Por: Jonas | 29 Mai 2015
As FARC confirmaram que entre os mortos nos recentes ataques do exército colombiano à organização estão dois chefes da guerrilha, incluindo um membro de sua delegação de paz. O comandante Pastor Alape, chefe negociador em Havana, exigiu a intervenção do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, já que acusou as forças armadas que deram o “golpe de misericórdia” em soldados que ainda se encontravam com vida, após os ataques.
A reportagem é publicada por Página/12, 28-05-2015. A tradução é do Cepat.
O comandante Alape leu a lista oficial de falecidos nas últimas intervenções das forças armadas colombianas. “Informamos ao país e ao mundo que o companheiro Jairo Martínez, integrante da delegação das FARC nesta cidade, que estava em missão de pedagogia de paz nesta frente (em Cauca, na quinta-feira), está entre os guerrilheiros assassinados”, disse. Alape também confirmou que em outro ataque, no final de semana, morreu o comandante Román Ruiz, membro do Estado Maior Central das FARC, guerrilha que, nesta quarta-feira, completou 51 anos de existência sob o assédio militar do governo colombiano, mas nenhuma das duas partes ameaçou abandonar o diálogo.
O comandante das FARC exigiu que os cadáveres dos integrantes das forças insurgentes “sejam inspecionados por forenses nacionais e internacionais, com a visão neutra do Comitê Internacional da Cruz Vermelha”. O pedido de Alape se baseia no fato do corpo médico dos rebeldes ter verificado que vários feridos que pediam auxílio foram arrematados com “golpes de misericórdia” pelas tropas colombianas, o que constitui uma violação ao direito internacional humanitário. O comandante das FARC também pediu ao governo para trabalhar em prol do restabelecimento da confiança. “Devemos concretizar as medidas de redução do conflito que estávamos analisando, já que é a única maneira de frear as hostilidades”.
Desde seu início, em novembro de 2012, as negociações na capital cubana se desenvolveram em meio a hostilidades em território colombiano, mas a trégua das FARC e a suspensão dos bombardeios do governo teriam reduzido os combates e as baixas, que agora voltaram a aumentar. A esse respeito, Alape rebateu que os ataques militares conduzam os insurgentes a aceitar as condições do governo nas negociações. Desacordos sobre possíveis processos judiciais aos guerrilheiros impediram o fechamento das discussões.
Algo semelhante foi expresso, nas montanhas da Colômbia, pela cúpula das FARC, ao afirmar que um acordo de paz deve ser conquistado a partir de um acordo de duas vontades e não como a submissão de uma à outra. “Temos fórmulas para buscar a reconciliação da família colombiana. Não viemos a Havana para negociar impunidades. No entanto, primeiro deverá ser oferecida uma resposta ao pacote de propostas mínimas sobre vítimas do conflito que nós apresentamos ao governo na Mesa de Conversações e que reúnem as que foram formuladas pelas organizações de vítimas e de direitos humanos”.
Martínez, de 63 anos e cujo nome real era Pedro Nel Daza Martínez, assim como outros delegados de paz da guerrilha, havia retornado a Colômbia para explicar aos combatentes da organização insurgente os alcances dos acordos parciais nas negociações, que procuram colocar um fim ao conflito armado de mais de meio século. Apesar de, nos últimos anos, ter se dedicado aos diálogos de paz, o ex-comandante foi conhecido por ter sido partícipe do sequestro do sargento Pablo Moncayo, que esteve no poder da guerrilha por 12 anos. Também foi considerado o ideólogo da frente 14 das FARC e teve sob sua responsabilidade a segurança disposta por este grupo armado na região de Caguán (departamento de Caquetá), durante as negociações de paz com o governo do ex-presidente Andrés Pastrana.
Cerca de 40 guerrilheiros das forças insurgentes morreram em três incursões militares em Cauca (sudoeste), Antioquia (norte) e Chocó (sudoeste), semanas depois que onze militares pereceram em uma emboscada rebelde em meio a uma trégua unilateral da guerrilha. Os ataques militares, deflagrados depois que o presidente colombiano Juan Manuel Santos retomou os bombardeios às FARC, após a emboscada aos soldados, fizeram com que a guerrilha suspendesse sua trégua unilateral, na quinta-feira, em vigor desde dezembro.
De sua parte, o coordenador da Fundação Paz e Reconciliação da Colômbia, Ariel Avila, expressou que com o levantamento do cessar-fogo, a escalada de violência é inevitável. “O risco para o processo de paz é muito alto: o de que caia um comandante ou que as FARC façam um grande atentado nas cidades e que o governo reaja”, expressou. Avila ressaltou que as partes devem ser cautelosas nas decisões que tomarem a respeito do conflito, que segundo números oficiais deixou 220.000 mortos e seis milhões de refugiados. “Em um processo de paz tão avançado como este, ainda que caminhe lento, tudo pode ser jogado fora com ações como estas”, acrescentou.
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Colômbia. Confirmada a morte do delegado de paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU