Por: Jonas | 04 Agosto 2015
O depoimento dos sobreviventes do bombardeio atômico a Hiroshima e Nagasaki servirá de inspiração a líderes de igrejas cristãs associadas ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que lutam pela eliminação da ameaça nuclear no mundo.
A reportagem é de Gustavo Capdevila, publicada por IPS, 03-08-2015. A tradução é do Cepat.
Uma delegação de igrejas da Alemanha, Coreia do Sul, Estados Unidos, Holanda, Japão, Noruega e Paquistão visitará, em peregrinação, as duas cidades japonesas aniquiladas pelos ataques aéreos dos Estados Unidos, dos dias 6 e 9 de agosto de 1945.
Na visita, haverá um encontro com a geração de sobreviventes já octogenária e que está desaparecendo, observou Peter Prove, diretor da Comissão de Igrejas para Assuntos Internacionais do CMI.
“Eles são as verdadeiras testemunhas, aqueles que podem afirmar sobre o efeito humano que as armas atômicas deixam, e acredito que necessitamos captar esse momento e ampliá-lo”, disse.
A bispa Mary-Ann Swenson, da Igreja Metodista Unida dos Estados Unidos, confirmou que “iremos a Hiroshima e Nagasaki para relembrar o horror da bomba atômica”.
“Quando estivermos congregados nos lugares devastados pela mais letal das armas, há 70 anos, estaremos conscientes de que 40 governos ainda confiam nas armas nucleares”, afirmou Swenson, que conduzirá a peregrinação.
A religiosa estadunidense afirmou que “são nove os estados que possuem arsenais nucleares e outros 31 são favoráveis que os Estados Unidos usem as armas nucleares em seu benefício”.
Prove explicou que os membros da delegação foram escolhidos com critério estratégico. “Procedem de países que são potências nucleares, sejam históricas que remontam à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como os Estados Unidos, ou mais recentes, como é o caso do Paquistão, alheio ao Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)”, disse.
As demais delegações procedem do grupo de 31 países mencionado por Swenson. “São os chamados ‘estados de suporte nuclear’, que carecem de armas nucleares, mas se protegem, se posso usar este termo, sob outras potências nucleares, Estados Unidos neste caso específico”, afirmou Prove.
O objetivo da peregrinação é que os líderes das sete Igrejas vivam a experiência do significativo 70º aniversário e se reúnam com os “hibakushas”, como se chama os sobreviventes do bombardeio atômico.
Quando retornarem aos seus países, a missão será que “transmitam a mensagem do impacto humano aos próprios governos e a suas comunidades, com a intenção de amparar os argumentos em favor da proibição legal das armas nucleares”, resumiu Prove.
Os representantes das igrejas cristãs terão que fazer notar a existência de “um vazio legal, pois todas as outras grandes categorias de armas de destruição massiva têm uma proibição legal, o que não ocorre com as armas nucleares”, prosseguiu.
“As igrejas são boas redes de contatos para fazer isso, em suas próprias comunidades e em relação aos governos, em muitos países”, afirmou o diretor do CMI, cuja sede central fica em Genebra e que constitui a maior organização do movimento ecumênico mundial.
A delegação do CMI manterá encontros com os ‘hibakushas’ e com outras personalidades religiosas e sociais do Japão, durante o programa de cerimônias de recordação do 70º aniversário, que terá seus atos centrais no dia 6 de agosto, em Hiroshima, e no dia 9, em Nagasaki.
O ataque atômico estadunidense causou 66.000 mortes e deixou 69.000 feridos em Hiroshima, em um total de 135.000 vítimas aproximadas. Em Nagasaki, houve 64.000 vítimas, das quais 39.000 pessoas morreram e outras 25.000 ficaram feridas.
Em relação à segunda fase da missão religiosa ao Japão, que consistirá em propiciar a proibição nuclear no restante do mundo, Prove ressaltou que o forte do CMI reside muito mais em sua rede de igrejas associadas, “que em sua Secretaria Geral de Genebra”.
“Nós representamos um quarto da cristandade global, cerca de 500 milhões de pessoas em 120 países. Portanto, a atividade real da segunda fase será o alcance que esses líderes e suas igrejas poderão atingir com a continuidade do assunto diante de seus próprios governos”, adiantou o especialista.
“Haverá diferenças entre os países, pois é óbvio que um líder da igreja na Noruega terá potencialmente muito mais influência em seu governo do que, digamos, o líder da igreja no Paquistão em relação ao seu governo”, reconheceu Prove.
A missão pacifista do CMI se justifica porque a instituição ecumênica nasceu justamente como produto do pós-guerra e do choque pelas atrocidades de destruição que a guerra causou, explicou.
Portanto, “o CMI é uma reação ao genocídio, ao Holocausto, é uma reação aos bombardeios atômicos e é uma reação à guerra global e ao conflito em geral”, acrescentou.
No âmbito do desarme nuclear, “o CMI teve um compromisso de longo prazo, de trabalho com a sociedade civil em favor da eliminação das armas nucleares”, insistiu.
O responsável internacional do CMI afirmou que a falta de êxito nesse projeto de desarme reflete, na realidade, “a disfuncionalidade da arquitetura institucional destes processos”.
Como exemplo citou a forma como se precipitou o colapso da principal negociação de desarme nuclear, a conferência internacional de revisão do TNP, que aconteceu entre 27 de abril e 22 de maio, na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York.
“Os mecanismos de controle e de eliminação de armas nucleares não funcionam porque estão nas mãos daqueles estados interessados na manutenção das armas nucleares”, disse Prove.
O CMI apoia a maioria dos 113 estados que assinam o Compromisso Humanitário que pede a proibição legal das armas nucleares.
“Estimulamos um processo de negociação pela proibição legal e temos esperança que essa maioria de estados exerça superioridade nesse processo”, declarou Prove.
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Igrejas buscam ampliar eco de Hiroshima e Nagasaki - Instituto Humanitas Unisinos - IHU