14 Fevereiro 2015
No futuro, quando os historiadores analisarem as personalidades políticas e religiosas da segunda metade do século XX e do início do XXI, seguramente deverão evidenciar duas, ambas formadas nas escolas dos jesuítas: Fidel Castro e o Papa Francisco.
A reportagem é de Enrique López Oliva, publicada no jornal Il Manifesto, 12-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No Chile, no início dos anos 1960, quando alguns líderes do Partido Radical, tradicionalmente maçons e anticlericais, declararam que a Ordem dos Jesuítas era "anacrônica", a revista jesuíta Mensaje respondeu assim no seu editorial: "Como se pode fazer tal afirmação quando um ex-aluno dos jesuítas fez a primeira revolução socialista da América?".
Se Fidel, com a Revolução Cubana, deu início a uma nova fase da história política da América Latina, o Papa Francisco, para muitos observadores, está dando passos rumo a profundas mudanças na Igreja Católica, passos que provocam alerta em grupos de poder conservadores, incluindo religiosos.
Assim, não admira que Fidel declare, como fez nos primeiros dias de fevereiro, ao se encontrar com o presidente da Federação de Estudantes Universitários de Havana, a sua "profunda admiração" pelo pontífice e reconheça o peso do Vaticano e da Igreja Católica na atual fase de derrubada do último muro da Guerra Fria entre EUA e Cuba.
Desde janeiro do ano passado, o mais velho dos Castro não aparecia em público, e as suas últimas imagens remontam há seis meses. Esses fatos alimentaram os rumores – e as esperanças – provenientes de ambientes anticastristas de Miami de que o líder da Revolução Cubana estivesse morto. O longo encontro com o líder estudantil Randi Perdomo García e as relativas fotos demonstram não só que Fidel está vivo, mas também que continua se ocupando de uma série de grandes temas, científicos e ambientais, além de políticos. Temas que também dizem respeito a questões de natureza filosófico-religiosa sobre o futuro da humanidade.
Também referindo-se a essa circunstância, o frei dominicano brasileiro Betto, depois de ter se encontrado há alguns dias com o Comandante para uma discussão ampla, relatou a "profunda admiração" expressada por Fidel Castro pelo Papa Francisco.
O Frei Betto, em 1985, depois de uma série de conversas com o mais velhos dos Castro, escreveu o livro Fidel e a religião, em que o líder da Revolução Cubana afirma acreditar "que, mais de uma vez, há jesuítas de esquerda" e em que reitera com orgulho que foi formado "no colégio Belen dos jesuítas em Havana, o melhor de toda a Cuba".
Como outros alunos do colégio Belen, eu também me detive diante das fotos da escola, incluindo a de Fidel, dos presidentes da Academia Literária Gertrudis Gómez de Avellaneda, dirigida por um professor do colégio, em que o futuro líder revolucionário deu as suas primeiras provas de grande oratória.
Para muitos observadores, o Papa Francisco está dando um novo impulso aos acordos do Concílio Vaticano II, convocado em 1962 pelo Papa João XXIII, para muitos, o "papa bom", para os conservadores, o "papa vermelho".
Graças à iniciativa de Francisco e à obra de mediação (ainda em andamento) do Vaticano e da Igreja Católica cubana, produziu-se a histórica aproximação entre EUA e Cuba, anunciada pelos presidentes dos dois países no último dia 17 de dezembro.
Muitos, na ilha, católicos ou não, esperam que essa "harmonia" possa favorecer um próximo encontro em Cuba entre as duas grandes personalidades, fato que representaria um acontecimento histórico para a América Latina.
No processo em curso, que ambas as partes reconhecem como "longo, complicado e difícil", a mediação da Igreja e do movimento leigo católico cubano são fundamentais, especialmente no que diz respeito ao pedido, claramente feito pela Casa Branca, de que, no processo de reformas da ilha, a "sociedade civil" também deve participar. Nela, a presença da Igreja é consolidada e se apresenta como um fator crítico, mas não hostil ao socialismo cubano.
No jornal dos jovens do Partido Comunista cubano, Juventud Rebelde, contando sobre o seu longo encontro com o líder máximo, Perdomo não mediu palavras: "Fidel é fora de série", um líder que tem poucas comparações e que é "lendário", não só na América Latina.
O mesmo se poderia afirmar do Papa Francisco, que acaba de dar um passo importante para o subcontinente latino-americano, declarar como "mártir" da Igreja o arcebispo salvadorenho Arnulfo Romero, assassinado em 1980, enquanto oficiava uma missa, por ordem da extrema direita militar, que via no prelado um defensor da luta de libertação do seu povo.
O papa, assim, aprovou o processo de beatificação de Romero, que se espera ser concluído dentro de um ano, saudado como um "fato histórico" por aquela parte do clero católico latino-americano envolvido em políticas sociais.
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Fidel, Francisco e a escola dos jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU