05 Junho 2014
"Este sistema de destruição em escala planetária, facilitada pela maior parte das elites governantes e empresariais do planeta, está se tornando no “crime contra a humanidade” final e, na verdade, contra a maioria dos seres vivos. Este sistema está se tornando um 'terricídio'.", escreve Tom Engelhardt, cofundador do American Empire Project e autor de "The United States of Fear" e de uma história da Guerra Fria, livro intitulado "The End of Victory Culture", em artigo publicado pelo portal The Ecologist, 01-06-2014. A tradução é de Isaque Correa Gomes.
Eis o artigo.
Quando falamos sobre arma de destruição em massa (ou simplesmente ADM), normalmente pensamos em armas – nucleares, biológicas ou químicas – que são detonadas em certo momento, escreve Tom Engelhardt. Mas que tal pensarmos sobre as mudanças climáticas como uma ADM com um longo fusível, já aceso e saindo fumaça?
A criação de cada vez mais gases de efeito estufa – ou seja, do motor da nossa destruição futura – continua sendo uma “boa notícia” para as elites governantes do planeta Terra.
Quem poderia esquecer? Na época, em meados de 2002, houve uma grande quantidade de “informação” vinda de altos funcionários do governo Bush a respeito do programa secreto iraquiano de desenvolver armas de destruição em massa (ADM) e, assim, pôr em perigo os Estados Unidos.
E quem – além de uns poucos otários – iria duvidar de que Saddam Hussein não iria acabar tendo uma arma nuclear? A única dúvida, assim como o nosso vice-presidente deu a entender no programa televisivo Meet the Press, era esta: Quanto tempo vai demorar para ele ter? Um ano? Cinco anos?
E o nosso vice-presidente não estava sozinho aqui, uma vez que havia uma abundância de provas do que estava acontecendo. Para começar, havia os “tubos de alumínio especialmente projetados” que o autocrata iraquiano [Saddam Hussein] tinha encomendado como componentes de algumas centrífugas a fim de enriquecer urânio em seu próspero programa de armas nucleares.
Os jornalistas Judith Miller e Michael Gordon apareceram na primeira página do The New York Times com esta história no dia 08-09-2002.
Lembram daquelas “nuvens de cogumelo”?
Havia aquelas “nuvens de cogumelo” sobre as quais Condoleezza Rice, nossa assessora de segurança nacional, tanto se preocupava: aquelas que eram destinadas a se levantar contra cidades americanas caso não fizéssemos algo para parar Saddam.
Ela se queixou numa entrevista à CNN dada a Wolf Blitzer naquele mesmo dia de 08-09-2014: “Não queremos que uma arma fumegante venha a ser uma nuvem de cogumelo”. De fato não queríamos, e nem o Congresso quis!
E no caso de não acreditarmos muito nessa tal ameaça iminente iraquiana, havia ainda aqueles veículos aéreos não tripulados – os drones de Saddam Hussein! – que poderiam estar equipados com armas de destruição em massa químicas ou biológicas e que poderiam sobrevoar as cidades da costa leste dos EUA com resultados inimagináveis.
O presidente George W. Bush foi à televisão falar sobre estas ameaças e os votos dos congressistas mudaram em favor da guerra graças às instruções assustadoras secretas do governo que diziam que algumas iriam cair no Capitólio.
No fim, descobriu-se que Saddam não tinha nenhum programa de armas, nenhuma bomba atômica, nenhuma centrífuga para os tais tubos de alumínio, tampouco esconderijos para armas biológicas ou químicas, nem aviões não tripulados para entregar as suas armas inexistentes de destruição em massa, nem qualquer navio capaz de colocar tais aviões robóticos inexistentes nas proximidades da costa americana.
A “doutrina do 1%”
Mas e se ele tivesse? Quem gostaria de assumir essa possibilidade? Com certeza, não o vice-presidente Dick Cheney. No governo Bush ele propôs algo que o jornalista Ron Suskind mais tarde apelidou de “a doutrina do 1%”.
A sua essência era esta: mesmo se houvesse 1% de chance para um ataque contra os EUA, especialmente envolvendo armas de destruição em massa, deveríamos lidar com o caso como se fosse de 95 a 100% de certeza.
Aqui está o aspecto curioso: se olharmos para trás, para os medos apocalípticos de destruição dos EUA durante seus primeiros 14 anos, eles em grande parte estiveram envolvidos com as fantasias da imaginação imperial fértil de Washington.
Havia aquela “bomba” de Saddam, que forneceu parte do pretexto para uma invasão bastante desejada ao Iraque. Havia aquela “bomba” dos mulás, regime fundamentalista iraniano que nós simplesmente amamos odiar desde que eles nos reembolsaram, em 1979, pela derrubada promovida pela CIA de um governo eleito em 1953 e pela instalação do Shah, ao pôr em cativeiro os funcionários da embaixada americana em Teerã.
As ameaças nucleares eram, evidentemente, fictícias
Se acreditarmos nas notícias vindas de Washington e Tel Aviv, os iranianos também estariam perigosamente próximos de produzir armamento nuclear ou, pelo menos, estariam “à beira de estar à beira” de produzir. A produção desta “bomba iraniana” vem, há anos, sendo o foco da política americana no Oriente Médio: é o “limite” além do qual a guerra tem sido avultada.
E, no entanto, não havia e nem há uma bomba iraniana, tampouco provas de que os iranianos estavam ou estão à beira de produzir algo assim.
Por fim, é claro, havia a bomba da al-Qaeda, a “bomba suja” que uma tal organização poderia, de alguma forma, montar, transportar até os EUA e detonar numa cidade americana, ou a tal “arma nuclear à solta”, quiçá de um arsenal paquistanês, com o qual poder-se-ia fazer o mesmo estrago.
Esta é a terceira bomba-fantasia que atraiu a atenção americana nos últimos anos, muito embora haja menos provas ou probabilidade para a sua existência eminente do que aquelas do Iraque ou do Irã.
Em suma, a coisa estranha a respeito dos cenários de fim de mundo tal como conhecemos vindos de Washington, após o 11 de setembro, é esta: com uma única exceção, eles envolveram unicamente armas de destruição em massa inexistentes.
Uma quarta arma – uma que existiu mas que desempenhou um papel mais modesto nas fantasias de Washington – foi a bomba real da Coreia do Norte, a qual atualmente os norte-coreanos não têm condições de jogar na costa americana.
Arsenais nucleares reais suscitam muito menos alarde…
Num mundo no qual armas nucleares continuam sendo uma moeda fundamental quando se trata do poder mundial, nenhum destes exemplos poderia ser exatamente classificado como tendo 0% de perigo.
Saddam já teve um programa nuclear (não só em 2002-2003) e armas químicas, as quais usou contra as tropas iranianas em sua guerra na década de 1980 contra o Irã (tendo a ajuda de informações passadas pelos militares americanos) e contra a sua própria população de curdos.
Os iranianos podem estar preparando (ou não) o seu programa nuclear para uma possível saída armamentista, e a al-Qaeda certamente não iria rejeitar uma arma nuclear à solta, se estivesse disponível, embora a capacidade desta organização em usar algo do tipo seria ainda questionável.
Nesse ínterim, os arsenais gigantescos de armas de destruição em massa – americanos, russos, chineses, israelenses, paquistaneses e indianos, que podem realmente deixar um planeta devastado para trás – continuam fora dos radares americanos em grande medida.
Para falar a verdade, no caso do arsenal indiano o governo Bush ajudou indiretamente em sua expansão. Assim, foi típico do século XXI, quando o presidente Obama disse, ao tentar pôr em perspectiva as ações recentes da Rússia na Ucrânia:
“A Rússia é uma potência regional que está ameaçando alguns de seus vizinhos imediatos. Eu continuo estando muito mais preocupado quando se trata de nossa segurança na perspectiva de uma arma nuclear caindo em Manhattan”.
Mais uma vez, um presidente americano se focava numa bomba que poderia levantar uma nuvem de cogumelo sobre Manhattan. E qual bomba exatamente seria esta, senhor presidente?
Eis aqui uma ameaça muito real para se pensar a respeito
É óbvio que “havia” uma arma de destruição em massa que poderia, de fato, fazer um dano impressionante ou simplesmente afogar as cidades de Nova York, Washington, D.C., Miami, e outras cidades costeiras.
Ela tem um sistema próprio de detonação: não precisa de drones inexistentes nem são precisos fanáticos islâmicos. E diferentemente das bombas iraquiana, iraniana e da al-Qaeda, esta tem uma entrega “garantida” em nossa costa marítima, a menos que ações de prevenção sejam tomadas logo.
Neste caso ninguém precisou procurar por suas instalações secretas. Trata-se de um sistema de armas cuja planta produtiva fica à vista nos Estados Unidos, assim como na Europa, China, Índia, Venezuela, Rússia, Arábia Saudita, Irã e em outros países.
Aqui trago uma pergunta que eu adoraria ver algum visitante ou morador no estado de Wyoming fazer ao vice-presidente, caso cruzasse na rua:
Como ele se sentiria agindo preventivamente se, em vez de 1% de chance para que um país com armas de destruição em massa pudesse usá-las contra nós, houvesse pelo menos 95% – e por que não 100% – de chance de elas serem detonadas em nosso próprio solo?
Sejamos conservadores aqui, já que a questão está sendo posta a um conhecido neoconservador. Pergunte-se se acaso ele estaria a favor de prosseguir com a “doutrina dos 95%” da mesma forma como o fez na versão do 1%.
Uma cascata de catástrofes
Afinal de contas, graças a um relatório sombrio publicado em 2013, produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sabemos que atualmente há uma probabilidade de 95% de que “a influência humana foi a causa predominante do aquecimento observado [do planeta] desde meados do século XX”.
Sabemos também que o aquecimento do planeta – graças ao sistema de combustíveis fósseis em que vivemos e aos gases de efeito estufa que ele deposita na atmosfera – já está resultando um dano real a nosso mundo e, em particular, aos EUA, como um recente relatório científico divulgado pela Casa Branca deixou claro.
Igualmente temos ciência, com alto grau de certeza, dos tipos de danos em que estes 95 a 100% irão se traduzir nas próximas décadas, e mesmo nos próximos séculos, caso nada mude radicalmente:
• aumento de temperatura no final do século que poderia exceder os 12 graus célsius;
• extinção de espécies em cascata;
• secas incrivelmente graves em grandes partes do planeta (como a que ocorre atualmente no oeste e sudoeste americano);
• chuvas muito mais severas em outras regiões, tempestades mais intensas causando muito mais danos;
• ondas devastadoras de calor numa escala que ninguém na história humana alguma vez experimentou;
• massas de refugiados;
• aumento nos preços dos alimentos no mundo;
• e, entre outras catástrofes na agenda humana, um aumento do nível do mar que irá afogar as regiões costeiras do planeta.
O derretimento de camadas de gelo: um aumento de mais de 3 metros acima do nível do mar
Por exemplo, a partir de dois estudos científicos recentemente divulgados vem a notícia de que a camada de gelo da Antártida ocidental, uma das grandes acumulações de gelo no planeta, começou um processo de derretimento e colapso que poderia, a daqui a alguns séculos, aumentar os níveis mundiais do mar em 3 a4 metros.
Uma tal massa de gelo já está, segundo o principal autor de um dos estudos, em “estado irreversível”, o que significa uma sentença de morte futura para algumas das grandes cidades do mundo – independentemente de quais ações sejam tomadas de agora em diante. E isso sem contar com o derretimento do escudo de gelo da Groelândia, e sem falar do resto do gelo presente na Antártida.
Tudo isso, evidentemente, irá acontecer principalmente porque nós humanos continuamos a queimar combustíveis fósseis num índice sem precedentes e, assim, depositamos anualmente dióxido de carbono na atmosfera em níveis recordes. Noutras palavras, estamos falando sobre uma nova espécie de armas de destruição em massa.
Embora alguns de seus efeitos já estejam em jogo, a destruição planetária que as armas nucleares poderiam causar de forma quase instantânea – ou no mínimo (dado os cenários de “inverno nuclear”) dentro de alguns meses – irá, com as mudanças climáticas, levar décadas, se não séculos, para trazer o seu impacto planetário pleno e devastador.
Mudanças climáticas: ADM com um longo fusível
Quando falamos de armas de destruição em massa – ADM, em geral pensamos em armas (nucleares, biológicas ou químicas) que são usadas num momento mensurável no curso temporal. Consideremos, então, as mudanças climáticas como uma ADM que contém um fusível particularmente longo, já aceso e aí presente para qualquer um de nós ver.
Diferentemente da temida bomba iraniana ou do temido arsenal paquistanês, não precisamos da CIA ou da Agência Nacional de Segurança para investigar. De poços de petróleo para estruturas de fraturamento hidráulico, de sondas de perfuração a plataformas no Golfo do México, a maquinaria que produz este tipo de ADM e nos garante que elas estão sendo continuamente denotadas em seus alvos planetários está à vista de todos.
Poderosos como podem ser, destrutivos do jeito que serão, os que controlam esta maquinaria têm fé que, com um desenvolvimento tão demorado assim, ela pode continuar em aberto sem pôr em pânico populações ou sem lhe atribuir qualquer tipo de capacidade destrutiva.
As empresas e os países que produzem tais ADM continuam marcadamente abertos ao que estão fazendo. De um modo geral, eles não hesitam em tornar público os seus planos para a destruição em massa do planeta, embora eles, naturalmente, jamais se descrevam assim. Alguns deles até se vangloriam com o que fazem.
Mas se esta ameaça vier de algum “país vilão”...
Não obstante, se um autocrata iraquiano ou se alguns mulás iranianos falarem de forma semelhante sobre produzir armas nucleares e de como elas poderiam ser usadas, eles seriam bombardeados.
Consideremos a ExxonMobil, uma das empresas mais rentáveis da história. No começo de abril, esta companhia divulgou dois relatórios focados na forma como a empresa – segundo escreveu Bill McKibben – “planejou lidar com o fato de que [ela] e outras gigantes do petróleo têm muitas vezes mais carbono em suas reservas coletivas do que a quantidade que os cientistas dizem ser segura”. E continuou:
“A empresa disse que as restrições governamentais que as forçariam manter suas reservas [de combustível fóssil] no solo eram ‘altamente improváveis’, e que elas não apenas iriam tirá-las do solo e queimá-las como também iriam continuar a buscar por mais gás e petróleo – busca que atualmente consome cerca de 100 milhões de dólares do dinheiro de seus investidores por dia. ‘Com base nesta análise, estamos confiantes de que nenhuma de nossas reservas de hidrocarboneto no momento está no momento abandonada ou que se tornará assim”.
Noutras palavras, a Exxon planeja explorar todas as reservas de combustível fóssil que possui em toda a sua extensão. Os líderes do governo envolvidos no apoio à produção de tais armas de destruição em massa e em seu uso normalmente se abrem a respeito do assunto, mesmo quanto discutem passos para mitigar os seus efeitos destrutivos.
A política energética “verde” dos EUA
Consideremos a Casa Branca, por exemplo. Aqui trago uma afirmação que o presidente Obama orgulhosamente fez em Oklahoma no mês de março de 2012 sobre a sua política energética:
“Sob meu governo, os Estados Unidos estão produzindo mais petróleo do que em qualquer período dos últimos oito anos. Isso é importante saber. Ao longo dos últimos três anos, direcionei o meu governo para abrir milhões de hectares para a exploração de gás e petróleo em 23 estados. Estamos aumentando em mais de 75% de nossos recursos petrolíferos potenciais no alto mar. Quadruplicamos o número de plataformas operacionais a um nível recorde. Aumentamos a quantidade de oleoduto de petróleo e gás o suficiente para dar a volta no planeta e mais um pouco”.
De modo semelhante, no dia 5 de maio, um pouco antes de a Casa Branca divulgar aquele relatório sombrio sobre as mudanças climáticas nos EUA, e com um Congresso incapaz de aprovar até mesmo a legislação climática mais rudimentar que visasse tornar o país mais modestamente eficiente em energia, John Podesta, assessor do presidente, apareceu na sala de imprensa da Casa Branca para se gabar da política energética “verde” do governo.
“Hoje os Estados Unidos constituem o maior produtor de gás natural do mundo bem como o maior produtor de gás e petróleo. Projeta-se que o país vai continuar sendo o maior produtor de gás natural até 2030. Por seis meses seguidos produzimos mais petróleo aqui no país do que importamos. Por isso, esta é uma ótima notícia”.
Realmente, uma ótima notícia, e da Rússia de Vladmir Putin, que recentemente expandiu grandemente suas vastas propriedades de produção petrolífera e de gás, até as “bombas de carbono” chinesas, até as garantias de produção da Arábia Saudita, “ótimas notícias” estão sendo igualmente anunciadas. Em essência, a criação de cada vez mais gases de efeito estufa – ou seja, do motor da nossa destruição futura – continua sendo uma “boa notícia” para as elites governantes no do planeta Terra.
Quando uma certeza de 95% não é certeza o suficiente
Sabemos exatamente o que Dick Cheney – pronto para ir à guerra numa possibilidade de 1% segundo a qual algum país poderia significar danos para nós americanos – responderia caso perguntado sobre o que fazer com a doutrina dos 95%.
Quem irá duvidar de que a sua resposta seria semelhante àquela das empresas gigantes do setor energético, que financiam em grande escala a negação das mudanças climáticas e uma ciência falsa ao longo dos anos?
Ele iria afirmar que a ciência simplesmente não tem “certeza” o suficiente, que antes de comprometermos vastas somas para assumirmos o fenômeno, precisamos saber muito mais, e que, de qualquer forma, a ciência das mudanças climáticas é impulsionada por uma agenda política.
Pois para Cheney e companhia, parecia óbvio que agir com base na possibilidade de 1% fosse uma maneira sensata de “defender” os EUA, e não é contradição alguma para eles que agir baseado numa possibilidade de 95% seja desnecessário. Para o Partido Republicano como um todo, a negação das mudanças climáticas, hoje, é nada menos do que um teste de lealdade, e é por isso mesmo que nem uma doutrina de 101% iria ser o suficiente quando se trata de combustíveis fósseis e este planeta.
As ADM são o fornecimento de combustível fóssil e o sistema de combustão
Não há porque, evidentemente, pôr a culpa nestes combustíveis fósseis ou mesmo no dióxido de carbono que eles liberam quando queimados. Estes não são mais armas de destruição em massa do que o são o urânio 235 e o plutônio 239.
Nesse caso, o armamento é o sistema de produção que se estabeleceu para encontrar, extrair, vender a lucros exorbitantes e queimar estes combustíveis, e assim criar um planeta estufa.
Com as mudanças climáticas, não há “bombas” equivalentes, não há armas simples sobre a qual colocarmos o foco. Nesse sentido, a prática de fraturamento é o sistema de armas, bem como a perfuração em alto mar, os oleodutos e os postos de gasolina, além das usinas de energia movidas a carvão, os milhões de carros que preenchem nossas estradas e os consultores das empresas mais lucrativas da história.
Tudo isso – tudo o que traz combustíveis fósseis ao mercado, que torna estes combustíveis eminentemente queimáveis e que ajuda a suprimir o desenvolvimento de alternativas não baseadas em combustíveis fósseis – são as armas de destruição em massa.
Armas de destruição planetária
Os presidentes das gigantes do setor energético mundiais são os mulás perigosos, os verdadeiros fundamentalistas do planeta Terra, visto que estão promovendo um credo nos combustíveis fósseis que, garanto, irá nos conduzir para alguma versão do Fim dos Tempos.
Talvez precisemos de uma nova categoria de armas com uma sigla nova para nos focarmos na natureza das nossas atuais circunstâncias de 95 a 100%. Que chamemos esta categoria de “armas de destruição planetária – ADP” ou “armas de prejuízo planetário – APP”.
Apenas dois sistemas de armas iriam claramente se adequar em tais categorias. Um seria o das as armas nucleares que, mesmo numa guerra localizada entre o Paquistão e a Índia, poderiam criar alguma versão do “inverno nuclear”, no qual o planeta acabasse limitado de receber raios solares devido a tanta fumaça e fuligem de forma que se esfriasse rapidamente, vivenciasse uma perda massiva de culturas agrícolas, de estações e de vida.
O crime de “terricídio”
No caso de uma grande troca de armas do tipo, estaríamos falando sobre a “sexta extinção” da história planetária.
Embora numa escala temporal diferente e mais difícil de se compreender, a queima de combustíveis fósseis terminaria de uma forma semelhante: com uma série de desastres irreversíveis que, na prática, iria nos queimar e tirar grande parte da vida na Terra.
Este sistema de destruição em escala planetária, facilitada pela maior parte das elites governantes e empresariais do planeta, está se tornando (para trazer à tona outra categoria em geral não usada com relação às mudanças climáticas) no “crime contra a humanidade” final e, na verdade, contra a maioria dos seres vivos. Este sistema está se tornando um “terricídio”.
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Mudanças climáticas como uma arma de destruição em massa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU