Por: André | 25 Junho 2015
A Igreja tem necessidade de um anúncio do “Evangelho da família” que “dê esperança e não a oprima”. O Vaticano publicou nesta terça-feira o documento com as orientações para o Sínodo sobre a Família de outubro. O documento integra as conclusões da assembleia extraordinária do ano passado e retoma as discussões sobre os temas mais diversos que se relacionam com a família, desde as convivências pré-matrimoniais até a missionariedade da família, desde a questão dos divorciados recasados até a situação dos homossexuais, desde o aborto até a anticoncepção, desde a educação sexual até a necessidade de envolver as mulheres e as famílias na formação do clero nos seminários. Um texto no qual se destaca, concluindo, que não se pode “esquecer que a celebração do próximo Sínodo se situa em sintonia com o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que começa no próximo dia 08 de dezembro de 2015.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 23-06-2015. A tradução é de André Langer.
Não se recomeça, pois, do zero e isto é evidente: o Instrumentum Laboris, com efeito, apresenta integralmente todos os parágrafos da Relatio Synodi de 2014; ampliados graças às contribuições das conferências episcopais, das famílias, das universidades e das instituições acadêmicas. O documento se subdivide em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
Não se deve anular a diferença sexual. Com respeito ao primeiro ponto, trazem-se à luz as “contradições culturais” da nossa época na qual se diz que “a identidade pessoal e a intimidade afetiva devem afirmar-se em uma dimensão radicalmente desvinculada da diversidade biológica entre varão e mulher” ou na qual se quer reconhecer a “titularidade matrimonial” para casais instituídos independentemente da diversidade sexual. Por isso, faz um apelo para um “melhor aprofundamento humano e cultural, não apenas biológico, da diferença entre os sexos”, porque sua anulação “é o problema, não a solução”.
A família é o pilar fundamental da sociedade. O Instrumentum Laboris assinala as “contradições sociais” que levam à dissolução da família: guerra, migrações, pobreza, usura, cultura do descarte, conjuntura econômica “desfavorável e ambígua”, enquanto as instituições são incapazes de apoiar os núcleos familiares. As famílias, ao contrário, “pilares fundamentais e irrenunciáveis da vida social”, necessitam de “políticas adequadas” que tenham em conta sua “ação compensativa” em relação ao bem-estar.
Dignidade para os idosos e pessoas diversamente hábeis; uma pastoral específica para famílias migrantes. Por isso, o Instrumentum Laboris ressalta a importância da família como instrumento de inclusão, sobretudo de categorias frágeis como os viúvos, os idosos, os deficientes, que devem ser acompanhados para fazer frente às “formas impiedosas de estigma e preconceito”. Espera-se uma pastoral específica para as famílias em migração, porque, sobretudo, onde não há “autêntica acolhida e respeito dos direitos de todos”, podem se alimentar “fenômenos de fundamentalismo”. E o drama aumenta quando a migração é ilegal, patrocinada por “circuitos internacionais do tráfico de seres humanos”. O Instrumentum Laboris detém-se, além disso, no papel das mulheres e recorda que nos países em desenvolvimento, a exploração e a violência se agregam ao aborto e esterilizações forçadas, entre outros fenômenos, mas espera também uma “maior valorização na Igreja”.
O Sacramento do matrimônio é indissolúvel. A segunda parte reafirma a indissolubilidade do matrimônio sacramental e, ao mesmo tempo, recorda que a Igreja deve ‘acompanhar’ os momentos de sofrimento conjugal, com uma ótica de misericórdia, que não subtrai nada da verdade da fé. Todos têm necessidade de dar e de receber misericórdia, lê-se depois na terceira parte, e alguns pedem que também a Igreja demonstre uma atitude análoga para com aqueles que fracassaram na união.
O Instrumentum Laboris recorda também um ponto chave da Relatio Synodi, ou seja, o dos casos de nulidade matrimonial. Registra-se um amplo consenso no que se refere à gratuidade dos procedimentos de reconhecimento da nulidade. Ao mesmo tempo, não é uma unanimidade a ideia de um procedimento administrativo, sob a responsabilidade de um bispo diocesano.
Repensar as formas de exclusão litúrgico-pastorais dos divorciados recasados. No que se refere, em particular, aos divorciados recasados deseja-se uma reflexão sobre a oportunidade de abandonar as formas de exclusão, que se praticam atualmente, no âmbito litúrgico-pastoral, educativo e caritativo, porque estes fiéis não estão fora da Igreja. No entanto, assinala-se que os caminhos de integração pastoral devem estar precedidos por um discernimento oportuno e devem ser realizados segundo uma lei de gradualidade, respeitando o amadurecimento das consciências.
Sobre o acesso à Eucaristia para os divorciados recasados, o Instrumentum Laboris evidencia o comum acordo sobre a hipótese de um caminho penitencial, sob a responsabilidade de um bispo. Ficando firme a posição da Igreja, contrária ao casamento entre pessoas com tendências homossexuais, reitera-se que toda pessoa, independentemente de sua tendência sexual, deve ser respeitada em sua dignidade e acolhida com respeito e delicadeza, na Igreja e na sociedade. Deve-se fomentar projetos pastorais específicos para pessoas homossexuais e suas famílias.
A educação dos filhos baseia-se sobre a diferença sexual. Convidando para valorizar a importância da adoção e da custódia, o documento afirma que a educação de um filho deve se basear na diferença sexual, assim como a procriação, porque também esta se fundamenta no amor conjugal entre um homem e uma mulher. O documento termina recordando o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que começará no dia 08 de dezembro de 2015, à luz do qual se coloca o próximo Sínodo. A assembleia episcopal será de 04 a 25 de outubro, sob o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
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Prossegue a discussão do Sínodo: divorciados, homossexuais e uniões pré-matrimoniais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU