Por: André | 20 Janeiro 2014
O dom de ser filho de Deus não pode ser “vendido” por um mal-entendido sentido da “normalidade” que leva a esquecer sua Palavra e a viver como se Deus não existisse. Esta é a reflexão que o Papa Francisco propôs, na manhã desta sexta-feira, durante a homilia da missa presidida na Capela da Casa Santa Marta.
A reportagem está publicada no sítio da Rádio Vaticano, 17-01-2014. A tradução é de André Langer.
A tentação de querer ser “normais”, quando se é filho de Deus. O que essencialmente quer dizer ignorar a Palavra do Pai e seguir uma palavra apenas humana, a “palavra da própria vontade”, escolhendo, de certo modo, vender o dom da predileção para mergulhar numa “uniformidade mundana”.
Esta tentação a teve o povo judeu do Antigo Testamento mais de uma vez, recorda o Papa Francisco, que se deteve no episódio proposto pela liturgia, tomado do Primeiro Livro de Samuel. Neste, os chefes do povo pedem ao próprio Samuel, já avançado na idade, que estabeleça para eles um novo rei, pretendendo, de fato, autogovernar-se. Nesse momento, observa o Papa, o “povo rechaça a Deus: não apenas não escuta a Palavra, mas que a rechaça”. E a frase reveladora desse distanciamento, destaca o Papa, é aquela pronunciada pelos anciãos de Israel: queremos um “rei juiz”, porque “assim seremos como os demais povos”. Ou seja, observa o Papa, “rechaçam o Senhor do amor, rechaçam a eleição e buscam o caminho do mundanismo”, como muitos cristãos fazem hoje.
“A normalidade da vida exige do cristão a fidelidade à sua eleição e não rejeitá-la para ir ao encontro de uma uniformidade mundana. Esta é a tentação do povo de Deus e nossa. Quantas vezes esquecemos a Palavra de Deus, aquilo que o Senhor nos diz, e levamos mais a sério o que diz a moda, as novelas, que são mais divertidas. A apostasia é o pecado da ruptura com o Senhor. Este é o perigo do mundanismo, porque é mais sutil”.
“É verdade que o cristão deve ser normal, como normais são as pessoas”, reconhece o Papa Francisco. “Mas existem valores dos quais não se pode prescindir como filhos de Deus. O cristão deve reter sobre si a Palavra de Deus que diz: ‘Tu és meu filho, tu é escolhido, eu estou contigo, eu caminho contigo’”. Resistindo, portanto, à tentação, como no episódio da Bíblia, de considerar-se vítimas de “um certo complexo de inferioridade” e não se sentir “um povo normal”.
“A tentação chega e endurece o coração e quando o coração é duro, quando o coração não está aberto, a Palavra de Deus não pode entrar. Jesus dizia aos Emaús: ´Néscios e tardos de coração’. Tinham a coração duro, eram incapazes de entender a Palavra de Deus. E o mundanismo abranda o coração, mas mal: nunca é bom ter o coração brando! O bom é o coração aberto à Palavra de Deus que a recebe. Como a Virgem, que meditava todas estas coisas em seu coração, diz o Evangelho. Receber a Palavra de Deus para não afastar-se da eleição”.
“Peçamos, então, conclui o Papa Francisco, “a graça de superar os nossos egoísmos: o egoísmo de querer fazer a minha vontade, como eu quero”.
“Peçamos a graça de superá-los e peçamos a graça da docilidade espiritual, isto é, de abrir o coração à Palavra de Deus e não fazer como fizeram os nossos irmãos, que fecharam o coração porque afastaram de Deus e há muito tempo não ouviam e não entendiam a Palavra de Deus. Que o Senhor nos dê a graça de um coração aberto para receber a Palavra de Deus e para meditá-la sempre. E tomar o verdadeiro caminho”.
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“Um cristão deve ser normal, sem complexo de inferioridade”, diz o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU