05 Outubro 2015
As mulheres indígenas foram as protagonistas da marcha realizada nesta quarta-feira e que faz parte do levante dos povos nativos no Equador. Elas levaram até a representação da Organização das Nações Unidas (ONU) uma carta com o relatório das agressões sofridas desde 2 de agosto, quando começou o movimento. Nela, as mulheres pedem a condenação da violência contra a população nativa e a exigência de que o Governo de Rafael Correa liberte os mais de 100 indígenas e ativistas presos (número que a Procuradoria-Geral do país diz ser 56).
A reportagem é de Soraya Constante, publicada por El País, 02-10-2015.
Um dos casos que elas querem divulgar é o de Margot Escobar, ambientalista de 61 anos que já foi notada nos protestos de 2013 contra a 11a Rodada Petroleira. Na semana passada ela sofreu agressões físicas e foi detida em Puyo (na província de Pastaza, na região amazônica), e poderia ser levada a outra província do país dentro das próximas horas.
Cerca de 45% dos 200 integrantes fixos do acampamento são mulheres. Na tarde de quarta-feira, elas lideraram as cinco marchas que percorreram Quito, as mais recentes desde 13 de agosto, quando chegaram à capital. Sua tarefa é sustentar awhipala (bandeira de sete cores que representa as comunidades andinas) e abrir caminho para os manifestantes homens, que vêm atrás delas. Até mesmo a equipe de segurança do protesto vai atrás delas.
São mulheres como Diocelinda Iza Quinatoa, que aprendeu a ler e escrever com 14 anos e logo se dedicou a alfabetizar sua comunidade. Elas têm coisas para dizer: “Nós somos as guardiãs da soberania alimentar, e a assinatura de um tratado de livre-comércio com a Europa nos prejudicaria. Os transgênicos chegariam e nossa produção vai passar a depender do mercado”, afirma Quinatoa. Essa mulher quíchua está acampada com os filhos e tem um motivo para isso. “Uma das heranças é saber resistir e lutar. Nós, indígenas, não temos nada garantido pelo Estado”.
Rosa Lanchimba, uma mãe solteira do povo kayambi, que acompanha todas as marchas com seu violão, diz que para ela o mais importante é a educação de seu filho. “Ele tem oito anos e, para chegar à escola, precisa caminhar uma hora e meia ou viajar meia hora em um ônibus. Por isso, para mim, o mais importante é que as escolas comunitárias voltem a funcionar”, afirma.
Elas falam dos problemas concretos no campo. Como Carmen Lozano, que vem do povoado de Saraguro. “Somos criadores de gado, somos agricultores, mas não podemos colocar nossos produtos no mercado porque solicitam requisitos e normas. Isso não é possível porque não somos empresários”, diz. Ela acredita que o presidente Correa não as apoia. “Ele não eliminou a pobreza. Estamos ainda mais em crise. Antes vendíamos os produtos. Agora fazemos queijo, leite, e os policiais os tiram de nós e ficamos sem nada”.
As mulheres amazônicas se dizem contra o extrativismo. Alicia Kawiya, da tribo waorani, veio a Quito para levantar a voz: “Nós viemos lutar por nosso território, os rios estão contaminados, queremos água para nossos filhos, estamos lutando pela vida das nossas novas gerações”.
Também há dirigentes mulheres que participam das assembleias com voz e voto. “Pedimos que acabem com a intromissão de militares e policiais nas casas de nossos companheiros indígenas, e que se respeite as mulheres, as crianças e as pessoas deficientes, que também são vítimas do Estado”, afirma Katy Betancourt, que, aos 31 anos, é representante das mulheres na Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). Ela é a voz que organiza as saídas com um megafone e mantém alta a moral e a dignidade de seus companheiros. “Vamos, companheiros, com força e em paz”, dizia ela na quarta-feira, antes de caminhar até o centro de Quito. E seu desejo se cumpriu. A marcha dos indígenas, apoiada por operários e outros grupos profissionais, não se deteve diante das barricadas da Polícia. E em poucas horas, todos estavam de volta ao local do acampamento.
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As mulheres indígenas levantam a voz em protestos no Equador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU