02 Outubro 2015
Ter uma audiência com o papa pode ser um evento daqueles que ocorrem uma única vez na vida. Mas, no caso, a Irmã Norma Pimentel, diretora da organização Catholic Charities of the Rio Grande Valley, no Texas, tem tido sorte e superado as próprias expectativas: o seu primeiro encontro com o papa veio num evento organizado no dia 31 de agosto deste ano, quando Francisco a chamou direto de uma tela gigante de televisão, no meio da Igreja do Sagrado Coração, em McAllen, no Texas, numa videoconferência.
A entrevista é de Nuri Vallbona, publicada por National Catholic Reporter, 28-09-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Eu te amo”, disse ele à religiosa pertencente à Congregação das Missionárias de Jesus, elogiando o seu trabalho junto aos imigrantes na fronteira com o México.
Este evento seguiu-se por uma série de convites para participar de cobiçados eventos papais durante a visita dele aos Estados Unidos. Pimentel se sentou na seção VIP na Casa Branca, assistindo ao presidente Barack Obama saudar o Papa Francisco no dia 23 de setembro. Depois, veio a missa pública seguida por uma viagem a Nova York, onde ela viu o papa discursar às Nações Unidas no dia 25. Mais tarde, visitou a escola Our Lady Queen of Angels, no bairro de Harlem, ainda em Nova York, com a Irmã Donna Markham, presidente da Catholic Charities. Pimentel finalmente falou diretamente com o papa na manhã de sábado, no dia 26 de setembro na residência diplomática da Santa Sé.
A religiosa conversou com o Global Sisters Report – um site hospedado no National Catholic Reporter – por telefone no sábado enquanto se dirigia, de metrô, ao aeroporto. Os comentários feitos por ela foram editados para fins de brevidade e clareza.
Eis a entrevista.
Qual foi sua primeira reação ao ver o Papa Francisco em pessoa?
Num primeiro momento eu fiquei um pouco nervosa. Na verdade, nervosa por causa do momento, da emoção por aquele exato instante em que ele estava na minha frente e em que me viu. Ele me reconheceu e ficou muito feliz em me ver. Eu fiquei feliz e contente. Foi muito legal. Pude lhe apresentar uma pintura que havia feito especialmente para ele.
Então foi a senhora quem pintou o quadro?
Sim, fui eu. Na verdade, tenho o dom de ser uma artista, e assim pude pintar o quadro. Eu costumo pintar a óleo, mas ultimamente tenho pintado a pastel, e foi isso o que fiz: uma pintura a pastel.
É uma pintura que retrata uma família de Honduras; uma mãe com o seu garotinho. O nome dele é Tomás, então intitulei a pintura de “Tomasito”. A obra tem a expressão deles dois depois de realizarem uma longa viagem a tal ponto de estarem extenuados. Enquanto se sentavam para comer sus refeições, pude tirar uma foto. E com ela, fiz a pintura capturando a expressão em seus olhos daquilo que passaram ao longo da jornada que fizeram para vir aos Estados Unidos.
E é essa a pintura que eu gostaria de dar ao Santo Padre. Ele manifestou um apreço pela obra, pois viu no rosto uma compreensão do significado buscado com a pintura.
Norma Pimentel, “Tomasito”, pastel sobre tela, 2015.
Quanto tempo você ficou com o Papa?
Foi apenas alguns minutos. Ele estava se preparando para sair em viagem à Filadélfia. Ele precisava ir para o aeroporto e nós não tínhamos muito tempo. Havia outras pessoas lá também. A Irmã Donna Markham, presidente da Catholic Charities dos EUA, também estava comigo.
O que a disse a ele?
Disse que não talvez eu não tenha uma outra oportunidade de me encontrar com ele e de agradecê-lo pessoalmente, então eu pedi uma bênção para mim, como parte de quem eu sou, pelo que tenho feito e por todas as pessoas que têm nos apoiado, rezando por mim e me ajudando de todas as maneiras possíveis. E então eu lhe dei um abraço em nome de todos nós e recebi uma bênção também por todos nós.
Ele disse alguma coisa?
Ele disse obrigado e que gostava de tudo o que fazemos, especialmente as irmãs dos Estados Unidos. Ele estava muito feliz por nos abençoar pelo que fazemos e disse para continuarmos com o nosso trabalho; pediu para orar por ele. Ele nos pediu que continuemos rezando e termos bons pensamentos para com ele.
O Papa já fez muitos elogios às irmãs, em particular pelo trabalho que elas vêm fazendo. O que isso significa para a senhora?
É tão animador e maravilhoso saber que ele tem dado o seu amor e o seu cuidado a nós. Nos faz sentir parte dele e de quem ele é. Ele é o nosso líder espiritual, e vê-lo dizer estas coisas é maravilhoso.
