13 Junho 2014
Ao escrever para o National Catholic Reporter, Robert Mickens retomou o caso do cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – CDF e o protegido do papa emérito. Mas por que, alguns se perguntam, Francisco teria deixado o homem de confiança de Bento XVI à frente da Congregação, quando as prioridades de Müller parecem não estar em sintonia com o próprio Francisco?
A reportagem é de Mollie Wilson O’Reilly, publicada pela revista Commonweal, 03-06-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Da forma como Mickens enxerga o caso, livrar-se de Müller já no primeiro ano de sua nomeação ao posto “iria ser visto como uma forte crítica ao juízo e à sabedoria do papa emérito”. É claro que pode ser também que Francisco esteja vendo motivos para confiar no trabalho de Müller. Porém, Mickens pensa que isso pode não ser muito importante, porque a própria CDF está se tornando menos poderosa na medida em que Francisco remodela a Cúria e concede mais poder ao Sínodo dos Bispos.
Foi frustrante a sua aceitação incondicional da crítica da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA em relação ao livro “Quest for the Living God” [A busca pelo Deus vivo], da teóloga Elizabeth Johnson, embora não seja completamente arbitrário esperar que o comitê doutrinal da conferência episcopal americana faça um trabalho respeitável. O que me incomoda é a sua insistência no fato de que, à luz da crítica feita, a decisão da LCWR em homenagear Johnson pudesse ser somente vista como uma “provação bastante aberta contra a Santa Sé e a Avaliação Doutrinal”. E, diz ele, o fato de que as irmãs decidiram homenagear alguém que os bispos tinham criticado justamente prova que as irmãs precisam ter a aprovação dos bispos (em particular, de Dom J. Peter Sartain, supervisor nomeado pela CDF) antes de decidirem homenagear alguém. “Se [Sartain] estivesse envolvido neste processo, tenho certeza de que teria acrescentado um elemento importante para o discernimento o que, então, poderia ter levado a decisão para uma direção diferente”.
O fato de que Müller possa nem mesmo ter imaginado outra forma de encarar a situação sugere o quão difícil será para as irmãs e os bispos andarem em sintonia. Ele terminou o seu discurso em que apresentou suas críticas as líderes da LCWR dizendo: “Nesta fase de implementação da Avaliação Doutrinal, estamos buscando por uma expressão mais clara daquela visão eclesial bem como alguns sinais mais substantivos de colaboração”. Mas esta colaboração parece sempre exigir muito mais empenho de um lado do que do outro: ele disse às irmãs que a decisão de homenagear Johnson “afasta mais ainda a LCWR dos bispos”, como se o motivo deste afastamento estivesse inteiramente do outro lado.
Assim, fica difícil ter esperanças para o progresso desta “colaboração”, como escrevei alhures. Mas uma razão que me deixa esperançoso é que a LCWR se mantém otimista. “A interação genuína com o cardeal Müller foi uma experiência de diálogo, respeitosa e animadora”, disseram em nota após o encontro do dia 30 de abril. Num comunicado endereçado às congregações-membro da LCWR, as irmãs escreveram: “Num debate honesto, respeitoso e animador que se seguiu à fala do cardeal Müller, tivemos a possibilidade de apresentar algumas reações que iluminaram algumas das percepções a respeito da LCWR que a Congregação para a Doutrina da Fé tem”.
E isso é uma boa notícia. Se a CDF estiver trabalhando a partir da pressuposição de que tudo o que vem do escritório doutrinal da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA é válido, então alguém precisa dizer para ela que este não é o caso. E se as irmãs irão examinar a sua organização através dos olhos de Roma, será importante esclarecer o que está impedindo Roma de vê-las claramente. Sartain pode mesmo ajudar a LCWR em seu processo de discernimento. Porém, o discernimento não é único aspecto da ordenação, e a CDF pode certamente se beneficiar da ajuda das irmãs também.
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Relação entre LCWR e a CDF: razões para se ter esperanças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU