24 Fevereiro 2014
Um dos caminhos escolhidos pelas "oposições" católicas ao Papa Francisco é a de abraçar a bandeira das "guerras culturais", radicalizando as divergências entre Igreja e cultura contemporânea, e alimentando uma verdadeira "cultura de confronto". É uma atitude que, durante anos, teve longa cidadania nos ambientes eclesiais e em amplos setores do episcopado. Na Itália, por exemplo, ela está sendo levada adiante pelo jornal de Giuliano Ferrara com os seus apelos de sabor catastrófico, por exemplo depois do episódio do relatório da ONU sobre os abusos de menores.
Há, porém, recentes nomeações episcopais que levam a pensar que estamos indo rumo a um estilo diferente. Um exemplo é o novo arcebispo de Montevidéu, o salesiano Daniel Fernando Sturla.
A nota é de Alver Metalli, publicada no blog Terre d'America, 19-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Daniel Fernando Sturla superou o "susto", como se diz na língua local, o medo de quando soube que o papa argentino, jesuíta, além do mais, tinha pensado nele, um salesiano uruguaio, como arcebispo de Montevidéu, a capital mais secular da América Latina.
Em comum entre os dois, evidentemente, não está apenas o mate, que ambos sorvem com experiência comprovada. "Agora eu a assimilei [a nomeação] e tenho confiança em Deus", suspira. A notícia foi dada há poucos dias pela boca do núncio, o italiano Giuseppe Pecorari, que o informou que, por vontade do papa, ele deverá assumir o posto de Nicolás Cotugno, o veterano arcebispo que renunciou por ter completado os 75 anos canônicos.
Sturla tem apenas 54 anos e, se tudo correr bem – saúde e outros eventos imponderáveis – ele ficará à frente da primeira arquidiocese do Uruguai pelos próximos 20 anos.
Será uma grande festa a da sua assunção no dia 9 de março, em pleno carnaval, que, mesmo no pequeno país sul-americano, assim como o Brasil, move tambores e caravanas humanas até nos cantos mais remotos.
Em algumas entrevistas, a mais recente ao jornal nacional El País, Daniel Sturla disse o que pensa sobre uma série de temas quentes. Sobre a legalização do aborto, passo que o Uruguai deu em outubro de 2012, ele respondeu que a lei foi aprovada e que agora "é preciso olhar para a frente". "E, aí, o mais importante é uma Igreja que sai para curar as feridas da sociedade, que continua defendendo a vida do nascituro desde o primeiro momento até a morte natural".
A mesma coisa para o casamento homossexual: é um negócio feito, e é preciso olhar para a frente. "Eu sou contrário à lei, mas acho que o que importa é a dignidade humana para além da condição sexual. Eu defendo a família constituída por homem e mulher, pois essas famílias são generosas na transmissão da vida. Ao mesmo tempo, sinto um enorme respeito pelas famílias formadas por um casal homossexual. É equivocado chamar isso de matrimônio. Acho que é um erro que se permita que eles adotem, mas entendo que sejam buscadas soluções legais".
À espera de um pronunciamento sobre a legalização da maconha, a mais recente das "inovações" uruguaias, o novo arcebispo coloca como premissa que se trata de "um assunto muito complexo". "Certamente, a maconha é uma droga e é ruim", acrescentou. "Mas, depois de ter ouvido os argumentos a favor e contra", ele confessou que "não tenho uma opinião completamente formada". "Acredito que os que promovem a lei o fazem com a boa intenção de dar um fim ao tráfico de drogas e de impedir que os nossos jovens deem outros passos na droga. O que foi feito até agora não teve grandes resultados. A lei que foi aprovada tem defeitos, mas eu entendo que devemos buscar maneiras para salvar os jovens das drogas".
Daniel Fernando Sturla vê os principais desafios para a Igreja concentrados em um ponto: a insensatez galopante. Por isso, ele considera que a principal tarefa é a de comunicar o sentido da vida. "Muitos uruguaios não encontram sentido na vida. Como educador, me dói no fundo da alma, especialmente quando vejo os jovens que vivem consumindo-a, em vez de vivê-la com intensidade".
Entre as suas prioridades, assim como Bergoglio no seu tempo, estará a atenção aos sacerdotes. "Ouvi-los, compartilhar e aprender com eles. A minha ideia é pensar juntos, à luz daquela maravilha que é o Papa Francisco para a Igreja, ver juntos como podemos melhor comunicar a alegria do Evangelho".
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A Igreja que não faz guerras culturais e o novo arcebispo uruguaio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU