12 Março 2014
A reportagem é de Marco Ventura, publicada no jornal Corriere della Sera, 07-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O ritual, variadamente adaptado a bovinos, ovinos e aves, contrasta com as modernas técnicas de abate: o atordoamento com tiro de pistola ou a eletronarcose reduzem o sofrimento, mas são incompatíveis com o princípio religioso pelo qual a vítima deve estar íntegra quando se derrama o seu sangue.
Desde 1993, a União Europeia obriga ao atordoamento, mas abre uma exceção para "os métodos de abate requeridos por determinados ritos religiosos". O princípio já estava em vigor na Itália desde 1980. O choque entre a liberdade religiosa de judeus e muçulmanos e os direitos dos animais voltou à atualidade em meados de fevereiro, quando a Dinamarca impôs o atordoamento mesmo em caso de abate ritual.
A tensão logo subiu no Reino Unido. No seu blog sobre religião no The Guardian, Andrew Brown defendeu as técnicas rituais e condenou a proibição dinamarquesa como um "monstruoso absurdo". Ao contrário, o presidente dos veterinários britânicos, John Blackwell, convidou o seu país a seguir o exemplo da Dinamarca.
A polêmica, aparentemente, é entre animalistas e fiéis. Mas a questão é mais profunda. Quem gosta dos animais pode se pergunta se não há uma preocupação maior com o abate ritual do que com a criação industrial de animais e, principalmente, se não há mais respeito pelo animal naqueles que fazem da sua morte um ato sagrado.
Quem teme pela religião se interroga sobre o negócio das certificações kosher e halal, e sobre quem, dentro das comunidades, idolatra o imobilismo contra os rabinos e os imãs que interpretam as fontes em evolução no tempo.
"Abaterás do modo que eu te mandei", diz Deus no Deuteronômio. Cabe sempre ao homem, único responsável, traduzir o mandamento da pedra à vida.
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Disputa sobre o abate kosher e halal: quando a religião fere a sensibilidade moderna - Instituto Humanitas Unisinos - IHU