29 Setembro 2015
Mais de 150 governantes do mundo se reunirão em Nova York neste final de semana, para adotar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de metas destinadas a erradicar a pobreza extrema, lutar contra a desigualdade e a injustiça, e frear a mudança climática. Os 17 ODS contribuirão para concretizar a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, concentrando a atenção nas oportunidades que permitirão atingir um futuro sustentável.
A reportagem é de Brian Lipinski, publicada por Envolverde, 25-09-2015.
Uma das prioridades da agenda é reduzir pela metade o desperdício de alimentos por habitante até 2030, segundo a meta 3 do objetivo 12, que estabelece “garantir as pautas de consumo e de produção sustentáveis”. Se isso for alcançado, a ambiciosa meta não servirá apenas para melhorar a segurança alimentar, mas também o sustento, bem como para reduzir os gases-estufa e economizar terra e água.
Proporção de alimentos disponíveis que se perde ou são desperdiçados. Foto: WRI |
Definitivamente, reduzir o desperdício de alimentos é um objetivo em si mesmo e um meio para conseguir outros ODS. No mundo são gastos US$ 750 bilhões por ano com alimentos perdidos ou desperdiçados em toda a cadeia de fornecimento de alimentos. Reduzir a perda e o desperdício de alimentos poderá ajudar a recuperar o gasto econômico e reduzir a carga financeira sobre as populações mais vulneráveis do mundo.
Na África subsaariana, uma das regiões mais pobres e com maior insegurança alimentar do mundo, o Banco Mundial estima que, reduzindo em apenas 1% as perdas de produção após a colheita, já será possível economizar US4 40 milhões por ano. E desse total, a maior parte dos benefícios irá diretamente para as mãos dos pequenos agricultores que cultivam alimentos.
De um ponto de vista ambiental, a perda e o desperdício de alimentos representam um uso extremamente ineficiente dos recursos. Em termos comparativos, se o desperdício fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases-estufa, superado apenas por China e Estados Unidos.
Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) indica que a perda e o desperdício de alimentos liberam na atmosfera cerca de 3,3 gigatoneladas de gases-estufa. Além disso, são destinadas grandes quantidades de água e fertilizantes para a produção de alimentos que nunca chegarão à mesa. Isso é um enorme custo ambiental a pagar por alimentos aos quais os humanos dão pouco ou nenhum uso.
Do ponto de vista de segurança alimentar, reduzir a perda e o desperdício de alimentos é uma grande oportunidade para fechar a brecha de calorias entre o lugar em que atualmente o mundo se encontra e aquele aonde precisa chegar para alimentar o planeta de forma sustentável. O mundo está diante de uma brecha de aproximadamente 70% entre as colorias dos cultivos produzidos e as necessárias para alimentar uma população mundial que, se estima, estará em torno dos 9,5 bilhões de habitantes em 2050.
Recuperar parte do desperdício pode ajudar a fechar a brecha e, ao mesmo tempo, consolidar o sustento e melhorar a segurança alimentar, sem necessidade de custos ambientais adicionais. A boa notícia é que o desperdício de alimentos, um assunto com frequência ignorado, começa a atrair a atenção que merece, tanto do público como do setor privado.
Na terceira semana deste mês, a Agência de Proteção Ambiental e o Departamento de Agricultura, ambos dos Estados Unidos, anunciaram um objetivo ambicioso em concordância com os ODS de reduzir em 50% o desperdício de alimentos nesse país até 2030. Em apenas cinco anos, a Grã-Bretanha reduziu esse desperdício em 21%, e a Dinamarca conseguiu a impressionante diminuição de 25% no mesmo período.
Do lado empresarial, o Fórum de Bens de Consumo (CGF), que representa mais de 400 empresas em 70 países, adotou uma resolução para reduzir pela metade o desperdício de alimentos entre seus membros até 2025. No Instituto de Recursos Mundiais (WRI), trabalhamos para reduzir o desperdício mediante o Protocolo de Perda e Desperdício de Alimentos (FLW), junto com nossos sócios CGF, FAO, Fusions, Pnuma, WBCSD e Wrap.
Com base em que “o que se mede se administra”, o Protocolo FLW é um esforço de múltiplos atores para criar um padrão de prestação de contas e informação que permita quantificar a perda e o desperdício de alimentos. O Padrão FLW do Protocolo permitirá que os países e as empresas quantifiquem seu desperdício de forma verossímil e consistente e identifiquem onde e quantos alimentos são perdidos. Depois, poderão utilizar essa informação para identificar as estratégias apropriadas para fazer o perfil do caso. Isso gerará benefícios econômicos, aumentará a segurança alimentar e reduzirá o impacto ambiental.
O Padrão FLW estará disponível a partir do começo do próximo ano, a tempo para países e companhias fixarem suas bases e iniciarem a medição de seus progressos dentro da meta 12.3 dos ODS. Esse parâmetro, junto com os esforços para reduzir o desperdício desde a roça até a mesa, ajudará a levar o mundo para um futuro com alimentação mais sustentável e menos desperdícios.
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Reduzir desperdício de alimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU