Por: Jonas | 25 Fevereiro 2014
Jejuar não é uma questão de moda; é um costume que faz parte de quase todas as religiões, há milhares de anos. No entanto, na atualidade se trata menos de uma iluminação espiritual e mais de perder peso.
Fonte: http://goo.gl/ZCHkOQ |
A reportagem é de Tom de Castella, publicada pela BBC Mundo, 23-02-2014. A tradução é do Cepat.
Crescem as evidências apontando que dietas como as 5:2 – que restringem o consumo de calorias duas vezes por semana – podem ser uma forma sadia de eliminar alguns quilos.
Que conselho os monges e padres, que regularmente se privam de comida, podem oferecer?
O padre Alexander da Costa Fernandes, um monge católico da abadia Worth, na Inglaterra, tem uma experiência de 20 anos de jejuns.
Habitualmente, nas quartas e sextas-feiras só toma água e uma xícara de café.
Inicialmente, foi difícil e tinha dores de cabeça. Demorou nove meses para que pudesse jejuar seriamente.
Ele garante que o segredo está em se acostumar gradualmente com a ideia de jejuar. O corpo “anseia o que espera”.
Aconselha a começar deixando de tomar o café da manhã ou o biscoito do meio da manhã. Assim, dominando-se isso, desiste-se de outra coisa. Uma dieta de pão e água é, segundo ele, um enfoque sensato.
Tomar muito líquido é crucial, e o padre Alexander assinala que ajuda a criar a ilusão de um estômago cheio.
Diferentes enfoques
Os significados do jejum variam de pessoa para pessoa.
Um jejum absoluto, praticado por judeus durante 24 horas em Yom Kippur e Tisha B’Av, proíbe tanto a comida como a bebida.
E durante o Ramadã, o nono mês do calendário islâmico, os muçulmanos se abstém de sólidos e líquidos durante as horas do dia.
O jejum também é importante para os hindus, e alguns monges budistas e monjas renunciam as comidas da tarde.
No mundo laico, a dieta 5:2 define o jejum como um consumo de 500 calorias para as mulheres e 600 para os homens, durante dois dias não consecutivos da semana.
Essa forma de dieta não é própria para todo público, e não está isenta de críticas. A posição do sistema de saúde britânico é a de que é necessário realizar mais pesquisas sobre essas dietas intermitentes e aconselha que as pessoas consultem o médico antes de iniciar uma.
O jejum não é apenas fisicamente exigente. Também é psicologicamente duro, destaca o bispo anglicano de Manchester, o reverendo David Walker, que por um dia da semana, na última década, toma apenas café e água.
“À noite, antes de começar, você pensa: ‘como passarei o dia?’”, destaca o bispo Walker. Contudo, garante que nunca é tão difícil como se espera.
A chave é – aconselha – assegurar-se de se manter ocupado durante as horas das refeições. O corpo está condicionado a querer comida de acordo com uma rotina.
Para eliminar os pensamentos de fome da mente, o bispo sugere fazer algo que o mantenha absorto – como um programa favorito de televisão ou um quebra-cabeça – nas horas em que normalmente se estaria sentado na mesa para tomar o café da manhã, almoçar ou jantar.
Cinco dias
Segundo o padre Alexander, qualquer pessoa sadia e em forma é capaz de encarar um jejum curto. O tempo mais longo que ele conseguiu se privar de alimentos foi de cinco dias. “Há muito confete a respeito da comida”.
O padre acrescenta que as pessoas são bombardeadas com mensagens sobre a necessidade de energia e vitaminas. “O que meus cinco dias de jejum me ensinaram é que temos tanta energia em nosso corpo, em forma de gordura, que somente começa a ser usada após alguns dias”.
Os picos de fome são inevitáveis, inclusive para os mais experimentados. Especialmente, quando há um pão retirado do forno ou um sanduíche com bacon rondando por perto.
Quando isso ocorre, o que se pode fazer?
Aprender a disciplina da mente, aconselha o padre Alexander. “Se no dia do jejum você pensa em uma torta de chocolate ou em ter camarões no jantar, então é totalmente inútil”.
O religioso sugere eliminar sutilmente esses pensamentos e se concentrar em algo que se deveria estar fazendo.
Fazer algo como “parte de uma comunidade”, torna o jejum menos pesado, disse, por sua parte, o bispo Walker. Sendo assim, recomenda fazê-lo com amigos ou colegas para não se sentir isolado quando as coisas se tornarem duras.
Todas essas técnicas são úteis. Contudo, para os religiosos ter fome faz parte do trabalho.
“Algumas vezes a sensação de fome ajuda do ponto de vista espiritual”, concede o bispo Walker. “Quando tenho uma pontada de fome, recordo-me que estou jejuando por um propósito religioso. Isso faz com que minha mente vá até Deus e se torne um momento de oração”.
Elevação espiritual
Todas as religiões importantes, como o Sikhismo, usam o jejum para enfocar a mente de uma forma parecida.
Na Bíblia, Jesus disse “Não só de pão vive o homem”. Seus quarenta dias no deserto foi a inspiração para a Quaresma.
Os cristãos usam o jejum para pensar nos pobres, aqueles que têm fome não por decisão própria, mas pelas circunstâncias. Também é visto como uma ajuda para a concentração que aproxima de Deus.
Confidencialmente, um dos benefícios é perder peso. O bispo de Manchester perde uns três quilos em cada quaresma.
Porém, há algumas diferenças de tom e doutrina entre católicos e anglicanos.
“Uma vida de autoindulgência conduz ao desastre”, destaca o padre Alexander.
Fala da “mortificação” da carne – o jejum como penitência –, mas os anglicanos evitam essa palavra. “É uma disciplina espiritual, mas alegre”, esclarece o bispo Walker.
Contudo, um leigo pode sentir elevação espiritual com a dieta? O bispo Walker pensa que sim. “Se está aberto ao fato de que este processo de jejum abrirá as portas para um encontro espiritual, pode ser”.
O bispo acrescenta que o deixar de comer algum dia é algo básico da natureza. Recorda-se de uma vez que visitou o zoológico e leu um cartaz que dizia “Aos leões não se alimenta nas sextas-feiras”. Argumenta que se os carnívoros não necessitam comer todos os dias, nós também não.
Interromper o jejum não é o fim do mundo, destaca o padre Alexander. Seu prato favorito é peixe com batatas fritas, o prato das sextas-feiras à noite no mosteiro.
“Alguns dias, digo: ‘Ok, sorrindo, não posso mais. Preciso de peixe com batatas fritas’. Acredito que nisso há um pouco de sabedoria. É minha decisão pessoal. Não acredito que o jejum seja uma questão de vontade própria, trata-se de crescimento e da Graça Divina”.
Dessa maneira, o padre enfatiza que o benefício do jejum, em certas ocasiões, pode ser compensado pela companhia em compartilhar uma boa comida. Especialmente, quando se trata de peixe com batatas fritas.
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O guia de jejum dos monges - Instituto Humanitas Unisinos - IHU