Pode me dizer como é estar no ambiente em que ele cumprimenta as pessoas comuns, especialmente os imigrantes e as crianças não documentadas? Ele parece ter uma ligação com as pessoas que ele conhece em suas viagens. A senhora pode descrever isso para nós?
O que vejo nele é um amor e um cuidado especiais pelos mais vulneráveis e mais frágeis. Ele simplesmente se identifica tão intimamente com estas pessoas e quer apoiá-las e encorajá-las. Acho que é por isso que ele pede para orarmos tanto por ele, porque o papa quer estar sempre cheio daquele amor que deseja dar a toda a gente.
Algum momento memorável que a senhora teve nestes dias?
Olha, houve muitos destes momentos. Foi maravilhoso, uma experiência que é difícil de explicar – fazer parte de um evento tão histórico, estar na Casa Branca e ouvir o presidente e o Santo Padre dizerem as mesmas coisas. Foi tão edificante estar nas Nações Unidas. Eu rezei para que ele nos ajude a compreendermos a nossa responsabilidade, a amar os outros, a cuidar dos outros.
A senhora participou de um passeio com Donna Markham e o papa?
O passeio foi feito a uma escola com alguns dos funcionários. Eles o levaram a conhecer as crianças em salas de aula. Foi bem legal. O papa interagiu com elas e até mexeu num dos computadores de uma das salas, que são usados em atividades educativas. Ele, na verdade, pegou um tablet e brincou com ele (…). Foi muito legal vê-lo fazer isso.
Ele depois foi a um salão da escola onde estávamos todos reunidos (…), diferentes grupos formados por pessoas da comunidade, da igreja, tiveram a oportunidade de presenteá-lo com uma lembrança. Foi interessante ver como ele interagia com cada um, tornando a ocasião bem especial. Ele pediu: “Em primeiro lugar, quero cantar também”. E daí uma senhora se levantou e cantou (…) em sua língua nativa. Foi maravilhoso. Ela cantou em espanhol. As interações com o grupo …
Na sequência, em seu trabalho juntos aos imigrantes, o que a senhora tira desta visita do pontífice e de que forma ela vai impactar em sua obra?
O que levo comigo é um forte engajamento no sentido de continuar a fazer o que estamos fazendo, aquilo que começamos. É como tivéssemos ganhado um impulso do Espírito Santo para seguirmos adiante e continuar a fazer o que temos feito, a passar o nosso trabalho adiante e através das nossas ações, palavras, através daquilo que faço, especialmente com os imigrantes e as famílias, quando os acolho e ajudo-os.
A senhora acha que a mensagem do Papa irá ressoar entre os americanos e amenizar as opiniões deles quanto à chegada de imigrantes e refugiados ao país?
Sim, com certeza. Em todos os lugares em que estive, em Washington e em Nova York, as pessoas têm enxergado a situação de uma forma diferente. Podemos sentir esta mudança no ar, o sentimento de uma paz e uma alegria maravilhosa, um sentimento que as pessoas sentem ao nosso redor e em todos os lugares. São as pessoas com as quais eu me deparo na estação do metrô... dizendo que estão muito felizes. Eu espero que este sentimento permaneça com a gente todo o tempo. Acho que há uma felicidade renovada em cada um de nós. É maravilhoso, e tocou a todo mundo: os policiais, os trabalhadores, todo mundo. Tudo o que precisamos fazer é vê-lo, não precisa nem tocá-lo (...) a gente sente a sua presença.
Durante toda a viagem, a senhora esteve acompanhando o que o Papa vinha dizendo. Qual a mensagem que mais lhe tocou? Qual a que mais lhe inspirou?
A mensagem que eu ouvi ele dizer, e que significa muito para mim, é a de seguir em frente e fazer a coisa certa: e não negligenciar aqueles que precisam de nós (...), aqueles que estão pedindo a nossa ajuda. Precisamos ser boas pessoas que se preocupam com o meio ambiente, com o mundo, para fazê-lo um bom lugar para todos. Precisamos ser bons cuidadores de nós mesmos e dos outros, bem como da criação de Deus.
São estas as minhas inspirações. Não são palavras do Santo Padre. É como eu o compreendi.
Para a senhora, o que significa ter um papa latino?
É como se ele fosse um de nós. Nós, na verdade, sentimos esta conexão. O fato de eu poder falar com ele em espanhol é maravilhoso.
Claro, o momento em que eu me encontrei com ele pessoalmente e pude lhe dar um abraço e pedir sua bênção (…), acho que este foi, para mim, o momento mais maravilhoso de toda a viagem.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Encontro com o Papa Francisco: Perguntas e Respostas com a Irmã Norma Pimentel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU