20 Outubro 2014
Para o vaticanista italiano Marco Politi, o Sínodo deste ano "já desencadeou um terremoto na hierarquia. Há 50 anos, nunca se tinha visto nada parecido. O Papa Francisco quer fazer do Sínodo um instrumento da colegialidade, para assumir as decisões juntos".
A reportagem é de Stefan Dege, publicada no sítio Deutsche Welle, 17-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O Sínodo está indo para a frente?
Certamente. Esse Sínodo já desencadeou um terremoto na hierarquia. Há 50 anos, nunca se tinha visto nada parecido. O Papa Francisco quer fazer do Sínodo um instrumento da colegialidade, para assumir as decisões juntos. Ele não quer mais uma Igreja monárquica, absoluta. Ele entende o Sínodo como um instrumento consultivo, que faz propostas concretas. Já a partir do debate geral da primeira semana, vieram sinais importantes e também as palavras importantes nunca antes ouvidas.
No documento oficial depois do debate geral, disse-se, por exemplo, que os homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer às comunidades cristãs. Falou-se de filhos nas famílias homossexuais. Disse-se que há elementos positivos também em matrimônios que foram contraídos apenas civilmente e também em coabitações. E, naturalmente, disse-se que poderia ser possível que os divorciados em segunda união – depois de um período de penitência – fossem admitidos à comunhão, assim como tinha imaginado o presidente emérito da Conferência Episcopal Alemã, Zollitsch, em Friburgo.
Então, o senhor vê os cardeais no caminho do progresso, com a superação da distância entre a concepção doutrinal da Igreja e a vida?
Um processo está em andamento. E, naturalmente, a reação do lado conservador foi forte. O cardeal Müller declarou que não faz mais parte da direção. Ele definiu o primeiro documento do debate geral como "inaceitável". O presidente da Conferência Episcopal Polonesa criticou o fato de que nos afastamos do ensinamento de João Paulo II. O cardeal norte-americano Burke disse que o Sínodo foi manipulado. Eu acredito que os tons do conflito interno vão continuar. O Papa Francisco gosta disso.
Qual é o papel do papa nesse Sínodo? É evidente que ele não expressa as suas opiniões... Ele tem medo do poder?
Não, é estratégia. Como papa, Francisco sabe que não se pode mais governar de maneira autoritária uma organização tão grande, com um bilhão de fiéis, centenas de milhares de padres, milhares de religiosos e bispos. Se quiser iniciar um processo de reforma, é preciso se basear no consenso – justamente como nos tempos do Concílio Vaticano II. Através de debates livres, Francisco quer levar os bispos a encontrarem um consenso para uma nova linha pastoral.
Mas, no fim, quem decide é o papa...?
No fim, se fará como no Concílio, em que o papa aceitava as decisões da assembleia e as implementava.
Qual é a visão de Francisco sobre a sua Igreja – democratizada ou descentralizada?
Francisco quer uma Igreja mais fortemente comunitária, na qual, naturalmente, o papa permanece, como instância final, que decide – não deve se tornar como o presidente de uma empresa multinacional. Mas ele quer envolver os bispos concretamente no processo decisional. Acima de tudo, ele instituiu um órgão consultivo em que estão representadas todas as correntes da Igreja. Ele trabalha de forma inclusiva. Estão o cardeal Pell, conservador, evidentes reformadores como o cardeal Maradiaga ou personalidade do centro, como o cardeal alemão Marx. Já o conselho dos cardeais é um primeiro instrumento de colegialidade. Em segundo lugar, Francisco reúne os bispos em um organismo que faz propostas. E, em terceiro lugar, ele pretende dar mais direitos às Conferências Episcopais nacionais.
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''O papa quer reformar mediante o consenso.'' Entrevista com Marco Politi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU