15 Janeiro 2020
Ao lado do Papa Francisco, existe quem trabalhe na linha de cintura para tirar-lhe o cargo. Chama-se Robert Sarah, o cardeal africano que em Roma trabalha para Bergoglio, à frente da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos, mas que na França está entre os principais opositores das suas ideias. O prelado da Guiné de 79 anos - relata Il Fatto Quotidiano - já se imagina como o primeiro "papa negro" e, tirando vantagem de suas origens africanas, muitas vezes concede entrevistas contra o acolhimento de migrantes, uma manobra para contestar frontalmente a mensagem do Papa sem poder ser acusado de racismo. Sarah, entre os muitos ofícios, também inclui a publicação de vários livros. Textos financiados todos pela extrema direita anti-Francisco, aquela parcela do povo que deseja a queda e a demissão do Santo Padre.
A reportagem é publicada por Libero, 08-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Reprodução da capa do livro
Le Soir approche et déjà le jour baisse
Le Soir approche et déjà le jour baisse (A noite se aproxima e o dia está terminando, em tradução livre) é o título da série, composta por três publicações, que atraiu a atenção da direita católica e islamófoba. Não só, esses três livros foram realizados com a ajuda da editora Fayard e escritos a quatro mãos com Nicolas Diat, figura controversa do catolicismo francês. Diat, ex-conselheiro de Laurent Wauquiez (Les Républicains de Sarkozy), é o jornalista que mais frequentemente tomou na mira o presidente Emmanuel Macron, e Philippe de Villiers, o político de extrema direita cortado pela mídia por plágio e imprecisões.
O cardeal africano desfruta de um apoio que não passa despercebido: dos assessores de imprensa Philippe de Villier e o próprio Diat, ambos ligados à Opus Dei ou ao movimento contra o casamento homoafetivo "La Manif pour tous", ao núncio do Vaticano em Paris, Luigi Ventura, ainda ligado aos grupos mais extremistas da Igreja Católica, como ainda a Opus Dei e os legionários de Cristo. Também são numerosos os jornalistas que escrevem resenhas favoráveis dos livros de Sarah, a maioria próximos de Marine Le Pen ou Marion Maréchal Le Pen. Em 2015, Sarah proferiu um discurso sobre a "besta do apocalipse" pronta para destruir a igreja. Ele estava se referindo à "ideologia de gênero", das uniões homossexuais e dos casais gays. A ameaça LGBT para o cardeal está no mesmo nível do terrorismo islâmico. Pena que na vida privada Sarah esteja cercado por vários homossexuais, o mais conhecido dos quais é Ventura.
Embora Sarah e Diat digam que os livros publicados pela Fayat tenham sucesso, é difícil acreditar que sejam "best-sellers surpresa com 250.000 cópias". Difícil até certo ponto. De acordo com três fontes diferentes próximas ao dossiê, mais de 100.000 cópias foram compradas por atacado por mecenas e fundações para distribuí-las gratuitamente na África. Uma bela vantagem também para o cardeal Sarah, que tem direito à sua porcentagem sobre o preço de capa. Fontes diplomáticas dizem que esses volumes são efetivamente distribuídos na África, em países como o Benin. Sarah também tem relações com outras organizações ultraconservadoras que teriam adquirido os livros. Do Dignitatis Humanæ Institute ligado a Steve Bannon, ao Fundo Becket para a Liberdade Religiosa, passando pelos Cavaleiros de Colombo e pela National Catholic Prayer Breakfast. Na Europa, no entanto, são firmes as relações com a associação de Marguerite Peeters, uma militante extremista belga, antigay e antifeminista. "Em 2015, compramos de Fayard 10.000 livros de Sarah em francês para distribuí-los na África, o continente de origem do cardeal", explica um porta-voz dos Cavaleiros de Colombo.
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Papa Francisco, o cardeal africano Sarah e os bastidores sensacionais da França: “Como remam contra ele” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU