07 Julho 2015
Quem tem razão geralmente não grita, não atira objetos, mas deixa que a razão se imponha por si só. A pessoa mansa, calma e pacata, inclinada do lado do verdadeiro e do justo está convencida de que basta a força da razão e da paciência.
A opinião é do cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado no jornal Avvenire, 04-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O filósofo Norberto Bobbio, no seu Elogio della mitezza [Elogio da mansidão] (1993), tinha celebrado essa virtude como a mais "impolítica", e pode-se compreender essa sua posição no contexto da gestão da política que ignora toda compaixão e se fundamenta no poder e, muitas vezes, na arrogância.
Em uma visão mais alta da política, a mansidão, ao contrário, teria um espaço relevante. De fato, ela não é nem covardia, nem mera aquiescência, como observava o próprio filósofo: "A mansidão não renuncia à luta por fraqueza, ou por medo, ou por resignação".
Ao contrário, ela quer ser como uma semente eficaz plantada no terreno da história para o progresso, para a paz, para o respeito pela dignidade de cada pessoa. Mas ela aspira a alcançar esse objetivo rejeitando a corrida destrutiva da vida, a vaidade e o orgulho pessoal e nacionalista, étnico e cultural, escolhendo a via do distanciamento da cobiça pelos bens e da ausência de meticulosidade e de mesquinhez.
Nós, porém, interessamo-nos agora pela mansidão evangélica, presente na terceira bem-aventurança (Mt 5, 5), uma virtude que não só tem uma dimensão ética, como acontecia no mundo grego, mas que se revela como um dom divino, capaz de florescer no coração do fiel como amor pelo outro, perdão, rejeição da violência, confiança no julgamento de Deus.
Portanto, podem-se assumir todos os sinônimos que acompanham a mansidão no nosso vocabulário, para o qual a pessoa mansa é paciente, benigna, benevolente, dócil, boa, doce, suave, clemente, afável, humana e gentil dentro de uma sociedade cruel, dura, impiedosa.
No entanto, a mansidão evangélica nada mais é do que a "pobreza no espírito" da primeira das Bem-Aventuranças, captada na sua conotação de adesão alegre à vontade e à lei divina.
O modelo continua sendo o próprio Cristo, que descreve precisamente a mansidão como a sua qualidade distintiva e fonte de imitação para o discípulo: "Aprendam de mim porque sou manso e humilde de coração" (Mt 11, 29). E continua com uma citação do profeta Jeremias (6, 6): "Assim vocês encontrarão descanso para as suas almas".
O autorretrato de Jesus se representa no evento messiânico do ingresso em Jerusalém, onde ele se refere ao profeta Zacarias (9, 9): "Digam à filha de Sião: eis que o seu rei está chegando até você. Ele é manso e está montado num jumento, num jumentinho, cria de um animal de carga" (Mt 21, 5).
Nessa passagem que se tornou célebre, o Messias é descrito pelo profeta não como um guerreiro vitorioso, nem como um capitão real lançado à conquista, mas como o Servo obediente a Deus e misericordioso para com os homens.
Cristo não assume, portanto, as vestes de um dominador, nem mesmo as de um sacerdote aristocrático e glorioso, nem o seu perfil é o de um profeta incendiário. Os seus conterrâneos, ao contrário, ficarão desnorteados, lembrando o seu modesto registro social: "Esse homem não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram conosco?" (Mt 13, 55-56).
O prêmio destinado aos mansos se expressa através do recurso a uma passagem sálmico, segundo a qual "os pobres herdarão a terra e se deleitarão de uma grande paz" (Sl 37, 11): "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra".
É curioso notar que essa passagem bíblica é retomada também no Alcorão, quando Deus afirma: "Nós escrevemos nos Salmos (…) que a terra seria herdada pelos meus servos bons" (XXI, 105).
O tema da "herança" tem no Antigo Testamento um grande destaque e, principalmente, ele se conecta, como no nosso caso, com o tema da terra prometida. No Novo Testamento, a "herança" e o "herdar" adquirem principalmente o significado metafórico que, por exemplo, coloca como objeto dessa herança o Reino de Deus (Mt 25, 34; 1Cor 15, 50), ou a vida eterna (por exemplo, Mt 19, 29).
O símbolo da herança da "terra" é normalmente aplicado à terra de Israel, a terra prometida, sede da história e da vida livre do povo hebraico bíblico. Essa realidade, de fato, era muito mais do que uma simples expressão topográfica. Como se dizia, ela já era para o Antigo Testamento um símbolo de plenitude, tanto que recebia descrições destinadas a superar o mero dado geopolítico: "Terra boa: terra cheia de ribeirões de água e de fontes profundas que jorram no vale e na montanha; terra de trigo e cevada, de vinhas, figueiras e romãzeiras, terra de oliveiras, de azeite e de mel; terra onde você comerá pão sem escassez, pois nela nada lhe faltará; terra cujas pedras são de ferro, e de cujas montanhas você extrairá o cobre" (Dt 8, 7-9).
Por isso, podemos dizer que Jesus pensava na terra bíblica, mas, obviamente, no seu valor de símbolo de plenitude. A Terra Santa geográfica adquire, assim, um valor transcendente, assomado a um futuro perfeito, em que o espaço territorial da Jerusalém celeste será encaixado na "terra nova, porque primeiro céu e a primeira terra passaram" (Ap 21, 1).
Enquanto os poderosos ampliam com a violência e a opressão a sua posse hereditária "juntando casa com casa e emendando campo a campo, de modo que não sobre mais espaço e sejam os únicos a habitarem no meio do país" (Is 5, 8), os mansos, que não prevaricam e não reivindicam espaços grandiosos se acotovelando, serão acolhidos por Deus na terra renovada, que é sua criação e sua legítima posse.
Infelizmente, em contraste com a mansidão, permanece o obscuro fascínio que o monstro da violência exercida sobre o homem, também na forma daquele vício capital que é a ira. É o que representava brilhantemente um autor irônico como Achille Campanile, nas suas Vite degli uomini illustri [Vidas dos homens ilustres] (1975).
Ele colocava na boca de um Sócrates imaginário este conselho malicioso, mas também muito seguido: "Quem tem razão geralmente não grita, não atira objetos, mas deixa que a razão se imponha por si só (…) Vocês brincam, ao contrário, com os resultados que obtém alguém, que, sabendo estar errado e não podendo recorrer a outros argumentos, joga objetos no chão, grita, ameaça, depois bate a porta e vai embora? Respeitadíssimo. Temidíssimo".
A todos aconteceu de se deparar com cenas análogas à traçada pelo escritor romano, postas em cena por pessoas prepotentes e em evidente erro: deve-se admitir com amargura que estes conseguem gerar respeito e até mesmo deixar a suspeita de que, no fundo, no fundo, talvez eles tenham uma pitada de razão...
A pessoa mansa, calma e pacata, inclinada do lado do verdadeiro e do justo, ao contrário, está convencida de que basta a força da razão e da paciência. Mas o resultado, muitas vezes, é o de ser ridicularizada ou considerada pouco convincente. O apelo da nossa bem-aventurança também se transforma, então, em um empenho para resistir serena e corajosamente diante da tentação da violência.
Justamente por isso, os "mansos", que as três religiões monoteístas exaltam como os herdeiros da terra prometida – que é, como se disse, o Reino de Deus na sua implementação plena – têm múltiplos delineamentos, morais e espirituais.
Há quem veja neles justamente os não violentos, os oprimidos que não recorrem à força, aqueles que não escolhem a posse e a autoafirmação de modo a não dominar sobre os outros. Há quem intua neles o perfil dos dóceis, dos deserdados e dos expropriados; há quem pense nos humildes e nos inofensivos, confiantes na vontade de Deus.
Há quem os considere interiormente fortes e, por isso, pacientes, dóceis, generosos. Em última análise, através dessa multiplicidade de virtudes, nos mansos, descobrimos em filigrana o rosto do verdadeiro discípulo de Cristo.
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Mansidão, a força da razão. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU