24 Fevereiro 2015
Martin Kopp é responsável pela defesa da justiça climática na Federação Luterana Mundial (FLM). Está de retorno a Genebra, onde recém terminou a primeira das quatro sessões de negociações intermediárias que levarão à 21ª Conferência das Partes (COP) da ONU, que se desenvolverá em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro próximo. A sociedade civil se mobilizou pelo clima. Quais são as próximas datas? Haverá três momentos importantes de mobilização em 2015. O primeiro será a partir do fim do mês de maio e por todo o mês de junho, em todos os países do mundo. Tratar-se-á de verdadeiramente fazer pressão sobre os negociadores, que iniciarão então a sessão de discussões mais cruciais, aquela de junho, que se desenvolverá em Bonn.
A entrevista é de Louis Fraysse, publicada por Réforme, 18-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Naquela data, os 195 Estados-participantes terão – esperamos! – comunicado os seus empenhos nacionais de redução dos gases com efeito serra. Teremos, portanto uma avaliação do ponto em que nos encontramos, em nível mundial, com respeito ao objetivo de manter a 2ºC o aumento do aquecimento climático no horizonte de 2100. Se as propostas dos Estados são demasiado tímidas, estaremos ainda bastante longe da COP21, em Paris, em dezembro, para fazer que uma mobilização geral possa impelir aqueles Estados a apresentarem propostas mais ambiciosas.
Na França, o fim de semana de 30 e 31 de maio será o ponto culminante da mobilização da sociedade civil. Desenvolver-se-ão muitas iniciativas em todo o país, no quadro da Coalizão Clima 21, que reúne as redes e associações mobilizadas pela justiça climática.
Eis a entrevista.
E o segundo?
O segundo grande momento de mobilização será em setembro. Em nível internacional, a Assembléia geral da ONU terá forte “caráter” climático, simbolizado pelo discurso que o Papa deverá ter diante de todos os chefes de Estado. Será durante aquela assembléia que serão definidos os objetivos de desenvolvimento sustentável pós-2015 (dos objetivos do milênio para o desenvolvimento) que também deverão fazer parte da questão climática.
Na França, o fim de semana de 26 e 27 de setembro constituirá o momento central, em particular em torno da Alternativa Ile-de-France, a chegada a Paris do giro-tandem de 5000 km de Alternatiba e as grandes conferências organizadas pela France Nature Environement. Faltarão então dois meses para o encontro de Paris e será o último momento no qual se poderá tentar influenciar as posições nacionais em vista de um acordo.
O terceiro momento será precisamente a COP21, que se desenvolverá em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro.
E em nível das religiões?
Durante todo o ano, as mobilizações religiosas se sincronizarão com aqueles três momentos. Diversas iniciativas já começaram, como o jejum pelo clima. Peregrinações pela justiça climática partirão de diversas partes da Europa, a pé ou de bicicleta ou com outros meios de locomoção com baixa emissão de anidrido carbônico, para chegar a Paris no período da conferência de dezembro. Serão colhidas assinaturas em todo o mundo em todas as tradições religiosas e serão levadas a Paris. O movimento é global e está sendo atuada uma bela dinâmica.
As Igrejas são um lugar privilegiado de ação?
Certamente! No fundo, a questão inter-geracional é aquela do amor do próximo. Biblicamente, é errado imaginar o próximo numa perspectiva espacial ou temporal, mas podemos encarar pela analogia. A questão climática estende o amor do próximo até o extremo, porque se trata acima de tudo de amar qualquer um que ainda nem nasceu e que viverá a milhões de quilômetros!
As Igrejas podem apropriar-se deste desafio. Devem ser proféticas em palavras e em atos. Em palavras, para os dirigentes e para os seus membros, pondo em guarda sobre o que sucederá, a fim de que escolham a vida, a justiça e a paz. Em atos, empenhando0-se num caminho de transição ecológica institucional e pessoal.
Como explicar a distância entre o que afirma a ciência e o que põe em ato a política?
Mais que qualquer outra, a questão da mudança climática esclarece a nossa relação conflitiva com o tempo. Em nível político, estamos com demasiada frequência no breve termo, imposto pelo calendário eleitoral. Os problemas climáticos, opostamente, são um desafio a médio, longo ou também longuíssimo termo.
Porque a colocação em jogo é o futuro. Quando se fala de gerações, se pensa frequentemente em 2100. Mas nos seus trabalhos, o GIEC (Grupo intergovernativo de peritos [experts] s sobre a evolução do clima) olha muito além. E considera que as mudanças climáticas que estamos provocando terão efeitos para os próximos mil anos. Não se fala somente da próxima geração, mas de trinta, quarenta gerações futuras.
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“As Igrejas devem ser proféticas sobre as mudanças climáticas”, diz líder luterano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU