10 Fevereiro 2015
“Tens um tablet?” “How do you cope with difficulties?” (Como te viras com dificuldades?), “Gosto de jogar no gol”. São algumas das frases dirigidas a sete jovens com deficiências pelo Papa Francisco, conectado via web-câmara do Vaticano, na conclusão do quarto congresso mundial da rede internacional de escolas Scholas Occurrentes.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 05-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
A dirigir-se ao Papa através da plataforma Google Hangout foram de Madri, Isabel, cega, Elvira e Alicia, afetadas pela síndrome de Down, da Índia Manoj, surdo, do Brasil Pedro, com uma patologia congênita que lhe mutilou algumas articulações e do Nebraska, nos Estados Unidos, Isaias, com dificuldades de aprendizagem. O Papa Francisco respondeu da aula nova do sínodo, encerrando o congresso desta iniciativa, que se desenvolveu de segunda até hoje, dedicada neste ano ao tema ”responsabilidade social e inclusão”, do qual participaram peritos de quarenta países e 400 mil escolas (coligou-se via web um instituto em Moçambique). A iniciativa mantém a educação dos jovens, sobretudo aqueles com deficiências, através da interação entre diversas comunidades e disciplinas (arte, esporte, tecnologia).
“Cada um de nós tem um tesouro dentro de si”, disse o Papa que falou sempre em espanhol: “Não escondam o tesouro que cada um de nós tem. Às vezes é encontrado logo, outras vezes não, precisamente como no jogo do tesouro. Mas, uma vez encontrado é preciso compartilhá-lo com os outros”. Bergoglio agradeceu aos jovens “porque vocês ajudam a todos nós a entender que a vida é um tesouro, mas somente se o damos aos outros. Todos vocês tem como que uma latinha; deveis abrir esta latinha e fazer sair o tesouro que está dentro”.
Na troca de informações com cada um dos jovens, emergiram os temas mais disparatados. Pedro disse que espera uma prótese que lhe permita andar de bicicleta e jogar futebol. “Como reages se te fazem um gol?”, perguntou Bergoglio. “Estou feliz por jogar e estar com meus amigos”, respondeu. E o Papa: “Nos dás uma lição, o que conta não é vencer, mas jogar com os outros”. Alicia, uma telecâmera na mão, contou ao Papa que gosta de cinema e perguntou ao Papa se ele gosta de descarregar as fotos no PC. “Queres a verdade?”, respondeu Bergoglio. “Sou um desastre (a colorida expressão argentina é “tronco”, ndr) com a máquina, não sei manejar o computador... Que vergonha, hein?” Elvira disse que lhe agrada o canto e explicou ao Papa que sua cantora preferida é a star argentina Violetta. “Primeiro, não enraivecer-me, depois encontrar o modo de vencer a dificuldade, e se não posso superá-la, perseverar para ter a possibilidade de superá-la. Não devemos jamais amedrontar-nos diante da dificuldade. Somos capazes de superá-la. Só precisamos de tempo, inteligência e coragem, sem medo”. Manoj, fã de Bruce Lee, perguntou ao Pontífice qual é a ajuda das Scholas: são ”pontes”, respondeu o Papa, que ajudam a comunicar: “Quando nos comunicamos, não permanecemos sós com os nossos limites”.
O Diretor mundial de Scholas Occurrentes é José Maria del Corral, o “referente” no Vaticano é o chanceler das pontifícias academias das Ciências e das Ciências sociais, o monsenhor argentino Marcelo Sanchez Sorondo e existe esta realidade por trás de iniciativas como a partida pela paz, da qual participaram, no passado mês de setembro no estádio Olímpico, glórias do futebol como o argentino Javier Zanetti. À rede aderiram 400 mil escolas. Também hoje no Vaticano, além de empreendedores (Google) e representantes de jornais e telejornais, saudaram o Papa esportistas como a campeã de hokey Luciana Aymar, enquanto o presidente do Barcelona Josep Maria Bartomeu lhe presenteou uma camiseta da esquadra catalã.
“Uma coisa que me preocupa muito é a harmonia”, disse o Papa Francisco na conclusão da cerimônia. “É preciso criar compreensão de diferenças, aceitar as diferenças, valorizá-las de modo que se harmonizem, não se fragmentem”, enquanto hoje “o pacto educativo, a família, a Igreja, a pátria, a cultura... se rompeu. O que significa que tanto a sociedade, a família, as diversas instituições delegam a educação aos agentes educativos, aos docentes, que geralmente são mal pagos e devem encarregar-se desta responsabilidade, recriminando com as instituições que tropicaram”. E, ao invés, é necessário “recriar harmonicamente o pacto educativo”, com o empenho de todos, envolvendo todas as atividades (“a cultura, o esporte, a ciência”) e todas as dimensões (“mente, mãos, coração”), recuperando, e pondo em comunicação, as próprias tradições históricas e populares (“A cultura italiana, por exemplo, não pode renegar Dante como seu fundamento, a cultura argentina não pode renegar Martin Fierro, o nosso poema fundador”), e valorizando tanto a “dimensão lúdica” (“O livro da Sabedoria diz que Deus jogava”), quanto a “beleza” (“Procurar em cada um de nós a beleza que nos fundamenta: a nossa arte, música, pintura, cultura literária, não podemos criar a harmonia se não temos a percepção da beleza”).
Para Bergoglio, “este é o desafio: problemas existem muitos, somos tentados sim, cada ação incorre na tentação de ser freada, de corromper-se, de desviar-se, mas existe o trabalho conjunto e a vigilância de cada um que ajudam a reconstruir e harmonizar o pacto educativo: as crianças são o nosso futuro”.
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Francisco fala via web com jovens deficientes: cada um tem dentro de si um tesouro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU