13 Janeiro 2015
Alessio Virgili, executivo-chefe da Quiiky, uma empresa italiana de viagens LGBT, está oferecendo passeios que veem a arte dos Museus do Vaticano sob a perspectiva LGBT.
A entrevista é de Michael T. Luongo, publicada pelo jornal The New York Times, 12-01-2015.
Eis a entrevista.
De onde veio a ideia para esses passeios e qual é o público?
Sou um grande amante da arte e da história clássica e dos mitos. Na Grécia e na Roma antigas, a homossexualidade era praticada abertamente, mas a minha pesquisa me levou a descobrir fatos que eu não conhecia (sobre o Renascimento). Decidi, com os nossos guias turísticos e alguns historiadores e críticos de arte, criar rotas que revelariam esses aspectos que costumam ser omitidos nos passeios turísticos tradicionais. A maioria dos participantes de nossos passeios são pessoas LGBT, normalmente turistas estrangeiros que sabem mais do que os italianos sobre essas questões.
Quais são alguns dos segredos que as pessoas descobrem?
Para entender os heróis da Antiguidade ou as obras dos artistas é necessário conhecê-los a fundo, sem omitir nada de sua vida privada. Por exemplo, falamos sobre Michelangelo. Ele era um católico devoto e, ao mesmo tempo, homossexual, com uma sensação constante de culpa e conflitos internos que se refletem em suas obras. Quando olhamos para o "Juízo Final" da Capela Sistina, nossos guias não deixam de mostrar as duas figuras masculinas no topo à direita, que se beijam para comemorar a ascensão ao céu. Em Milão, contamos o caso de Leonardo da Vinci com seu discípulo Salai, que talvez tenha inspirado a representação de São João Batista ao lado de Jesus em "A Última Ceia".
Tecnicamente, estes passeios não têm a aprovação formal do Vaticano.
É verdade. Nossos passeios são feitos com guias credenciados, mas sem a aprovação formal do Vaticano. Estamos em um país livre e o que dizemos tem fundamentos. O noticiário da Itália até agora não criou nenhuma polêmica, e nós não recebemos queixas do Vaticano.
Qual é a sua opinião sobre o Papa e como ele está afetando o turismo gay em Roma?
Ele conseguiu reformar parte de um grande poder que achávamos que não poderia ser mudado. Nós, italianos, estamos orando para que a nova liderança política do país possa ter a mesma força e imediatismo do Papa reformista. Com certeza a igreja do Papa Francisco vem trabalhando duro no marketing, mas partimos de um ponto em que, há muitos anos, a igreja não se importava mais nem com as aparências. Esta abertura está afetando boa parte do turismo LGBT em Roma, a capital de um país que ainda não conseguiu produzir uma lei para proteger casais não casados, homossexuais e heterossexuais, enquanto o resto da Europa tem leis para o casamento gay.
Quais são seus lugares gays favoritos e que você recomendaria em Roma?
Roma começou a oferecer muitas opções para a comunidade LGBT, como a rua gay na frente do Coliseu (Via San Giovanni em Laterano) e a casa noturna Cow Killer (Muccassassina). No verão, há um grande evento, que recebe mais de 4.000 pessoas por noite, de quinta a sábado, de junho a setembro: o Gay Village.
Quais são as coisas ao estilo "em Roma, faça como os romanos" que os visitantes não devem perder?
Mais pessoas precisam conhecer o lado moderno de Roma, como o bairro EUR, com seu Palazzo della Civiltà Italiana, e o Foro Italico, com seu Stadio dei Marmi, com suas estátuas de nus de mármore. Sim, este último tem uma história diferente; foi construído por Mussolini. Temos também o museu de arte moderna Maxxi. No verão, aconselho visitar o Castelli Romani, um grupo de cidades nas montanhas ao redor de Roma. Elas são muito bonitas, medievais e com vistas panorâmicas, paisagens naturais, muitas em lagos vulcânicos. São uns dos lugares favoritos entre os romanos, especialmente nos fins de semana, para desfrutar do ar puro.
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Empresa propõe "visão gay" de museus do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU