16 Março 2015
Quando é perguntado sobre como está, às vezes o papa responde, em italiano: "Estou vivo". E a impressão é de que Francisco está fazendo uma constatação consigo mesmo, antes mesmo que com os outros. Parece quase querer dizendo: estou aqui, resisto e vou em frente. A dois anos da sua eleição ao pontificado, no dia 13 de março de 2013, com efeito, ele está mais vivo do que nunca. Vivo, não sobrevivente: a tal ponto que a tentação de definir esse tempo como um biênio triunfal torna-se preponderante. Mas deve ser freada.
A reportagem é de Massimo Franco, publicada no jornal Corriere della Sera, 12-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os sucessos "de público" ou, melhor, "de povo" são surpreendentes: as multidões o aclamam em todas as partes, os governos o disputam. A sua pedagogia faz escola. E, na política externa, também graças ao papel do secretário de Estado, Pietro Parolin, ele conseguiu restituir ao Vaticano uma presença e uma credibilidade que não se sentiam há diversos anos: basta citar a mediação sobre a Síria em 2013 e, recentemente, entre Estados Unidos e Cuba.
O "canteiro de obras" vaticano
No entanto, o ano 2015 restitui uma Roma papal em plena convulsão. Projetada para uma metamorfose das estruturas e das hierarquias e, ao mesmo tempo, inquieta. No simbólico canteiro de obras encerrado entre os Sagrados Muros, não há apenas reformistas operosos e entusiasmados, mas também eclesiásticos assustados, desorientados; e, em alguns casos, determinados a resistir, à espera de um impossível retorno ao passado.
Francisco também sabe como o seu estilo de comunicação pode despertar perplexidade. Em janeiro, voltando no avião da viagem às Filipinas e ao Sri Lanka, quando falou dos católicos que fazem filhos "como coelhos", as reações foram ao menos de espanto.
No dia seguinte, Francisco leu os jornais e se confidenciou com os colaboradores. "Isso me desagrada, não me fiz entender", teria dito. Dentre outras coisas, ele sabia que forneceria um pretexto para aqueles que, na Cúria e não só, tendem a apresentá-lo como um pontífice muito falador.
Trata-se de uma caricatura alimentada por aqueles que consideram Francisco não uma novidade benéfica para a Igreja Católica, mas um parêntese anômalo acompanhado por algumas perplexidades sobre as suas capacidades de governo: embora, na realidade, ele tenha experiência de comando e a faça valer.
O desafio de Francisco
No fim de fevereiro, o professor Guzmán Carriquiry Lecour, uruguaio, vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, fez um discurso em um debate no Campidoglio, em Roma, sobre os "desafios de Francisco", dos quais poucos se deram conta.
No entanto, ele continha indícios preciosos para entender o que está acontecendo ao redor de Jorge Mario Bergoglio. Até porque Carriquiry é um dos leigos mais próximos do inquilino da Casa Santa Marta. Seu amigo há décadas, é uma das pouquíssimas pessoas que contribuíram para elaborar o famoso documento de Aparecida, no Brasil, em maio de 2007, pedra angular da liderança do então arcebispo de Buenos Aires sobre os episcopados latino-americanos.
Carriquiry rotulou as "resistências viscerais, muitas vezes a inveja e a soberba, a recusa sistemática e cheia de preconceitos que se percebe em algumas reações de setores ultraminoritários dentro da própria Igreja" contra o papa argentino.
E usou palavras alarmantes para avisar que não se deve "subestimar as perplexidades e o desconcerto que podem causar e difundir os semeadores da confusão e da divisão"; para reiterar que "a reforma da Igreja não pode passar e depender de um único homem no comando".
O modelo Bergoglio
Trata-se de uma análise crua e lúcida de Carriquiry sobre os riscos de que o "modelo Bergoglio" seja aceito apenas em nível superficial; e, portanto, que as suas reformas se revelem, a longo prazo, nada irreversíveis.
O problema está dentro do Vaticano e nas relações com a burocracia e os episcopados: em primeiro lugar, com o italiano, que continua obedecendo ao papa sul-americano com uma pitada de frustração; e que acolhe algumas das suas nomeações como uma humilhação, ou no mínimo com um mistério doloroso em relação ao passado.
Por isso, ouve-se dizer por parte de alguns cardeais que persiste "um preconceito anti-italiano que já surgiu antes e durante o conclave". E, indo mais longe, define-se Francisco como "um papa latino-americano que não esconde uma certa hostilidade em relação ao que é do Norte do mundo". O julgamento parece um pouco simplista e reflete incompreensões e mal-entendidos evidentemente não resolvidos.
Isso se soma à sensação de que a figura carismática de Bergoglio corre o risco de obscurecer tudo o que existe entre ele e o povo. Segundo essas críticas, é como se existissem Francisco e os fiéis, com a Igreja e os episcopados reduzidos a comparsas.
A projeção internacional
As tensões se reverberam na Conferência Episcopal Italiana (CEI), imersa no dualismo entre o presidente, Angelo Bagnasco, e o secretário, Dom Nunzio Galantino, desejado por Francisco; e no confronto pela reforma da Cúria e o controle das finanças vaticanas.
O "ministro" George Pell, um cardeal australiano de modos, no mínimo, apressados, deve acertar as contas com uma velha guarda dura e perplexa com a concentração de poder que está sendo delineada. É uma preocupação que Bergoglio parece ter parcialmente acolhido, limitando os poderes de controle de Pell sobre as instituições econômicas da Santa Sé.
Mas, por mais importantes que sejam, os problemas italianos são apenas um fragmento da estratégia de Francisco. A sua projeção internacional implica um desafio mais profundo e ao menos igualmente insidioso: o de impedir que ele seja retratado e definido segundo categorias que distorcem a sua identidade e os seus objetivos.
Em busca de um equilíbrio
Por isso, percebe-se a vontade de reequilibrar uma imagem desequilibrada, às vezes instrumentalmente, seja "de direita", seja "de esquerda", por mais que sejam definições impróprias relacionadas com a Igreja. No círculo da Casa Santa Marta, a residência vaticana de Francisco, a preocupação está presente há algum tempo.
Encontra-se lá um eco explícito também nas palavras impiedosas com as quais o professor Carriquiry fotografa os inimigos do pontífice. "Os reacionários também concordam e se alimentam", escreveu, "com a figura falseada que pretendem difundir em ambientes eclesiásticos e midiáticos de progressismo 'liberal'. O que os aproxima é a imagem de um papa que quer mudar os ensinamentos doutrinais e morais da Igreja e que é contraposto aos seus antecessores... Acabarão, em ambos os lados, por tratá-lo como 'populista', conceito ideológico que só serve para confundir".
Um Bergoglio revolucionário, ortodoxo e "centrista": o perfil que deve se consolidar, depois de dois anos de pontificado quase triunfal, é mais do que nunca esse.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco: em busca de equilíbrio entre elogios e acusações de populismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU