14 Abril 2021
"O controle social está 'automatizado'. Cada vez mais seres humanos são 'apenas' peças secundárias.", escreve Camila Paese Fedrigo, mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
Eis o artigo.
Há duas tendências que são reforçadas, hodiernamente, na terceira fase da modernidade jurídico-política na relação entre Direito e Sociedade. Cresce, num ritmo alucinante a busca pela certeza e precisão das máquinas, de toda parafernália robótica, artificial e sistêmica para a operação do mundo “livre de aborrecimentos trazidos pelos seres humanos” (sic).
Cresce, também, de forma tão assustadora, a dimensão da subjetividade humana, do imaginário, do simbólico, que engloba desde a estrutura psicoafetiva do inconsciente até as ideologias dominantes, como o poder do espetáculo, da ideologia e do discurso.
O ponto de entrecruzamento dessas duas tendências se verifica na oferta frenética de filmes de ficção científica que articulam seres alienígenas, máquinas antropomórficas com inteligência artificial de um lado, e de outro lado, no lugar dos seres humanos “normais” (sic), uma equipe de proto-humanos como elfos, anões, hobbits, orcs etc. Entre esses dois grupos estão os super-heróis – muitos deles são metade gente e metade alienígena ou máquina.
Eis que assim o ser humano normal nunca esteve tão secundarizado na cultura ocidental, pois consegue atuar apenas como coadjuvante ou até como mero figurante – e no chamado “mundo real” a situação não é nada melhor. As pessoas têm, no papel, mais direitos, mas boa parte deles não são efetivamente implementados pelo próprio descarte social em curso, particularmente no mundo do trabalho, mas que já perpassa as fronteiras, atingindo em cheio os relacionamentos interpessoais.
Assim, se denota o crescimento do controle social como utopia e como materialidade: controle social numa dimensão 360 graus, ou seja, de cima para baixo – na tradicional visão de que as elites, via poder político controlam o “povão”, mas também de baixo para cima, os esforços da accountability (responsabilidade), bem como os riscos como visibilidade e invisibilidade e o crescimento da exceção como os efeitos da junção pelo espetáculo.
Porém, pense, leitor: o controle social está... DESCONTROLADO!
A globalização e o aumento da tecnologia da informação e comunicação têm produzido efeitos nocivos no poder dos Estados Nacionais no sentido de controle, tanto para o controle social de cima para baixo – não se sabe mais bem o que é a parte de cima depois do advento da “nuvem”- quem está no controle social de baixo para cima – especialmente com o advento das redes sociais, mídias alternativas etc. O controle social está “automatizado”. Cada vez mais seres humanos são “apenas” peças secundárias.
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Espetáculo Voraz: anões, orcs, hobbits, churrasco de carne humana e ensaios fotográficos com defuntos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU