06 Janeiro 2014
"Lembro do caso de uma menina muito triste que no fim confessou para a professora o motivo do seu estado de ânimo: "A namorada da minha mãe não gosta de mim". A porcentagem de crianças que estuda nos colégios e quem têm pais separados é muito alto - acrescentou. As situações que vivemos hoje, portanto, nos colocam novos desafios que para nós, muitas vezes, são difíceis de compreender. Como anunciar Cristo a estes meninos e meninas? Como anunciar Cristo a geração que muda?"
São palavras do Papa Francisco, pronunciadas na conversa com os superiores gerais, no Vaticano, dia 29 de novembro de 2013. A conversa foi sintetizada e publicada pela revista La Civiltà Cattolica, dia 03-01-2014.
A reportagem é de Paolo Rodari e publicada pelo jornal La Repubblica, 05-01-2014.
O Papa mostra como na Igreja existe uma consciência não banal a respeito da realidade familiar hoje. Ao lado das famílias tradicionais, há casais formados por pessoas hetero e homossexuais. E este dado de fato, diz subsntancialmente o Papa, não deve ser eludido. É o que repete sempre o cardeal de Viena, Christoph Schönborn: a Igreja deve dar-se conta que "hoje a família é patchwork, é uma família feita de divorciados, recasados etc".
Francisco diz aos superiores gerais: "É preciso estar atentos para que não se dê a estas novas gerações uma "vacina contra fé". Para Bergoglio, "o educador deve estar à altura das pessoas que educa, deve se perguntar como anunciar a Jesus Cristo para uma geração que muda". E ainda: "A tarefa educativa hoje é uma missão chave, chave, chave".
Não há como não constatar que o Papa chega onde os seus predecessores nunca chegaram.
Ontem foi o jornal católico Avvenire a jogar água fria nos entusiasmos que o Papa suscita, escrevendo num editorial que "prioridades são trabalho e família, e não casais gays". O Papa, contudo, não parece querer ceder sobre o leitmotiv do pontificado: a Igreja deve acolher a todos e não fechar portas.
Recentemente, Víctor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica da Argentina, e amigo do Papa, explicou: "Deve haver uma proporção adequada na frequencia com a qual alguns argumentos são inseridos na pregação. Se um pároco durante o ano litúrgico fala dez vezes de moral sexual e somente duas ou três do amor fraterno ou da justiça, há uma desproporção. Igualmente se fala muitas vezes contra o casamento de homossexuais e pouco da beleza do matrimônio".
Não é por acaso que o padre Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattlolica: "Papa Francisco quer se entenda que estamos ante um mundo em mudança e a Igreja deve compreender como anunciar o Evangelho num mundo que muda. O Papa não quer definir mas abrir as janelas. A situação de um casal gay deve ser vivida como um desafio, porque o Evangelho deve ser anunciado a todos".
E as palavras do Papa são aplaudidas pelas associações gays. O portavoz do Gay Center, Fabrizio Marrazzo, diz: "Seria um fato histórico se o Papa se encontrasse com famílias de casais gays. De Bergoglio vem uma reflexão que contrasta com a cultura filha da homofobia. A sua é uma atenção inédita de um pontífice para quem se deve olhar com confiança".
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A abertura, de surpresa, de Papa Francisco. "Os casais gays um desafio para quem educa. Não afastemos seus filhos da fé" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU