11 Junho 2015
A malária mata centenas de milhares de pessoas a cada ano e é provocada por micro-organismos parasitas, que os mosquitos transmitem involuntariamente de um ser humano para outro quando buscam sua refeição.
A reportagem é de Zoe Gough, publicada pela BBC Brasil, 10-06-2015.
Alimentar-se de sangue é vital para as fêmeas da maioria das espécies de mosquitos porque elas precisam das proteínas presentes no fluido para produzirem ovos.
Esses insetos se satisfazem tanto com o sangue humano como o de outros animais. Mas são as espécies antropofílicas – que preferem picar homens, mulheres e crianças – as mais eficientes transmissoras da malária.
Isso ocorre porque essas fêmeas estão adaptadas para perfurar a pele do hospedeiro e sugar seu sangue através de uma longa tromba – ajudada por uma injeção de sua saliva que impede a coagulação. Elas também contam com um abdômen que pode inchar para receber grandes quantidades de sangue, permitindo ao inseto triplicar seu peso corporal.
Altamente evoluídos
Anatomicamente, já se provou que os mosquitos de hoje são muito semelhantes àqueles que viveram há 50 milhões de anos. Mas eles evoluíram bastante geneticamente, graças a sua capacidade de se reproduzir rapidamente e de gerar milhares de filhotes.
Isso agora está ameaçando os avanços na prevenção à malária em todo o mundo, porque alguns mosquitos estão desenvolvendo uma resistência a pesticidas – uma das principais medidas adotadas para proteger o homem das picadas.
O zoólogo James Logan, da Escola de Medicina Tropical e Higiene da Universidade de Londres, é um dos cientistas que buscam soluções para combater a doença. “Temos observado essa resistência se espalhar pela África Subsaariana, e isso é um problema grave”, diz ele.
"O que matava os mosquitos antes já não funciona, e estamos em grande apuro porque não temos nenhum inseticida novo pronto para ser usado ou que possa estar pronto dentro dos próximos cinco anos”, afirma o especialista.
Por que eu?
Mas Logan tem tido algum sucesso em seus estudos sobre os mosquitos, como ao explicar por que algumas pessoas são picadas mais do que outras.
Isso sempre foi atribuído aos odores corporais. O cientista, no entanto, descobriu que algumas pessoas produzem seus próprios repelentes químicos, o que as torna pouco atraentes para os mosquitos.
Além disso, ao estudar duplas de gêmeos idênticos e não idênticos, o zoólogo identificou que essa defesa natural é genética e pode ser herdada dos pais.
Segundo Logan, se os genes que produzem esses repelentes puderem ser identificados, poderíamos elaborar novas drogas para proteger o homem contra as picadas de insetos e até maneiras sob medida para controlar os mosquitos.
A força dos parasitas
Mas o mosquito é apenas uma parte do problema, já que os protozoários parasitas que provocam a malária também se modificaram e se tornaram resistentes a alguns medicamentos usados na prevenção e no tratamento da doença.
“O parasita da malária é conhecido por mudar sua forma o tempo todo e ser altamente evoluído para fazer isso, o que faz dele um problema enorme”, explica Logan.
Esses micro-organismos também conseguem manipular o comportamento dos insetos hospedeiros – e o estudo de Logan mostrou que os mosquitos contaminados pelos parasitas da malária se atraem muito mais pelo odor humano do que os que não são infectados.
Segundo Logan, esses mosquitos se tornam “super-sensíveis” porque os parasitas modificam seu olfato. Ou seja, os seres humanos têm mais chances de serem picados por insetos contaminados, pois isso favorece os protozoários, ao aumentar suas chances de transmissão.
O zoólogo afirma que seriam necessárias mais pesquisas sobre como o parasita provoca essas modificações no hospedeiro, o que ajudaria a identificar novas substâncias atraentes para o mosquito que o fizessem cair em armadilhas.
Mas, segundo ele, os mosquitos e os protozoários da malária ainda estão em vantagem evolucionária.
“É um pouco como uma corrida armamentista. Atualmente, o mosquito e o parasita estão um passo à frente de nós e estão sempre evoluindo, o que dificulta que os alcancemos”, afirma Logan.
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Por que os mosquitos estão ganhando a luta contra a malária - Instituto Humanitas Unisinos - IHU