Por: Jonas | 22 Mai 2015
Uma freira dominicana argentina, muito conhecida na Espanha por suas críticas ao governo do direitista Partido Popular (PP), disse ontem que ninguém a obrigará a se calar, após denunciar que o Executivo do presidente Mariano Rajoy, em plena campanha eleitoral, pressionou o Vaticano para silenciá-la. “Não conseguirão me calar porque tenho um compromisso com o Evangelho e os pobres”, afirmou irmã Lucía Caram (na foto, à esquerda do prefeito de Barcelona, Xavier Trias).
Fonte: http://goo.gl/HwKKTp |
A reportagem é publicada por Página/12, 21-05-2015. A tradução é do Cepat.
Nascida em Tucumán, em 1996, irmã Lucía vive há vários anos na Catalunha, norte da Espanha, onde obteve a fama de irmã combativa e comprometida com os mais desfavorecidos e penalizados pelas políticas neoliberais do Executivo de Rajoy.
Por meio dos programas de televisão que frequenta e nas redes sociais - no Twitter conta com mais de 186.000 seguidores -, a midiática irmã da comunidade contemplativa de Manresa, Barcelona, tornou-se um dos principais açoites do governo do PP. Seu ativismo político a levou a Roma, na última sexta-feira, para dar explicações sobre as denúncias e recebeu solicitações de silêncio pela Nunciatura.
Meios de comunicação espanhóis afirmaram que as populares freiras irmã Lucía e Teresa Forcades - outra religiosa que avalia deixar o hábito temporariamente para encabeçar uma candidatura soberana nas eleições catalãs de setembro -, “preocupam” o Vaticano porque suas atividades políticas não seriam compatíveis com a vida religiosa.
Caram negou tal fato após participar, ao lado do prefeito de Barcelona, Xavier Trias, e o presidente catalã, Artur Mas, de um debate no marco da campanha de Convergência e União (CiU) para as eleições municipais do domingo.
A freira - que não oculta sua simpatia a Mas e a CiU, assim como critica Podemos – insistiu, ontem, que foi até a Santa Sé com a intenção de denunciar as pressões do Executivo de Rajoy e de grupos ultradireitistas espanhóis que “pedem sua cabeça” e pretendem que deixe de fazer seu trabalho que é “defender os mais pobres”.
O Executivo, por meio do ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, rejeitou ontem as acusações de Caram, mas ela enfatizou que “as pressões são reais”, “houve contatos pessoais”, “os telefones tocaram” e “pessoas dos setores conservadores utilizaram seus contatos”.
“Estive com pessoas da hierarquia que me disseram para baixar o nível da crítica porque estavam nervosos no governo. Contudo, não conseguiram me calar porque meu compromisso é com as pessoas, com o Evangelho e os mais empobrecidos”, afirma.
“Estamos acostumados que neguem as evidências”, disse a freira sobre o governo do PP. Caram disse estar claro que Fernández Díaz - conhecido por seus vínculos com o Opus Dei - está por trás destas pressões que foram exercidas sobre Vaticano, concretamente por suas críticas às atuações desumanas da guarda fronteiriça contra os imigrantes, perpetradas pela Espanha, na Valla de Melilla, fronteira com o Marrocos.
Entre os grupos de pressão conservadores citou a Hazteoir.org, organização que iniciou uma campanha contra ela por caluniar bispos conservadores e que a acusa de ser “uma senhora argentina disfarçada de freira”, que faz propaganda para a “esquerda radical” e que “manipula as palavras do Papa” Francisco para justificar o aborto e o matrimônio homossexual.
“Ficam incomodados por eu ser freira, que esteja trabalhando ao lado das pessoas e que possua incontinência verbal para dizer, com liberdade, que o senhor Montoro nos desrespeita quando diz que o Partido Popular, em seu funcionamento, é igual como a Cáritas”, acrescentou Caram.
A religiosa fazia referência ao argumento apresentado pelo ministro da Fazenda espanhol, Cristóbal Montoro, para explicar que seu partido não deveria declarar ao fisco as doações anônimas e ilegais que recebeu.
“Às vezes, as pessoas não podem falar porque podem perder seu lugar de trabalho, mas eu não devo nada a eles, devo às pessoas e, por vezes, minha incontinência digital também os incomoda”, afirma a freira, que divide o seu tempo entre palestras, entrevistas, programas de TV e seu próprio show de cozinha.
Grande fã do Barcelona e admiradora de Lionel Messi, assim como também do papa Francisco, Caram não possui dúvida de que o Pontífice está do seu lado e que proximamente poderá conversar com ele frente a frente. “Acredito que me receberá no Vaticano”, manifestou com utopia. “Receberam-me muito bem no Vaticano. Estão bem conscientes de que seria um escândalo e não que está na linha do papa Francisco colocar mordaças naqueles que estão trabalhando com os mais pobres”, comentou sobre o seu encontro com o secretário da Congregação para a Vida Religiosa, o franciscano José Rodríguez Caballero. “Eu não estou militando em nenhum partido, não estou fazendo campanha”, não recebo absolutamente de ninguém e isto me dá uma grande liberdade para falar: sempre tenho dito, eu trabalho com o Evangelho como fonte de inspiração e minha opção é pelos mais pobres”, insistiu.
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Espanha. A freira argentina que critica Rajoy - Instituto Humanitas Unisinos - IHU