04 Novembro 2015
As prisões, por decisão do Tribunal vaticano, do famigerado sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e da advogada Francesca Chaouqui, ainda mais famigerada do que o primeiro, "no quadro de investigações da polícia judiciária realizadas pela Gendarmeria Vaticana e iniciada há alguns meses a propósito de subtrações e divulgações de notícias e documentos confidenciais", dão a entender algumas coisas muito importantes que não devem escapar por trás da simples crônica.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada no sítio Il Sismografo, 03-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma longa e minuciosa investigação em andamento há meses
1) Desde que os órgãos competentes vaticanos ficaram sabendo da notícia do furto e da divulgação de "documentos confidenciais", meses atrás, começaram imediatamente delicadas e complexas investigações, cujos resultados logo levaram a dois suspeitos: L. Vallejo Balda e F. Chaouqui, que, como lembra o comunicado da Sala de Imprensa, "no passado, haviam sido, respectivamente, secretário e membro da Cosea (comissão referente de estudo e análise da organização das estruturas econômico-administrativas da Santa Sé, instituída pelo papa em julho de 2013 e, posteriormente, dissolvida depois do cumprimento do seu mandato).
Uma mensagem precisa e unívoca
2) Os documentos roubados não pertenciam à escrivaninha do papa (como no caso do Vatileaks de Paolo Gabriele com o Papa Bento XVI). São documentos da comissão referente aos quais Vallejo e Chaouqui tinham acesso legítimo. E, desse arquivo, foram roubados alguns documentos para serem entregues aos jornalistas autores dos dois livros que estão sendo lançados e que, agora, perderam boa parte do seu suposto "poder deflagrante". A reação dos órgãos competentes do Vaticano, fulminante, oportuna e cirúrgica, depois que, "sábado e domingo passados, foram convocadas duas pessoas para serem interrogadas com base nos elementos recolhidos e nas provas alcançadas", foi a resposta mais adequada e eficaz que se podia imaginar. Acima de tudo, foi uma mensagem precisa e unívoca: ninguém pense que a Santa Sé se deixará manipular por aqueles que, dentro ou fora, imaginam que o que é crime grave em qualquer outra entidade ou ordenamento do mundo, público ou privado, para além dos muros, é menos grave ou pode ser consumado impunemente dizendo "eu fiz isso para defender o papa".
"Para defender o papa..."
3) "Para defender o papa", dito de má fé ou de boa fé, nos tempos do Vatileaks (que Chaouqui celebrou com entusiasmo "tuiteiro") ou agora, em uma reversão repentina do fenômeno já visto, é uma mentira, aliás, imensamente conhecida pelos especialistas: convencer o ladrão de documentos confidenciais, não próprios e sobre os quais não tem nenhum direito, de que o seu furto foi "pelo bem". Alguns jornalistas, e não só os autores dos livros dos livros que estão sendo lançados, especialistas na elaboração de textos com documentos roubados, sabem usar muito bem esses "cantos de sereia". Os bobos, por serem borderline, por serem mitômanos e megalomaníacos, por dinheiro ou por outras coisas, caem facilmente nisso. Roteiro já visto, miserável e nojento. Eu gostaria de saber como reagiriam esses jornalistas se outra pessoa escrevesse um livro com documentos privados deles – talvez delicados e sensíveis – roubados de modo ilegal e ilegítimo.
A serviço dos inimigos
4) Não se defende uma pessoa, neste caso o papa, ao qual se jurou lealdade, fidelidade, confiança e colaboração, subtraindo documentos privados e entregando-os a jornalistas inimigos do papa e da Igreja. Não é fácil pensar que Vallejo e Chaouqui pudessem acreditar que esses jornalistas trabalhassem para defender o pontífice e a Igreja, ou que estivessem verdadeiramente interessados no bem da comunidade eclesial, realidade que eles não conhecem. Esses dois ex-colaboradores de Francisco, entre o papa e os jornalistas em questão, escolheram os jornalistas, embora sabendo quem eram essas pessoas, nada novas em termos de periódicos ataques contra o papa e a Santa Sé. Talvez se repete o drama daquilo que o The New York Times, em um caso semelhante, definiu como "os idiotas perfeitos".
Grave traição
5) Se a Santa Sé tivesse jurisdição sobre esses dois jornalistas, ela faria com que eles tivessem um péssimo fim, porque, como assinala o comunicado vaticano, "a divulgação de notícias e documentos confidenciais é um crime previsto pela Lei nº IX do Estado da Cidade do Vaticano (13 de julho de 2013), art. 10 (art. 116 bis c.p.)". Não conhecemos as leis italianas a esse respeito, mas nos parece que, pelo pouco que soubemos de especialistas, no caso das leis italianas, poderiam ser configurados os crimes de "furto e apropriação indevida" para Vallejo e Chaouqui e de "receptação" para os jornalistas. E, nesse caso, ficamos apenas no âmbito das normas legais. Se, depois, passarmos para o âmbito ético, as questões são ainda mais delicadas ou, melhor, dramáticas, especialmente para Vallejo e Chaouqui, porque traíram "a confiança dada pelo papa", coisas que o comunicado define como "grave traição".
Fronteira entre notícia e furto
6) A imprensa honesta, respeitosa da lei e do bem, deveria ser clara e transparente ao condenar livros ou notícias "fabricadas" com documentos roubados. E esperamos que ninguém tenha a ideia doentia de dizer que se trata simplesmente de uma "notícia", porque, neste caso, entre notícia e crime, não há fronteira. Não entender essa realidade abre as portas para a selva, onde ninguém, nem grande nem pequeno, nem humilde nem poderoso, teria qualquer garantia de viver tranquilo e respeitado. Às vezes, tem-se a impressão de que questões desse tipo, muito delicadas, não são levadas em devida consideração, ou se finge que são marginais. Mas são dimensões decisivas para uma sadia e criativa convivência civil.
Gravações e transcrições ilegítimas
7) Depois, há uma coisa ainda mais grave do que dissemos: as transcrições de gravações da voz do Santo Padre. A esse respeito, sabemos pouco ou nada. A partir de algumas indiscrições da imprensa, conclui-se que seriam frases do papa sobre questões financeiras e organizacionais da Sé Apostólica e, obviamente, arrancadas de modo totalmente ilegítimo. Não seriam gravações oficiais e autorizadas, e, portanto, seria mais um furto de gravidade sem precedentes. De todos os modos, nos dois casos (gravações autorizadas ou clandestinas), a divulgação mediante a entrega das transcrições aos autores dos livros, ou a apenas um, continua sendo um fato inadmissível sobre o qual existe apenas uma conduta possível: uma condenação "sem choro nem vela".
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O último ataque do Vatileaks e os livros com documentos roubados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU