25 Junho 2015
"Os Padres sinodais são convidados a se expressar com parrésia." Isto é, com franqueza, com transparência. Sem timidez e reticências. Aí está, em boa parte, nessa palavra grega usada com força por Francisco no seu pontificado (e reiterada nessa terça-feira pelo cardeal Baldisseri), o sentido do novo documento sobre a família apresentado no Vaticano.
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 24-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Instrumentum laboris tem 78 páginas, 11 capítulos, uma oração final. Um texto longo, com 147 parágrafos em comparação com os 61 da Relatio anterior, preparado pelo Sínodo em vista da assembleia convocada para os dias 4 a 24 de outubro próximo. E subdividido em três partes ("A escuta dos desafios sobre a família", "O discernimento da vocação familiar", "A missão da família hoje"), cada uma para as três semanas de discussão, antes das decisões finais que caberão ao papa.
É um documento que põe tudo em cima da mesa. A partir dos dois temas mais polêmicos e bem conhecidos da opinião pública, desde o Sínodo extraordinário de outubro passado. Uma sessão que serviu como base para o debate e para as propostas recebidas principalmente de dioceses e paróquias, como destacou Baldisseri, secretário-geral do Sínodo, apresentando o documento para a imprensa.
Com novidades encorajadoras para aqueles que esperam pelas reformas: sobre os divorciados em segunda união, sublinhou o arcebispo Bruno Forte, não há "um não preliminar" para a admissão à comunhão. Quanto à homossexualidade, o texto reitera que "cada pessoa, independentemente da própria tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza, seja na Igreja, seja na sociedade".
Dois, em geral, são os princípios fundamentais. O primeiro: a misericórdia, conceito à sombra do qual se desenvolverá o próximo Jubileu. O segundo: "Um anúncio que dê esperança e que não pressione: que cada família saiba que a Igreja nunca a abandona".
É um texto prudente ao propor soluções, que quer chegar à assembleia sem rachaduras, para permitir que o debate se desenvolva e que o papa faça as suas próprias escolhas. Mas que aborda firmemente os temas decisivos da família.
Eis, a seguir, os pontos principais.
O nó da Eucaristia
"A atenção e o acompanhamento em relação aos divorciados recasados civilmente devem se orientar rumo a uma integração cada vez maior deles na vida da comunidade cristã."
Sobre o controverso tema da readmissão à comunhão, surgiu "um acordo comum sobre a hipótese de um itinerário de reconciliação ou via penitencial". Essa formulação, no entanto, prevê duas hipóteses, subordinadas e contrapostas, que devem ser avaliadas e votadas no Sínodo.
A primeira é que o caminho penitencial, ao lado da "conscientização do fracasso e das feridas por ele produzidas" e, portanto, ao lado do "arrependimento", seja acompanhado pela "verificação da eventual nulidade do matrimônio".
Se essas condições não existem, o caminho penitencial deveria simplesmente levar "ao empenho à comunhão espiritual e à decisão de viver (o seu segundo matrimônio) em continência".
A segunda hipótese, mais realista, diz respeito à possibilidade de que o caminho penitencial "sob a responsabilidade do bispo diocesano" leve ao acesso aos sacramentos. Concretamente, a hipótese é de "uma acolhida não generalizada à mesa eucarística, em algumas situações particulares e com condições bem precisas, sobretudo quando se trata de casos irreversíveis e ligados a obrigações morais em relação aos filhos que viriam a passar por sofrimentos injustos".
O documento preparatório do Sínodo admite que "a questão ainda deve ser aprofundada". Mas os divorciados não devem ser excluídos da possibilidade de serem padrinhos, testemunhas de bodas, leitores nas liturgias e catequistas.
Respeito aos homossexuais
"Cada pessoa, independentemente da própria tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza, seja na Igreja, seja na sociedade. Seria desejável que os projetos pastorais diocesanos reservassem uma atenção específica ao acompanhamento das famílias em que vivem pessoas com tendência homossexual."
Bodas não equiparáveis
"Não poucas são as contradições culturais que afetam a família", incluindo a teoria de gênero e os casamentos gays. O texto incorpora aquilo que foi aprovado por maioria simples (e, portanto, formalmente não aprovado) na última assembleia, sobre o tema das famílias que têm pessoas homossexuais no seu interior.
"A esse respeito – afirma-se –, interrogamo-nos sobre qual atenção pastoral é oportuna diante dessa situação, referindo-se ao que a Igreja ensina: 'Não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família'. No entanto, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza", evitando "qualquer marca de discriminação injusta".
Boa conduta nos casamentos mistos
"Os matrimônios mistos e os matrimônios com disparidade de culto apresentam aspectos de criticidade múltiplos e de não fácil solução, não tanto em nível normativo, mas em nível pastoral: a problemática da educação religiosa dos filhos; a participação na vida litúrgica do cônjuge".
Do questionário que serviu para redigir o documento, surge uma proposta concreta: "Elaborar um código de boa conduta, de modo que nenhum cônjuge seja obstáculo ao caminho de fé do outro".
Nulidades gratuitas
"Destaca-se um amplo consenso sobre a oportunidade de tornar mais acessíveis e ágeis, possivelmente gratuitos, os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade matrimonial."
Casais de fato
"A Igreja deve ser capaz de acompanhar aqueles que vivem o casamento civil ou a coabitação, até a plenitude da união sacramental. A escolha do casamento civil ou da coabitação muitas vezes não é motivada por preconceitos ou resistências contra a união sacramental, mas por situações culturais ou contingentes. Essa vontade, que se traduz em um vínculo duradouro, confiável e aberto à vida, pode ser considerado uma condição para se inserir um caminho de crescimento aberto à possibilidade do matrimônio sacramental: um bem possível que deve ser anunciado como dom que enriquece e fortifica a vida conjugal e familiar."
Por trás das separações
É preciso "prestar atenção", diz o documento, "aos diferentes aspectos que determinaram a ruptura da relação matrimonial. Muitas vozes evidenciam que o drama da separação, muitas vezes, chega ao fim de longos períodos de conflitualidade que, no caso em que há filhos, produziram ainda mais sofrimento. Segue-se a isso mais uma prova da solidão em que se encontra o cônjuge que foi abandonado ou que teve a força de interromper uma convivência caracterizada por graves maus-tratos".
Cuidado pelas famílias feridas
"Cuidar das famílias feridas – separados, divorciados, recasados – e fazê-los experimentar a infinita misericórdia de Deus é considerado por todos como um princípio fundamental."
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Comunhão aos divorciados e acolhida aos gays: o Sínodo prepara a revolução de outubro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU