Por: André | 10 Agosto 2015
“Eu tinha escrito umas coisas, mas não vou lê-las. O que digo, sai do coração neste momento”. Assim Francisco concluiu sua conversa com 1.500 jovens pertencentes ao Movimento Eucarístico Juvenil, que completava seu centenário. No Salão Paulo VI, Francisco improvisou respostas a várias perguntas de rapazes e moças de todo o mundo, sobre sua experiência, a busca de Jesus ou a memória de Cristo na Eucaristia. “Pensei sobre estas palavras – resumiu. Diante da tensão, diálogo; no conflito, respeito e diálogo; o encontro com Jesus dá paz, estupor, alegria; mergulhar na Eucaristia como memória do que Jesus fez. E caminhar em frente. No mundo há tantas coisas para serem feitas: há guerras, mas há tantas coisas bonitas, coisas boas, há tantos santos. Deus está presente e há tantos motivos de esperança para seguir em frente... Coragem e avante!!”
Fonte: http://bit.ly/1gkcBKD |
A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 07-08-2015. A tradução é de André Langer.
Bergoglio respondeu a várias perguntas de jovens de todo o mundo. Fazendo anotações cada vez que escutava, sorria, inclusive rompeu em gargalhadas com a atitude de uma jovem brasileira à qual o Papa perguntou: “Quem é melhor: Pelé ou Maradona?” Não há espaço de separação: os abraços se multiplicam, os mimos... não há distância entre os jovens e Francisco.
O Papa começou sua improvisada resposta com duas palavras: “tensão e conflito”. Tensões familiares, conflitos entre os próprios jovens, com o mundo no qual vivem. “Pensemos em uma sociedade, em uma família, em um grupo de amigos, sem tensões nem conflitos. Sabeis o que seria? Um cemitério. Se não há conflitos e tensões, há uma coisa morta”, destacou.
“Quais são as autênticas tensões? Como as vivemos? São as que eu vivo. Todos estão unidos na paz com Jesus Cristo, cada um deve individualizar as tensões da sua própria vida”, assinalou Francisco, que insistiu em que “deveis ter a virtude da coragem”, porque “um jovem sem coragem é um jovem velho”. As tensões estão em todas as partes, e como são resolvidas? “Com o diálogo. Quando em uma família há o diálogo, a capacidade de dizer espontaneamente o que cada um pensa, as tensões são bem resolvidas. Dizei-as em voz alta. Não tenhais medo das tensões. Mas cuidado, porque se amais as tensões pelas tensões, isto vos fará mal. E sereis jovens conflitivos, que sempre amam o conflito. Isto não: a tensão vem para ajudar-vos para dar um passo na direção da harmonia. Mas a harmonia pura provoca outra tensão porque é muito harmônica”.
“Para dizê-lo claramente: primeiro, não tenhais medo da tensão; segundo, resolvei as tensões com o diálogo, porque o diálogo une, seja na família, em um grupo de amigos... se há um caminho para caminhar juntos sem perder a própria identidade. As tensões se resolvem com diálogo e com cuidado para não se atacarem uns aos outros, porque isso destrói”, insistiu, pois “um jovem sem tensão está morto, mas um jovem que só sabe viver em tensão é um jovem doente”.
Respondendo a um jovem indonésio, que lhe perguntou sobre as tensões em uma sociedade pluricultural como a sua, Francisco advertiu que “se não encontramos uma solução que resolva o conflito, será uma vida em guerra”. “O conflito deve ser orientado para a unidade. Uma cultura com tantas culturas diversas deve buscar a unidade e o respeito a uma identidade. O conflito se resolve com respeito à identidade. Hoje vemos nos jornais e nas televisões conflitos que não são resolvidos, que acabam em guerra”.
“Uma cultura não tolera a outra. Pensemos naqueles irmãos nossos que embarcam no mar. Quando chegam a um porto e a uma praia e pedem para comer... Isto é um conflito não resolvido. Isto é guerra, isto se chama violência”, denunciou o Papa. “Se eu tenho um conflito contigo, devo resolvê-lo. Qual é o caminho? Se tantas identidades, sejam culturais, religiosas, vivem juntas em um país, estiverem em conflito, mas com respeito à identidade do outro, e com este respeito os conflitos são resolvidos”.
“Quantas pessoas não são respeitadas, as minorias religiosas, os cristãos... São perseguidos, porque não se respeita a identidade do outro”, assinalou Francisco. “Em nossa história, sempre que tivemos conflitos de identidade religiosa, por exemplo, contra os que não são católicos ou não creem em Jesus Cristo. Não. Respeita, escuta. Valoriza sua religião, sua cultura. Assim os conflitos são resolvidos com respeito à identidade dos outros”.
Um dos momentos mais simpáticos foi o abraço de uma jovem brasileira, a “fã de Pelé”, a quem pediu para “buscar sempre a paz do Senhor”. “O caminho é encontrar a paz, que significa que o Senhor te acompanha, que está perto. E saber distinguir a paz de Jesus de outra paz que não vem de Jesus, entendes? Isto é uma torrente incontrolável, a graça do Senhor, a graça de saber discernir a verdadeira paz da falsa”.
Uma verdadeira paz que “sempre vem de Jesus, mesmo que às vezes unida a uma cruz. É Jesus que te dá a paz da cruz”. Diante dela, a “paz superficial, a que contenta pouco, a que vem do Inimigo, do Diabo”. “É necessário saber distinguir qual é a paz de Jesus e qual vem do inimigo, que te destrói”, indicou Bergoglio, que assinalou que “o Diabo é um mau pagador, sempre te engana. Sempre te truca, e ao final não te dá a felicidade. É uma paz trucada. Jesus, sim, é um bom pagador, paga muito bem”.
“Há sinais de alegria na Igreja, no mundo. Que sinais são? Aqui estais, sois vós. Sois um sinal de esperança. Ver jovens como vós, que creem o que Jesus é na Eucaristia, que o amor é mais forte que o ódio, que a paz é mais forte que a guerra, que o respeito é mais forte que o conflito, que a harmonia é mais forte que a tensão. Isto, para mim, dá esperança, dá alegria”, respondeu a outra pergunta.
Alguém lhe perguntou qual tinha sido seu momento de maior alegria desde que foi eleito Papa. “Estamos em uma guerra, eu repito muito que estamos em uma terceira guerra mundial em capítulos. Mas, vejo sinais de esperança”, apontou o Papa, que pediu aos jovens para que não esqueçam a “terceira geração”, a dos avós.
“Os avós são os grandes necessitados do nosso tempo”, apontou. “Os avós são a memória de uma família, de um país, de uma fé. Faço-vos este pedido: falais com vossos avós? São a memória da vida, da fé, do conflito... São bravos os avós. Eu gosto de falar dos avós”.
Nesse momento, contou uma história recente: “Outro dia, ia no papamóvel na audiência e via uma avozinha, uma anciã... mas com os olhos brilhantes de alegria. Parei o papamóvel, fui andando para saudá-la... sorria. E me disse que tinha 92 anos. Me dá a receita para chegar a essa idade? Ela me disse: ‘Eu como ravióli’. E depois: ‘E eu mesmo os faço’. É uma anedota. Os avós sempre são uma surpresa. Sabem ouvir, têm paciência. Falamos de três gerações. Quando os avós vivem em casa, ajudam a resolver as tensões na família. Não esqueçais os avós, entendido?”
Sobre a amizade com Jesus, Francisco discorreu sobre que “uma amizade é a dois: eu sou teu amigo, tu és meu amigo. E quando tu encontras a Jesus na oração, em uma obra de ajuda aos outros... Há tantas maneiras de encontrar a Jesus, mas tu deves buscá-lo, aproximar-te, seja na oração, na Eucaristia, na vida cotidiana... A responsabilidade do encontro com os outros. E te fará sentir... algumas vezes sentirás o estupor de encontrar a Jesus. Encontrar a Jesus”.
Finalmente, o Papa recordou a Última Ceia, uma palavra que Jesus diz quando dá o pão e o vinho, seu corpo e seu sangue. “Fazei isto em minha memória”. “A memória de Jesus presente ali. A memória de Jesus que salva, a memória de um amor tão grande que deu a vida por mim. A graça da memória daquilo que Jesus fez por mim. Não é um ritual, não é uma cerimônia... Pode haver cerimônias belíssimas, culturais, militares... isto é outra coisa. Dando como Jesus deu a vida por mim. Com esta memória, recebendo o corpo e o sangue de Jesus, entras no mistério da Eucaristia”.
“A missa é muito chata..., dizeis às vezes. Porque não é um ritual. Lembra-te de Jesus Cristo, quando estamos na mesa ali, que está dando sua vida por mim. Depois, quando não vais à missa, recorda que ele deu sua vida por ti. A memória é o conselho que Jesus deu: fazei isto em minha memória”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Vocês são sinais de esperança e de alegria na Igreja e no mundo”, diz o Papa Francisco aos jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU