bizarro porque não há nada de revolucionário em si mesmo, já que é composto por citações do Catecismo e de um documento do ex-Santo Ofício assinado em 2003 pelo prefeito da época. "Há 62 padres que, na votação secreta, rejeitaram o Catecismo e Ratzinger!", exclamava um bispo estupefato.
No dia seguinte, no entanto, há outro padre sinodal, certamente reformista, que levanta o olhar cansado e adverte: "Atenção, sobre aquele parágrafo, o parecer negativo está entrelaçado. Outros também me disseram isso. Há os votos contrários dos chamados conservadores, mas também daqueles que o consideraram insuficiente, da forma como era. Por exemplo, o meu. É melhor não falar a respeito, então. São temas que requerem uma maior reflexão...".
A discussão e as votações cerradas do Sínodo são uma questão complexa que deve ser lida em perspectiva. Francisco quis que o texto na íntegra e as votações, ponto por ponto, fossem publicadas para que a Relatio Synodi se tornasse mais uma base de discussão em vista do Sínodo de outubro do ano que vem: vai se continuar falando sobre ela.
Certamente, as resistências existem, como, além disso, o risco de desvios: não por acaso Francisco interveio para advertir contra as "tentações" opostas pelo '"enrijecimento hostil" e pelo "bonismo destrutivo". A Igreja deve seguir em frente, sem medo, mas com equilíbrio.
Um princípio fundamental de Bergoglio é que "o tempo é superior ao espaço": há processos que requerem o justo "amadurecimento". Para além das questões específicas, está em jogo a ideia de Igreja "em saída", pronta para se aproximar e se curvar sobre as "feridas ensanguentadas" daqueles que sofrem.
Por isso, é importante ver Ratzinger que se levanta e vai ao encontro de Bergoglio, que o acolhe de braços abertos, como aconteceu no dia 28 de setembro na missa para os avós, como aconteceu no dia 27 de abril para as canonizações de Roncalli e Wojtyla. A contraposição é alimentada principalmente pelos ambientes (chamados) "raztingerianos", hostis a toda mudança.
Mas Ratzinger não dá margem para aqueles que querem usá-lo contra Francisco e se esquecem de que a maior revolução, de onde tudo começou, foi justamente a "renúncia" que zerou os jogos e os venenos curiais.
"Sou grato por poder estar ligado por uma grande identidade de pontos de vista e por uma amizade de coração ao Papa Francisco. Hoje, eu vejo como minha única e última tarefa apoiar o seu pontificado na oração", escreveu em janeiro o teólogo Hans Küng.
E dizendo: foi Bento XVI, em 2012, em Milão, que explicou que "o problema dos divorciados em segunda união é um dos grandes sofrimentos da Igreja de hoje, e não temos receitas simples".
Na Aula, nas intervenções da ala mais conservadora, não houve referências explícitas ao magistério do antecessor em contraposição aos temas do Sínodo. Embora alguns padres tenham encontrado alguns vestígios delas nos pedidos de maior "clareza", como que para contestar a discussão livre e o caminho sinodal.
"Mas aqueles que querem contrapô-los não os conhecem", diz o arcebispo teólogo Bruno Forte, escolhido pelo Papa Francisco como secretário especial do Sínodo e muito estimado por Ratzinger, que o consagrou bispo em 2004.
"Ao contrário, eu estou convencido de que há uma profunda continuidade entre Bento XVI e Francisco, justamente na busca de aprofundar as questões mais problemáticas. Pense-se, por exemplo, nos divorciados em segunda união e na importância da fé na celebração do matrimônio. Quando, na Relatio Synodi, se fala de tornar mais acessíveis os procedimentos das causas de nulidade matrimonial, diz-se que 'deveria ser considerada a possibilidade de dar relevância ao papel da fé dos nubentes em relação à validade do sacramento do matrimônio'. E esse é um argumento que Ratzinger apresentou várias vezes."
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A Igreja e a ferida dos divorciados: ''Foi Ratzinger que levantou a questão'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU