14 Janeiro 2007
O segundo Fórum Mundial de Teologia e Libertação acontecerá em Nairóbi, Quênia, de 16 a 19 de janeiro de 2007. O tema será Espiritualidade para um outro mundo possível.
Para falar das expectativas do Fórum, entrevistamos por e-mail do frei capuchino, Luiz Carlos Susin.
Para Susin, a importância de realizar o FMTL e o Fórum Social Mundial na África seria, de certa forma, como "voltar para a mãe África". "Nas atuais circunstâncias do mundo a África tem uma profundidade de tradições e recursos dos quais todos desejamos beber", completou.
Confira a programação completa do II Fórum Mundial de Teologia e Libertação no sítio: http://www.wftl.org/selecao.php
Susin é doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, é professor na PUC-RS e na Ecola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Estef), em Porto Alegre.
IHU On-Line - Quais as principais expectativas com relação ao II Fórum Mundial de Teologia e Libertação em Nairóbi?
Luiz Carlos Susin - Para nós, da América Latina, a principal expectativa se concentra na voz e no rosto da África. Mas há outras também, sobretudo ligadas ao exercício do diálogo inter-religioso e à convivência e convergências da diversidade.
IHU On-Line - Qual a importância de realizar Fórum Mundial de Teologia e Libertação e o Fórum Social Mundial na África?
Luiz Carlos Susin - De certa forma é como "voltar para a mãe África". O nosso fórum de Teologia segue o caminho do Fórum Social Mundial, que, além de Porto alegre, teve uma edição em Mumbai, na Índia. Com razão, os africanos reclamavam à realização em algum país africano. Nairóbi foi a melhor opção do ponto de vista prático. Por diversas razões, de ordem etnográfica, cultural, social. Nas atuais circunstâncias do mundo a África tem uma profundidade de tradições e recursos dos quais todos desejamos beber.
IHU On-Line - Como se chegou à escolha do tema "Espiritualidade para outro mundo possível"?
Luiz Carlos Susin - O Fórum Mundial de Teologia e Libertação adota o mesmo slogan e o mesmo horizonte utópico do Fórum Social Mundial : "Outro Mundo é Possível". Mas focaliza as possibilidades próprias de contribuição. Como a diversidade, inclusive religiosa, aparece hoje como um grande desafio à convivência e à paz, a consulta feita a partir do primeiro forum apontou para a questão da espiritualidade, que, por sua vez, se enraíza na experiência humana do divino. É algo suficientemente abrangente e ao mesmo tempo tem especificidade. Se nós não tratarmos disso, quem vai tratar?
IHU On-Line – Quais são as características de uma espiritualidade para outro mundo possível? Que tipo de espiritualidade o mundo que sonhamos necessita?
Luiz Carlos Susin - É justamente esta pergunta que levamos para Nairóbi e que esperamos aprofundar e debater lá. Hás sintomas de crise institucional e de relevância de todas as religiões, de todas as formas que até agora estavam circunscritas a áreas culturais. Mas há também um reflorescimento da experiência espiritual e, sobretudo, um crescimento das buscas espirituais. Por outro lado, necessitamos superar a tentação de fundamentalismo em todos os níveis, e para isso uma espiritualidade diaologal, que integre a diversidade certamente será crucial.
IHU On-Line – Em que sentido a religião e a espiritualidade podem contribuir para a edificação de um mundo melhor?
Luiz Carlos Susin - Estamos compreendendo com suficiente clareza que a experiência espiritual é como energia atômica, para o bem e para o mal. Não é automática, e nossas escolhas e o cultivo humano decidem a direção que ela toma. De modo geral, não só no cristianismo, as religiões, sobretudo as memórias fundadoras, lembram que a religião é uma "faca de dois gumes", que pode dar vida, mas também, pela inércia e pelo esclerosamento das suas formas, pode matar a partir do espírito. Daí a necessidade de discernimento e de gestos libertadores inclusive na área das religiões.
IHU On-Line – Quais as principais novidades desta edição do Fórum em relação às anteriores? Em que ele mais inova?
Luiz Carlos Susin - Esta segunda edição do Fórum Mundial de Teologia e Libertação está buscando se aproximar da metodologia do Fórum Social Mundial , incluindo mais workshops e comunicações com inscrições amplamente abertas, embora dentro de uma criteriologia de princípios. Nesse sentido o Fórum Social Mundial também tem uma carta de princípios. Outra aspecto é a participação de delegações de movimentos ou de organizações engajadas em transformações sociais que vão trazer sua reflexão para workshops dentro do Fórum. Será um fórum mais "híbrido" do que a primeira edição.
IHU On-Line – Qual o novo paradigma que representa o Fórum Social Mundial e como esse paradigma pode ser aplicado na realidade, no cotidiano dos teólogos e demais participantes do Fórum Mundial de Teologia e Libertação ?
Luiz Carlos Susin - O Fórum Social Mundial é a vitrine de outra globalização possível, a partir de movimentos e organizações sociais que têm uma visão e ações internacionais, que se conecta na forma de rede ou de teia, que tem raízes locais e populares. Nesse sentido tece realmente um novo paradigma de sociedade mundial, que acolhe os clamores da própria terra na direção da ecologia e do cuidado ecológico, das minorias ausentes no paradigma do liberalismo guiado pelo capitalismo ainda triunfante, do humanismo colocado em primeiro lugar.
Evidentemente isso tem a ver com a sacralidade da vida e da história humana sobre a terra, com a dimensão religiosa dos povos e com o reconhecimento do divino no humano. Teólogos e teólogas não podem ficar indiferentes, pelo contrário: são chamados a ser intérpretes dos caminhos de Deus no atual momento de nossa casa redonda, a terra.
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Fórum Mundial de Teologia e Libertação: Espiritualidade para um outro mundo possível. Entrevista especial com Luiz Carlos Susin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU