08 Julho 2014
Hoje, Teilhard não é mais um réprobo dotado de talento. Ele saiu do exílio que lhe havia sido imposto.
A opinião é do teólogo jesuíta francês Henri Madelin, ex-diretor do Centre Sèvres de Paris (1985-1993), ex-provincial dos jesuítas franceses e ex-diretor da revista Études. Hoje, leciona no Instituto de Estudos Políticos de Paris (IEP). O artigo foi publicado no jornal La Croix, 05-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O padre Teilhard de Chardin (1881-1955), apaixonado pela ciência e homem de grande fé, passou grande parte da sua vida de jesuíta no exílio. As autoridades romanas temiam a sua influência. Foi-lhe pedido que recusasse um pedido de admissão ao Collège de France. Muitos dos seus livros não receberam a permissão para a publicação enquanto ele estava vivo. Os seus fervorosos admiradores da época o descobriram através dos textos mimeografados que circulavam em círculos cada vez mais amplos. Em algumas bibliotecas de seminários, as suas obras haviam sido postas no "inferno", isto é, era preciso de uma autorização especial para cruzar às escondidas as portas daqueles lugares infernais.
Em 1932, em Christologie et évolution, Teilhard ousou apresentar a sua percepção da criação: "Criar, até mesmo para a Onipotência, não deve mais ser entendida entre nós na forma de um ato instantâneo, mas como um processo ou gesto de síntese. O Ato puro e o 'Nada' se opõem como a Unidade completa e o Múltiplo puro. Isso significa que o Criador não poderia, apesar (ou, melhor, em virtude) das suas perfeições, se comunicar imediatamente com a sua criatura, mas deve torná-la capaz de recebê-lo".
Tal visão evolutiva obrigava a reler de forma diferente as noções de Criação, de mal, de pecado original se a fé queria entrar em um diálogo fecundo com as ciências modernas, para além de um concordismo ingênuo e de recorrentes leituras hostis.
A hostilidade romana aos seus escritos não diminuía. Um ato de recusa em relação a esse "visionário" veio de um Monitum controverso e particularmente severo publicado pelo Santo Ofício no dia 30 de junho de 1962. Nele, se declarava que "certas obras do Pe. Pierre Teilhard de Chardin, incluindo também algumas póstumas, são publicadas e encontram um favor nada pequeno. Independentemente do devido juízo no que se refere às ciências positivas, em matéria de filosofia e teologia vê-se claramente que as obras mencionadas contêm tais ambiguidades e até mesmo erros tão graves que ofendem a doutrina católica".
Hoje, Teilhard não é mais um réprobo dotado de talento. Ele saiu do exílio que lhe havia sido imposto. Uma confirmação dessa mudança explica a recente publicação no jornal oficial do Vaticano de um artigo elogioso sobre Teilhard, reconhecido como um "precursor" e um "cientista extraordinário".
Ao se ler o L'Osservatore Romano do domingo, 29 de dezembro de 2013, percebemos, de fato, que já se evita agora toda polêmica inútil. O autor do artigo, Maurizio Gronchi, escolheu como título para a sua contribuição uma citação que resume bem o itinerário intelectual de Teilhard: "Estudo a matéria e descubro o espírito".
O artigo parte da constatação de que "hoje" os estudos filosóficos e os estudos teológicos levam em consideração o componente dinâmico e evolutivo do ser humano e do universo. Isso é particularmente perceptível, por exemplo, na obra do teólogo alemão Karl Rahner.
O artigo analisa as abordagens ao problema por parte dos papas, começando por Paulo VI. Lembra que, para o cardeal Ratzinger, a intuição teilhardiana é "verdadeira" por ser capaz de discernir no Cristo-Ômega o ponto de vista unificante da escatologia da humanidade. É um progresso efetivo para a compreensão de Cristo na atual concepção do mundo, ressalta. Com um toque de humor, o ex-responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé declara até que se pode perdoar Teilhard pela sua propensão a utilizar uma linguagem de biólogo, porque "nele se encontra uma coerência substancial com a cristologia paulina".
Segundo esse artigo, pode-se ler a assinatura de Teilhard sobretudo nos textos do Concílio Vaticano II, particularmente na Gaudium et Spes. A maior parte dos especialistas presentes nesse Concílio eram leitores de Teilhard. Falavam a respeito, se inspiravam nele, mas não ousavam se referir ao seu nome naquela época.
O artigo mostra isso com um exemplo: "Assim, o gênero humano passa de uma concepção bastante estática da ordem das coisas a uma concepção mais dinâmica e evolutiva. Isso favorece o surgimento de um formidável complexo de novos problemas, que estimula a análises e a sínteses novas".
Esse trecho da constituição pastoral Gaudium et Spes (n. 5, § 3), destacado nesse artigo do L'Osservatore Romano, não ressoa, talvez, para nós como um pequeno concentrado de imensos desenvolvimentos sobre esse tema que se encontra na obra de Teilhard?
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O ''retorno do exílio'' para Teilhard de Chardin. Artigo de Henri Madelin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU