26 Outubro 2015
"Os tempos mudam, e nós, cristãos, devemos mudar continuamente", mudar "firmes na fé em Jesus Cristo, firmes na verdade do Evangelho, mas a nossa atitude deve se mover continuamente de acordo com os sinais dos tempos. Somos livres. Somos livres pelo dom da liberdade que Jesus Cristo nos deu". É o convite que Francisco repetiu várias vezes na homilia da missa celebrada na manhã dessa sexta-feira em Santa Marta. Um convite a agir "se medo" e "com liberdade", mantendo-se longe dos conformismos tranquilizantes, que o papa fez comentando a carta de São Paulo aos Romanos.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 24-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não há conexões diretas com o penúltimo dia do Sínodo sobre a família, que iniciou duas horas depois com a discussão sobre o esboço do documento final, mas as palavras de Francisco são uma chave de leitura: "É próprio da sabedoria cristã conhecer essas mudanças, conhecer os diversos tempos e conhecer os sinais dos tempos".
E, para compreendê-los, explicou o Papa Bergoglio, é preciso "discernir", "com o silêncio, com a reflexão e com a oração". Isso foi o que tentaram fazer os 270 Padres sinodais que, por três semanas, discutiram sobre a família e sobre como anunciar o ensinamento do Evangelho nas sociedades sujeitas nessas últimas décadas a mudanças profundas.
Na manhã dessa sexta-feira, 51 deles se pronunciaram. O texto proposto, uma centena de páginas que refletem os diversos pontos comuns que surgiram nos últimos dias, escrito unanimemente pelos dez encarregados pela redação, foi apresentado na Aula pelo cardeal relator-geral Peter Erdö e obteve muitos consensos.
Ele é compartilhado "pela grande maioria dos Padres", disse o cardeal brasileiro Raymundo Damasceno Assis. "É ótimo e não há mudanças de doutrina", diz cardeal australiano George Pell, saindo da Aula.
O texto que será votado na tarde desse sábado, parágrafo por parágrafo, contém propostas e questões em aberto a serem confiadas ao papa, que vai decidir o que fazer e não é, portanto, um documento dirigido ao exterior.
Quanto à atitude em relação aos divorciados recasados, o cardeal Edoardo Menichelli disse ao canal TV2000 que "há uma grande sensibilidade de abertura: esses irmãos não estão fora da Igreja". No texto, como surgiu nos círculos menores, menciona-se a possibilidade de que eles possam ser padrinhos e madrinhas, e que se envolvam nos conselhos pastorais.
Quanto à questão mais controversa, a possível admissão aos sacramentos, uma via que poderia encontrar um consenso significativo é a de deixar mais espaço para o "discernimento" na confissão.
Esse é o ponto sobre o qual, ainda nessa sexta-feira, foram feitas as maiores objeções por parte de alguns Padres sinodais, que pediram que se esclareça mais "a relação entre a consciência e a lei moral". Tomaram a palavra sobre isso, dentre outros, os cardeais Gerhard Ludwig Müller e Robert Sarah, alguns bispos poloneses e também o presidente dos bispos estadunidenses, Joseph Kurtz.
O texto não será "diluído", assegurou o cardeal ganês Peter Kodwo Appiah Turkson, durante a coletiva na Sala de Imprensa. Na noite desse sábado, se poderá ver que consenso vão obter o documento inteiro e os parágrafos individuais.
O cardeal canadense Gerald Cyprien Lacroix lembrou que "o trabalho que fazemos não vai se tornar um texto legislativo", mas "vai reunir aquilo que dissemos. Talvez o resultado não será unânime, mas não é um problema. Apresentamos ao Sucessor de Pedro a nossa reflexão, e ele vai nos ajudar a seguir em frente. Quando todos pensam igual, ninguém pensa. No Sínodo, buscamos juntos discernir o melhor caminho, é um sinal de boa saúde".
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Comunhão aos divorciados: o confessor é quem decide - Instituto Humanitas Unisinos - IHU